O chamado “efeito porta”, que consiste em falhas permanentes de memória, é uma condição que ocorre quando estamos num estado cognitivo vulnerável, com a mente muito sobrecarregada. O termo foi criado pelo cientista cognitivo Tom Stafford, que estuda lapsos de memória e acontece quando a pessoa esquece o que ia fazer quando entra em outro ambiente. Ou seja, a memória falha, literalmente, ao cruzar uma porta.
Dois estudos – um, da Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos, e outro e da Bond University, na Austrália, publicado na BMC Psychology – comprovam a tese: quando passamos por uma porta, podemos ter lapsos de memória em relação a objetos, coisas materiais.
O típico exemplo: você vai ao quarto procurar o fone de ouvido para ouvir música enquanto lava a louça. Ao entrar no quarto, você esquece completamente o que ia pegar. Tenta lembrar, não consegue e desiste, voltando para a louça sem o fone de ouvido. Ou pior: quando entra no quarto, seu celular toca na sala e você vai atender. No trajeto cozinha-quarto-sala, a mente já esqueceu da louça e do fone de ouvido.
Por que isso acontece?
O que desencadeia o esquecimento é a transição de um ambiente para outro. O simples ato de entrar ou sair por uma porta representa uma espécie de limite de evento na mente. Quando você muda de ambiente, muda também o foco de atenção, compartimenta a memória e a lembrança se torna mais difícil.
Entretanto, o Efeito Porta só ocorre se estivermos num estado cognitivo vulnerável, com a mente muito sobrecarregada. Diariamente, ficamos expostos a uma quantidade enorme de estímulos, nos motivando a fazer várias tarefas simultaneamente.
O problema é que o cérebro não está acostumado a receber tantos estímulos e a processar inúmeras informações de uma vez só. O resultado é o esgotamento mental, podendo saturar o córtex cerebral, gerando uma mente hiperpensante, agitada, impaciente, com bloqueio criativo, baixo nível de tolerância e, claro, prejuízos na memória.
Como evitar o Efeito Porta?
Como a condição está diretamente relacionada ao esgotamento mental, é imprescindível melhorar os hábitos de vida, incluindo atividades que beneficiem corpo e mente, como dormir bem, ter uma alimentação equilibrada, reduzir o consumo de álcool, ter vida social, ler, ouvir música, entre outras.
A meditação também desempenha um papel importante no equilíbrio pessoal e contribui para o relaxamento e o descanso em um nível mais profundo, podendo ser praticada em casa, inclusive numa pausa do trabalho.
Atividade física é fundamental. Segundo um estudo publicado na Neuroimage e realizado em 51 homens e mulheres saudáveis, entre 18 e 55 anos; aqueles que apresentavam aptidão física mais elevada tinham um hipocampo mais firme e elástico e se saíram melhor nos testes de memória.
Técnicas para evitar os lapsos de memória
Há também várias técnicas para evitar os lapsos de memória. Confira:
– Relacione o que você quer lembrar com algum lugar, ou ainda agrupar informações importantes em uma sequência temporal, com começo, meio e fim.
– Evite que outro pensamento ocupe sua mente enquanto você estiver realizando uma tarefa. Pessoas com alto nível de concentração têm mais facilidade de memorização.
– Alguns jogos proporcionam uma melhora perceptível à memória, como xadrez, quebra-cabeça, palavras cruzadas, jogo da memória e o Genius.
– Assista a um episódio de uma série, ou um filme, e anote em seguida o maior número de detalhes que lembrar.
– Ouça uma história e conte a alguém da forma mais fiel possível.
– Visualize mentalmente o trajeto de sua casa para algum lugar da cidade.
– O estudo é um dos maiores estimulantes mentais. A leitura, principalmente, exercita a imaginação, o raciocínio e a memorização. Uma boa dica é resumir em texto o que foi lido ou estudado.
Psicoterapia pode ajudar
A forma como vemos o mundo e respondemos aos conflitos têm grande influência na saúde mental. Prova disso é que quanto mais pensamos em um determinado problema, mais nosso corpo responde com sintomas de estresse.
Uma maneira de ameniza-los é desenvolver formas saudáveis de lidar com as próprias emoções. Nesse sentido, a psicoterapia surge como uma aliada para o autoconhecimento, o autocontrole e a inteligência emocional.
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