O programa  Fantástico do último domingo (3/12), na TV Globo, exibiu uma reportagem expondo a investigação sobre o famoso ‘joguinho do tigre – uma espécie de jogo caça-níquel online que vem sendo amplamente divulgado por influenciadores e artistas.

A polêmica em torno da atividade, considerada ilegal por autoridades brasileiras, envolve celebridades como Neymar, Felipe Neto, Mel Maia, Carlinhos Maia, Viih Tube, clubes como Santos Futebol Clube, Botafogo de Futebol e Regatas e Atlético-GO, entre outros. Alguns chegaram a defender publicamente a empresa para a qual prestaram serviços.

A polícia chegou a apreender carros e dólares em espécie de dois influenciadores, acusados de participar de um grupo que, em seis meses, movimentou cerca de R$ 12 milhões. Além da exploração de jogos de azar, os influenciadores são investigados ainda por suspeita de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.

O pano de fundo da investigação é o drama das perdas consideráveis, da instabilidade financeira, do risco do vício em jogos de azar, além de outras questões como o enriquecimento ilícito por parte dos organizadores, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e outros crimes.

A compulsão desenfreada e o estrago psicológico 

Já pelo ponto de vista da saúde mental, o drama é ainda maior: a compulsão desenfreada e o estrago psicológico na mente do indivíduo. Tudo isso nos leva a refletir sobre como nosso cérebro se comporta diante desse tipo de vício e o que pode ser feito para não cair nessas armadilhas ilusórias.

O primeiro ponto que deve ser analisado é a facilidade que os indivíduos possuem de criar expectativas. Criamos expectativas em relação ao outro e em relação a nossas conquistas futuras. O grande problema é que nem tudo é previsível. Acreditamos em tudo que vemos.

E é exatamente esse o nosso maior ponto nevrálgico: sofremos por não controlar tudo.  Quando algo foge ao nosso controle, entramos em estado de desequilíbrio que afeta tanto o comportamento, quanto o emocional.

Isso porque a necessidade em ter o controle das situações nas mãos é um sentimento intrínseco de nossa espécie.  Tudo o que é externo e nos foge ao controle, gera insegurança e medo e nos faz sentir vulneráveis.

‘Ganho’ pode ser de impotência, fracasso e culpa

No caso em questão, estamos falando de uma situação de perda, muitas vezes, perda de somas consideráveis. Fato é que, ninguém joga e investe para perder, e quando isso ocorre entra em cena sensações incômodas como: a impotência, o fracasso e a culpa.

Emocionalmente falando, o indivíduo que perde suas economias e se frustra com o resultado negativo, se vê angustiado ao ponto de não conseguir sentir-se em paz, o que gera transtornos emocionais relevantes, como perda de sono, perda de apetite, estresse generalizado, ansiedade, tristeza profunda, depressão e até síndrome do pânico.

Emoções que retroalimentam o estresse, levando-o a vivenciar sensações de cabeça pesada, irritabilidade, alterações de humor, entre outros gatilhos que justificam a desestruturação mental, em função da compulsão por jogatinas.

Um outro fator bem relevante de todo esse processo é o sentimento de culpa. Uma culpa que distorce a realidade dos fatos e acelera o complexo de inferioridade e a baixa autoestima, o que pode estimular, através de atitudes desesperadoras, a busca da falsa ilusão do alívio e do auto perdão.  Essa impotência também
pode estar ligada à vergonha de se expor e mostrar sua fragilidade para parentes e amigos próximos.

O que desencadeia a compulsão e como freá-la

A compulsão precisa ser estudada para compreender qual gatilho é o desencadeador do processo. Se não tratado a tempo, essas questões podem levar a consequências mais desastrosas como o envolvimento em outros vícios como cigarro, álcool, comida e drogas ilícitas, na tentativa de descontar a frustração em excessos. A solução não é se culpar e se esconder. Não adianta fugir dos problemas.

Devemos encarar de frente para conseguir perceber sua dimensão e desta maneira, verificar de que forma poderão ser solucionados. Portanto, o “Jogo do Tigre” ou qualquer outro parecido, não farão milagre financeiro na vida de ninguém. É puro marketing e enganação. Muitas pessoas caem nas garras da ilusão dos ganhos fáceis e no prazer provocado pela compulsão do jogo e da competição.

Enfim, a dependência pode afetar qualquer um. É preciso entender a natureza do vício para modificar o padrão, já que muitos dependentes perdem a condição até mesmo de tomar atitudes próprias, agindo de forma negativa, necessitando de apoio e compreensão para sua reabilitação.

O vício em jogos pode surgir de forma inesperada na vida de uma pessoa, porém é totalmente possível vencer e se livrar do abismo financeiro instalado. O primeiro passo é ter a consciência de que se está doente, querer e buscar ajuda terapêutica para desenvolver proteções psíquicas, fortalecer a autoestima, o foco e a determinação, além de obter acolhimento de uma rede de apoio. 

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