A realização do pré-natal é essencial para acompanhar o crescimento e desenvolvimento do bebê, além da saúde da gestante. Por meio das consultas e exames regulares é possível identificar precocemente algumas doenças graves, como por exemplo, a Hérnia Diafragmática Congênita (HDC).

Eu nunca tinha ouvido falar dessa doença. Moro em Uberlândia (MG) e, durante um exame de ultrassom na 31ª semana, identificaram a hérnia. Inicialmente não sabíamos exatamente qual a gravidade do problema”, compartilha Fernanda Souza Alves de Oliveira Silva, mãe da pequena Eloah, que agora têm sete meses de vida.

A condição ocorre quando o músculo do diafragma (que separa o tórax do abdômen) não se fecha corretamente, ainda em fases muito iniciais do desenvolvimento do embrião, no começo da gravidez.

Isso faz com que os órgãos do abdômen cresçam dentro do tórax, prejudicando o desenvolvimento dos pulmões, o que diminui muito as chances de sobrevida pós-natal dessas crianças”, explica Fábio Peralta, coordenador da equipe de Medicina Fetal e de Cirurgia Fetal da Maternidade São Luiz Star, da Rede D’Or.

O alerta sobre a doença acontece na semana do Dia Internacional da Conscientização da Hérnia Diafragmática Congênita, celebrado em 19 de abril. Apesar de pouco conhecida, a HDC não é tão rara, acomete um a cada quatro mil fetos, e pode ser extremamente grave.

Cerca de 70% dos casos acontecem de forma isolada, ou seja, não há uma causa genética identificável nem outras alterações anatômicas associadas. “É uma alteração que acontece acidentalmente durante o desenvolvimento do bebê”, complementa Dr. Fábio.

Diante da hipótese de diagnóstico, Fernanda e o marido, Gilmar Justino Silva, foram orientados a buscar um hospital especializado em São Paulo, a Maternidade São Luiz Star.

Inicialmente viemos para fazer apenas um exame, e acabamos ficando mais de dois meses. Ao confirmar o diagnóstico, mesmo com a gestação já avançada, os médicos decidiram fazer a cirurgia com a Eloah ainda na barriga. Havia riscos, mas o procedimento salvou a vida dela”, lembra a mãe.

Como é feito o procedimento no útero da mãe

Fábio Peralta e a equipe de Medicina Fetal durante procedimento na Maternidade São Luiz Star (Foto Divulgação)

Nesta primeira intervenção é colocado um balão na traqueia do bebê para estimular o crescimento dos pulmões. O ideal é que isso ocorra ainda no segundo trimestre. Geralmente, após o nascimento, existe também a necessidade de uma série de cuidados muito específicos.

Foi um processo muito difícil, mas foram vitórias atrás de vitórias. Nos mantivemos fortes e fizemos tudo o que foi possível. Sou muito grata a todos os profissionais. Graças a eles, hoje estamos bem e em casa com nossa família”, celebra Fernanda, que tem outras duas filhas, Sarah e Pietra, de 13 e 6 anos de idade.

Eloah com sua família: Gilmar (pai), Fernanda (mãe), Sarah e Pietra (irmãs) (Foto arquivo pessoal)

Dr. Fábio Peralta alerta que o tratamento intrauterino, seguido de tratamento no nascimento e no período neonatal em centro altamente especializado aumenta consideravelmente a chance de sobrevida dos bebes com HDC.

Não podemos esquecer também do papel primordial da realização correta do pré-natal, para identificação precoce desta e de outras anomalias congênitas. Com exame de ultrassonografia no primeiro trimestre, com uma equipe capacitada, já é possível identificar o problema e começar a adotar as medidas necessárias para garantir a melhor atenção ao bebê”, ressalta o médico.

Comemoração da família e da equipe da Maternidade São Luiz Star no dia da alta hospitalar da Eloah (Foto arquivo pessoal)

Família do Murilo também comemora a cirurgia

A importância da Medicina Fetal também foi vivenciada pela família do Murilo, por exemplo, após a descoberta de uma malformação na 22ª semana de gestação – a hérnia diafragmática congênita. O menino precisou passar por duas cirurgias intrauterinas e, hoje, a família comemora a vida do pequeno herói.

Pensei várias vezes em desistir. Mas, vendo que tinha a possibilidade de salvar a vida do meu filho, lutamos e corremos atrás para que fosse feito o procedimento. Hoje, ao olhar a carinha do meu bebê, vejo o quanto tudo foi importante. Eu me emociono todos os dias com ele. Ele é uma bênção na minha vida, é tudo para mim”, conta a mãe, Eliane Lázara Barbosa Miranda, sobre os obstáculos enfrentados com o filho ainda no ventre.

O coordenador da especialidade no Vera Cruz Hospital, Renato Ximenes, explica que durante o desenvolvimento da gestação, o diafragma do Murilo não se fechou completamente. Por isso a necessidade das intervenções. “O diafragma é um músculo que separa a cavidade torácica (onde ficam os pulmões) da cavidade abdominal (em que se encontram órgãos como o estômago e o intestino).

Quando ele não se fecha por completo, forma-se um orifício, em que os órgãos da cavidade abdominal podem se deslocar para a cavidade torácica. Isso diminui o espaço para o desenvolvimento dos pulmões, que ficam ‘apertados’ em meio aos demais órgãos e não crescem de forma adequada.

Enquanto o bebê está no útero materno, isso não traz problemas, pois o pulmão não é utilizado nesta etapa da vida. Porém, assim que ele nasce e precisa dos pulmões, os impactos da hérnia diafragmática são percebidos. Quanto menores e menos desenvolvidos estiverem os pulmões, menores as chances de sobrevida do bebê”.

A primeira cirurgia do garoto foi realizada durante a 28ª semana de gestação: um pequeno balão foi inserido na traqueia e permaneceu ali até a 34ª semana, quando, em uma segunda cirurgia, foi retirado.

O procedimento é conhecido como cirurgia de oclusão e desoclusão traqueal. O balão faz com que o líquido produzido pelos pulmões permaneça ali na região, servindo como um tipo de ‘contraponto’ à pressão exercida pelos órgãos que ‘subiram’ pelo orifício no diafragma. Isso dá um ‘fôlego’ para que os pulmões se desenvolvam melhor, ampliando os prognósticos de um nascimento sadio”, esclarece Ximenes.

Com Assessorias

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