A situação climática tem se apresentado bastante instável nos últimos tempos, com temperaturas que alternam entre ondas de calor e de frio. No entanto, com a chegada do inverno, o clima tende a ficar mais seco favorecendo o surgimento da Síndrome Respiratória Grave (SRAG). Cpm isso, cresce o número de casos de doenças respiratórias entre crianças, e uma das mais preocupantes é a bronquiolite, uma inflamação nos bronquíolos, pequenos canais dentro dos pulmões.
A doença afeta, principalmente, bebês com menos de dois anos, podendo evoluir para quadros graves que exigem internação hospitalar. A doença é causada por vírus como o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) causada principalmente pelo Vírus Sincicial Respiratório (VRS), mas também por outros vírus, como metapneumovírus, bocavírus, influenza, adenovírus, rinovírus e o SARS-CoV-2 (Covid-19).
Estes vírus afetam principalmente crianças de até dois anos de idade, que apresentam infecções das vias aéreas superiores (resfriados), pneumonias e bronquiolites, levando-as de forma mais frequente aos prontos-socorros. Dados da Secretaria de Atenção Primária à Saúde, do Ministério da Saúde, indicam que o VSR é responsável por cerca de 80% dos casos de bronquiolite e até 60% das pneumonias nos pequenos menores de 2 anos.
Estima-se que uma em cada cinco crianças infectadas pelo VSR necessite de atendimento ambulatorial, enquanto uma em cada 50 seja hospitalizada no primeiro ano de vida. Em 2024 foram registradas mais de 112 mil hospitalizações e 7 mil óbitos por SRAG em todo o país.
No Sabará Hospital Infantil, no período entre março e agosto, esse número chega a quase dobrar em relação aos outros meses do ano. Em 2024, entre os meses de janeiro e março, houve 519 casos de positividades de VSR, sendo que nos três meses seguintes esse índice superou mil casos. Só nos dois primeiros meses de 2025, foram identificados 174 casos de crianças que positivaram VSR.
Quando não levar o seu filho ao pronto-socorro neste inverno
Com a chegada do inverno, a corrida aos prontos-socorros pediátricos se intensifica, muitas vezes sem necessidade. A estação mais fria traz um aumento natural na circulação de vírus e agentes infecciosos, o que faz com que crianças tenham quadros respiratórios sucessivos ou sintomas que se arrastam por dias. Mas, nem todo sintoma é sinal de urgência.
Segundo a pediatra Anna Bohn, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria, é essencial que os pais saibam identificar quando é possível cuidar do filho em casa e quando realmente é preciso procurar atendimento de emergência.
O pronto-socorro está cheio de crianças com infecções respiratórias. Levar uma criança com sintomas leves pode não só ser desnecessário, como também perigoso, ela pode sair de lá mais doente do que entrou”, alerta.
A especialista lista quatro situações comuns em que o melhor a fazer é evitar o pronto-socorro e aguardar com calma em casa:
1. Primeiro dia de febre:
Na maioria dos casos, trata-se de uma infecção viral, que tende a se resolver sozinha. Se a criança tem mais de 6 meses, está bem e a febre responde a antitérmicos, o ideal é observar em casa. Ir ao PS nesse estágio inicial geralmente não muda a conduta e ainda aumenta o risco de contágio por outros vírus.
2. Tosse e coriza leves, sem outros sinais de alerta:
Coriza, mesmo esverdeada pela manhã, pode durar até 10 dias. Tosse leve pode persistir por até 3 semanas. Se a criança está ativa, sem febre e sem sinais como respiração acelerada ou falta de ar, os cuidados caseiros como lavagem nasal e inalação são suficientes.
3. Manchas ou bolinhas na pele, sem febre:
Erupções cutâneas leves, quando não acompanhas de outros sintomas, geralmente não representam urgência. Procure o pediatra em consulta agendada, mas evite o PS se a criança estiver bem-disposta.
4. Diarreia sem sinais de desidratação:
Quadros gastrointestinais virais são comuns e costumam se resolver sozinhos. O alerta maior é para o risco de desidratação principalmente quando há mais de 5 episódios por hora. Fora isso, a criança pode ser acompanhada em casa, com atenção à hidratação e alimentação leve.
A Dra. Anna reforça que o julgamento clínico é sempre importante e que os pais devem procurar atendimento médico caso notem piora no quadro, apatia, recusa alimentar persistente ou outros sinais de alerta. Mas, em grande parte das vezes, o tempo e os cuidados básicos são os melhores aliados.
“É importante desconstruir a ideia de que todo sintoma precisa ser resolvido com pressa. Em tempos de prontos-socorros lotados, bom senso também é uma forma de cuidado”, finaliza.
