A “língua presa”, conhecida nos termos médicos como anquiloglossia, é uma anomalia congênita que que atinge de 2,8% a 10,7% dos bebês, segundo estudos internacionais da área médica. Ela ocorre quando o freio ou frênulo lingual, que é a membrana embaixo da língua responsável por prender o órgão na boca, é menor que o normal ou posicionada muito próximo da ponta da língua.

Essa condição em que o frênulo lingual é curto, espesso ou resistente dificulta a movimentação da língua.  A origem pode ser genética ou por traumas, e atinge bebês e adultos. No caso de bebês, o frênulo curto, o chamado “freio da língua” pode comprometer a sucção do bebê, dificultando a amamentação.

Este é o caso de Ravi, filho os influenciadores Viih Tube e Eliezer, que aos dois meses será submetido a uma cirurgia de correção na língua: a frenectomia. O procedimento também foi realizado na filha mais velha do casal, Lua.

Nos dois últimos anos, a divulgação do procedimento por personalidades conhecidas, como a filha do jogador Neymar e o filho do ator Julio Rocha e da influenciadora Karoline Kleine ajudam a trazer visibilidade para essa condição ainda subdiagnosticada e destaca a conscientização sobre a importância do diagnóstico precoce e do acompanhamento especializado, que tem crescido nos últimos anos.

Aos 2 meses de idade, Ravi, filho da influenciadora Viih Tube, passará pelo procedimento, assim como a irmã (Foto: Reprodução do Instagram)

A língua presa pode levar ao desmame dos bebês mais cedo que o tempo ideal, pois gera dificuldade da pega correta do seio e dor na mãe ao amamentar. Essa situação impacta a qualidade de vida do recém-nascido e da mãe, trazendo insegurança e angústia à família. Por isso, queremos apoiar e orientar os pais com informações médicas”, afirma a presidente da Academia Brasileira de Otorrinolaringologia Pediátrica (ABOPe), Cláudia Schweiger.

Teste da linguinha indica a necessidade da cirurgia

No Brasil, desde 2014, vigora a Lei nº 13.002 que tornou obrigatória a realização do Protocolo de Avaliação do Frênulo da Língua, também conhecido como “teste da linguinha”, com o objetivo de identificar precocemente o problema em recém-nascidos.

De acordo com o Ministério da Saúde, o exame permite detectar se há alguma alteração de tamanho e anatomia na membrana embaixo da língua capaz de dificultar a amamentação e interferir no desenvolvimento da fala, mastigação, deglutição e dentição ao longo do crescimento da criança.

Diante do diagnóstico positivo para anquiloglossia, especialistas recomendam o procedimento cirúrgico de incisão no freio lingual, chamado de frenectomia ou frenulotomia. A cirurgia, considerada extremamente simples e eficaz,  tem aumentado, chegando a crescer 800% em todo o mundo, segundo a nota técnica da Associação Brasileira de Cirurgia Pediátrica, de 2022.

Segundo a presidente da Academia Brasileira de Otorrinolaringologia Pediátrica (ABOPe), Cláudia Schweiger, países como os Estados Unidos registraram um aumento expressivo nos diagnósticos e cirurgias de frenectomia, resultado da maior conscientização sobre os efeitos dessa condição.

Estudos antigos indicam que cerca de 8% das crianças com menos de um ano apresentam impactos relacionados à anquiloglossia, mas acredita-se que o número seja ainda maior devido a diagnósticos equivocados ou tardios, além da falta de ciência executada na área”, explica.

Otorrinolaringologistas alertam para aumento de cirurgia de língua presa em bebês

O cenário acendeu um alerta em organizações representativas da comunidade médica, entre elas a Academia Brasileira de Otorrinolaringologia Pediátrica (ABOPe), a qual avalia que é preciso ter cuidado com esta intervenção. Em nota técnica, divulgada em 2023, a entidade questionava critérios considerados controversos no ‘teste da linguinha’.

A entidade chama a atenção para o fato de que a frenectomia “não é isenta de riscos, ainda mais em locais sem estrutura adequada, como consultórios de profissionais não médicos, que não têm treinamento para lidar com complicações da anestesia local em bebês e complicações do procedimento em si (sangramento, infecção)”.

Segundo os especialistas, nem todos os casos em que se identifica a língua presa justificam a cirurgia. Além disso, um diagnóstico definitivo nos primeiros dias de vida não é o recomendado, uma vez que os bebês ainda estão aprendendo a mamar e as mães a amamentar, sendo que a língua presa pode não ser a causa de uma eventual dificuldade que eles estejam enfrentando nessa tarefa.

Como otorrinolaringologistas, vemos casos de dificuldade de amamentação por outras causas que não correspondem ao freio lingual curto, como malformações das vias aéreas e alterações neurológicas que, em um primeiro momento podem não ser fáceis de diagnosticar e exigem avaliação e acompanhamento médico”, esclarece.

A médica enfatiza a necessidade e a importância da avaliação anatômica e funcional especializada antes da indicação de qualquer intervenção. “Os riscos de complicações não se limitam somente ao período imediatamente após o procedimento, mas também a estágios posteriores durante o processo de cicatrização. Além disso, é fundamental reconhecer situações em que o procedimento é contraindicado e poderia piorar sintomas respiratórios”, esclarece a presidente da ABOPe. 

Cirurgia com anestesia local e pós-operatório com repouso de 24 horas

Segundo o médico Paulo Mendes Junior, otorrinolaringologista do hospital IPO, o procedimento é simples, mas requer alguns cuidados. 

O corte do frênulo, chamado popularmente de ‘freio na língua’ é simples. Ele pode ser feito em consultório, até mesmo por dentistas. Mas para melhor conforto do paciente, pode ser orientado a realizar no centro cirúrgico para a necessidade da sedação anestésica, que seria uma máscara que libera anestésico o inalatieio. O paciente tem alta no mesmo dia e não precisa passar por internamento”, detalha o especialista.
frenectomia tem anestesia local, com diferentes técnicas disponíveis para o corte do “freio”. Na cirurgia, as fibras devem ser removidas completamente, de forma bem cuidadosa para que o “freio” não apareça novamente e uma nova cirurgia seja necessária. Em alguns casos pode ser necessário fonoaudiológico.
O pós-operatório é tranquilo e inclui repouso de pelo menos 24 horas. Indicamos também a ausência de atividades físicas nos sete primeiros dias, além do consumo exclusivo de alimentos líquidos, pastosos e frios nos três primeiros dias. Por ser um procedimento rápido e que exige cuidados básicos no pós-operatório, é interessante que ele seja realizado nos primeiros meses de vida”, completa Paulo Mendes Junior.

‘Meu filho tem língua presa. E agora, doutor?’

Para orientar os pais e profissionais da saúde sobre o que fazer em casos identificados com língua presa, a ABOPe e a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF) promoveram a Campanha Nacional da Otorrino Pediátrica, com o tema: “Meu filho tem língua presa. E agora, doutor?” em setembro de 2023.

Para propagar conteúdos educativos e sanar dúvidas nas redes sociais, o evento sobre causas, sintomas, questões ligadas ao diagnóstico e tratamentos disponíveis para essa condição. Durante todo o mês de setembro foram compartilhados vídeos, posts e lives com médicos da Otorrinolaringologia Pediátrica e Pediatria para instruir a população sobre o assunto.

Capacitações voltadas à área médica também vêm sendi realizadas pela ABORL-CCF. Para acompanhar as informações, basta acessar os perfis de Instagram abopediatrica e otorrinoevoce.

Com Assessorias

Shares:

Posts Relacionados

1 Comment

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *