A miopia – distúrbio visual cuja principal característica é a dificuldade de ver de longe – tornou-se cada vez mais prevalente em todo o mundo, refletindo as mudanças significativas nos comportamentos de estilo de vida, principalmente no que diz respeito ao uso excessivo de telas e ao tempo reduzido das atividades ao ar livre.

Estes comportamentos afetam, principalmente, crianças, adolescentes e jovens adultos, população em que a miopia é cada vez mais prevalente. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2050, mais da metade da população mundial será míope. No Brasil, a estimativa é que até 2040, o número de pessoas com alta miopia deve aumentar 84%, passando de 6,6 milhões para 12,2 milhões.

O que nem todo mundo sabe é que a miopia aumenta o risco de desenvolver o glaucoma, principal causa de cegueira irreversível em todo o mundo.  Um estudo chamado Blue Mountains Eye Study descobriu que míopes baixos (-1,0 D a -3,0 D) tinham um risco duas vezes maior de glaucoma em comparação com não míopes, enquanto míopes moderados a altos (-3,0 D ou pior) tinham um risco três vezes maior.

A progressão do grau da miopia, cada vez mais comum na população infantojuvenil, é outra questão preocupante. Isto porque  a cada 1 grau de aumento da miopia, o risco de glaucoma aumenta em 20%, principalmente em pessoas com alta miopia.

Outro dado importante é que a miopia axial crescente, aquela em que há aumento da distância entre a parte de trás e a frente do olho, está associada a um risco ainda maior de surgimento de glaucoma.

A miopia elevada está entre os fatores de risco que favorecem o aparecimento do glaucoma, ao lado de idade avançada, hipertensão arterial, diabetes e hereditariedade. 

Por que a miopia está associada a um risco maior de desenvolver glaucoma?

De acordo com a oftalmologista Maria Beatriz Guerios, a associação entre miopia e glaucoma primário de ângulo aberto (GPAA) está bem estabelecida. “Os estudos ao longo dos anos apontaram que esta relação é mais comum em pessoas com graus mais altos de miopia, mas também é importante em graus médios”.

A relação entre glaucoma e miopia não está totalmente esclarecida. “Mas, a miopia está relacionada a um globo ocular mais alongado. Estas características anatômicas em olhos de pessoas míopes podem impactar em algumas estruturas, como retina, esclera e nervo óptico, aumentando o risco de danos glaucomatosos”, explica a especialista em glaucoma.

Pacientes com alto grau de miopia, acima de 5 graus, têm maior probabilidade de desenvolver o glaucoma crônico. Mais frequente, esse tipo não oferece sintomas nas fases iniciais da doença e pode ser diagnosticado pelo exame de pressão ocular e fundo de olho, que analisa o nervo óptico.

Já o glaucoma agudo ocorre quando a pressão do olho sobe de forma abrupta e o paciente refere sintomas como muita dor no olho, visão turva e pupila dilatada, por exemplo. Nesse caso, é necessário procurar um pronto socorro para o controle urgente da pressão ocular, com risco de perda da visão.

Dificuldade no diagnóstico do glaucoma em pessoas com miopia

O diagnóstico do glaucoma em pessoas com miopia é um desafio para os oftalmologistas. Em muitos casos, a miopia pode causar alterações no campo visual e no nervo óptico, sem que isto esteja relacionado ao desenvolvimento de um glaucoma.

“Outro aspecto é que em alguns pacientes a pressão intraocular (PIO) está dentro dos parâmetros normais. Lembrando que o aumento da pressão dentro dos olhos é o principal fator de risco para os danos glaucomatosos”, alerta a especialista.

Felizmente, hoje existem exames que podem ajudar a fechar o diagnóstico como a OCT (tomografia de coerência óptica), a campimetria, entre outros. De qualquer maneira, é crucial que estes resultados sejam interpretados por oftalmologistas especializados em glaucoma.

“O objetivo do tratamento do glaucoma, independentemente se é causado ou não pela miopia, é prevenir a progressão da perda visual. Em muitos casos, os oftalmologistas optam por iniciar o tratamento do glaucoma em pessoas com miopia, mesmo quando não existe uma conclusão a respeito do diagnóstico”, comenta Dra. Maria Beatriz.

Míopes devem frequentar oftalmologista com mais frequência

Em resumo, a miopia é considerada uma epidemia global que preocupa os especialistas, devido ao fato de que este erro refrativo aumenta o risco de desenvolver doenças graves, como o glaucoma. Desta forma, a recomendação é que a partir do diagnóstico da miopia, o acompanhamento com o oftalmologista seja frequente.

“Para além disto, é fundamental reduzir o tempo em frente às telas e em atividades que exijam o uso da visão de perto por muito tempo. Por fim, é importante incentivar as atividades ao ar livre, bem como àquelas em que se usa mais a visão de longe do que a de perto”, finaliza Dra. Maria Beatriz.

Segundo a oftalmologista Márcia Keiko Tabuse, o controle rigoroso da miopia em crianças é fundamental para não alcançar graus altos com risco de glaucoma e perda da visão durante a fase adulta.

“Visitas de rotina ao oftalmologista desde a primeira infância, o uso comedido e regrado de dispositivos móveis, como smartphones, tablets e outros tipos de telas, e o estímulo às atividades ao ar livre consistem em estratégias importantes de prevenção à progressão da miopia”, aponta a especialista.

Uso de óculos ou lentes de contato pode corrigir miopia

Uma vez diagnosticada, a doença pode ser corrigida, quando necessária, por meio do uso de óculos ou lentes de contato. Adicionalmente, a implantação da correção adequada e/ou das terapias, também colaboram para conter o provável avanço de um quadro já existente”, afirma Dra. Márcia.

A médica oftalmologista destaca a eficiência de alternativas não invasivas, como é o caso das lentes de óculos de alta tecnologia e que já são opções importantes para a redução da miopia infantil.

“As pessoas com a miopia axial, quando passam a fazer uso contínuo desse tipo de lente, podem ter uma média de 60% na desaceleração da progressão da miopia, pois a estrutura da lente permite simultaneamente desacelerar o crescimento do globo ocular e proporcionar uma visão mais clara”, afirma.

Com Assessorias

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