Como prevenir o vírus da bronquiolite
A bronquiolite é uma infecção viral que provoca inflamação e estreitamento das vias aéreas, dificultando a respiração e, por consequência, a chegada de oxigênio nos pulmões. Ela afeta especialmente crianças pequenas, que ainda têm o sistema imunológico imaturo. A bronquiolite tem maior incidência entre os meses de abril e agosto, quando a temperatura costuma ser mais baixa. Entre os principais sintomas da bronquiolite estão a respiração difícil e acelerada.
Como o bebê não consegue se alimentar direito, muitas vezes acaba precisando de internação até desobstruir as vias aéreas”, explica a infectologista pediátrica do Sabará Hospital Infantil, Flávia Jacqueline Almeida.
Identificar os sinais e agir rapidamente pode evitar complicações sérias. “O rápido enfrentamento e a terapia correta garantem a recuperação e evitam pioras. Não espere a situação se agravar para buscar ajuda médica”, finaliza a especialista.
A prevenção do VSR pode ser feita pela imunização ativa ou passiva. Para crianças não há vacinas disponíveis. Mas há a imunização passiva. Esta podem ser feitas pela vacinação do VSR na gestante, que irá produzir anticorpos e passar para o bebê dentro útero, de forma que ele estará protegido nos 6 primeiros meses de vida.
O Programa Nacional de Imunização anuncia que irá incorporar essa vacina para as gestantes. Aguardamos ansiosamente a data de início”, explica Débora Frois, coordenadora da UTI Pediátrica do Hospital e Maternidade São Luiz Campinas.
Além disso, existem anticorpos que podem ser aplicados nas crianças para prevenção. O palivizumabe é utilizado para crianças de maior risco para o VSR (prematuros, cardiopatas e pneumopatas) e é disponibilizado pelo SUS. O nirsevimabe pode ser utilizado para todas os bebês e o Ministério da saúde também irá incorporá-lo para as crianças de risco.
Bronquiolite: 5 alertas para proteger seu filho neste inverno
Com sintomas que se confundem com resfriados, doença respiratória pode evoluir rapidamente e exige atenção especial de pais e cuidadores
Veja abaixo cinco alertas importantes para proteger as crianças nesta temporada
1. Tosse, cansaço e respiração acelerada são sinais de alerta
Muitos pais confundem os sintomas iniciais com um simples resfriado. No entanto, a bronquiolite pode evoluir rapidamente e apresenta maior taxa de mortalidade entre os pequenos.
Fique atento a sinais como dificuldade para respirar, respiração ruidosa, peito ‘retraído’, cansaço excessivo, recusa para mamar e lábios ou rosto com coloração azulada. Esses sinais indicam agravamento e precisam de atendimento médico imediato”, reforça a pediatra.
2. Bebês saudáveis também estão vulneráveis
Mesmo crianças sem doenças crônicas podem desenvolver bronquiolite.
Embora condições como prematuridade ou problemas pulmonares aumentem o risco, qualquer bebê pode ser afetado, principalmente se estiver exposto a ambientes fechados, aglomerações e mudanças bruscas de temperatura”, alerta Frois.
3. Tratamento exige orientação médica
Não existe um remédio específico para curar a bronquiolite, e a automedicação pode agravar o quadro. “O tratamento inclui repouso, hidratação, lavagem nasal com soro fisiológico e, em alguns casos, o uso de broncodilatadores ou oxigenoterapia. Se houver infecção bacteriana associada, o médico pode prescrever antibióticos. Mas é fundamental que os pais não administrem medicamentos sem orientação médica”, explica a especialista.
4. Ambientes fechados e secos favorecem o contágio
Com as temperaturas mais baixas, é comum manter janelas fechadas e permanecer por mais tempo em locais sem ventilação, o que aumenta a proliferação de vírus.
“O ar frio e seco irrita as vias respiratórias e favorece a disseminação de vírus, como o VSR. Manter os ambientes arejados, evitar fumaça de cigarro e higienizar as mãos com frequência são atitudes que ajudam a reduzir o risco de infecções”, orienta a médica.
5. Vacinas são aliadas poderosas
Manter a caderneta de vacinação em dia é essencial para prevenir infecções respiratórias graves, como pneumonia, coqueluche e sarampo — doenças que também podem agravar quadros de bronquite e bronquiolite.
O nirsevimabe, anticorpo monoclonal que fornece proteção imediata contra o VSR, é uma nova ferramenta importante na prevenção, já que bloqueia a entrada do vírus nas células”, explica a médica do São Luiz Campinas. O imunizante está disponível na rede privada e foi incorporado recentemente ao Sistema Único de Saúde para públicos específicos.
Com Assessorias