Após a cantora Gaby Amarantos, de 47 anos, revelar ter recorrido a uma lavagem intestinal profunda para emagrecer cerca de 14 kg, o assunto gerou ampla discussão nas redes sociais e na imprensa. A artista afirmou ter feito o procedimento com 300 litros de água e relatou: “A minha mente limpou, o meu corpo limpou e eu consegui emagrecer por conta desse processo”.

Para entender o fenômeno, a psicóloga Priscilla Leitner, especialista em comportamento e transtornos alimentares, analisou o impacto psicológico por trás da decisão e alerta sobre os riscos de associar práticas extremas a soluções rápidas de emagrecimento. Segundo ela, a escolha por métodos radicais como lavagens intestinais ou dietas de “detox” muitas vezes nasce de uma relação ruim com o corpo e a comida.

Quando a pessoa diz que quer se ‘limpar’, ela não está apenas falando de algo físico. Está tentando se livrar de sentimentos como culpa, vergonha, frustração ou a sensação de não se sentir suficiente. É um processo simbólico, emocionalmente carregado”, explica.

A especialista observa que o discurso de “purificação” corporal pode funcionar como uma tentativa de retomar o controle através do corpo. “É como se, limpando o corpo, a pessoa também limpasse os pensamentos e emoções que a incomodam, como a culpa. Mas o corpo não é o vilão, e sim a relação com o corpo e as emoções que precisam ser acolhidas, não expurgadas”, acrescenta.

Dra. Pri destaca que celebridades, ao compartilharem suas experiências de emagrecimento, podem influenciar comportamentos de risco. “Quando uma figura pública associa o emagrecimento a um procedimento radical e ainda o descreve como algo que ‘limpou a mente’, isso reforça a ideia de que existe um atalho emocional para o bem-estar, e infelizmente isso não existe. A saúde mental e física não se conquista em movimentos agressivos, mas por construção de um estilo de vida emocionalmente sustentável”.

A psicóloga explica que a pressão estética e o imediatismo digital intensificam a busca por resultados rápidos. “Vivemos a era da comparação. Muitas pessoas não querem apenas emagrecer, querem pertencer. E quando o emagrecimento vira sinônimo de valor pessoal, qualquer promessa de ‘cura’ imediata ganha força.”

Além dos riscos físicos já amplamente divulgados por médicos e nutricionistas, Dra. Pri alerta para os impactos psicológicos de práticas extremas:

  • Dependência emocional de rituais de purificação: a sensação de “alívio” após o procedimento pode se tornar viciante;
  • Reforço da culpa alimentar: o corpo é visto como algo a ser constantemente corrigido;
  • Autoimagem negativa: o indivíduo passa a vincular o bem-estar à “eliminação” de partes de si, e não à aceitação e ao autocuidado.
  • Relação com a comida pode oscilar entre o controle e descontrole, palco para possível compulsão ou comer emocional.

Essas práticas acabam perpetuando o ciclo de autocrítica e punição. A verdadeira transformação acontece quando a pessoa construí uma relação consigo mesma, um estilo de vida que realmente seja sustentável.”, reforça Dra. Pri.

Para a psicóloga, o foco deve estar em uma mudança da relação com o corpo e a comida, e não em métodos invasivos. “Precisamos trocar o discurso da limpeza pelo da reconciliação. O corpo não precisa ser ‘lavado’ para merecer amor ou cuidado. Ele precisa ser ouvido. O equilíbrio emocional é o que, de fato, abre caminho para hábitos sustentáveis e para o emagrecimento saudável”.

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Saiba mais sobre a lavagem intestinal profunda

A lavagem intestinal profunda, também conhecida como hidrocolonterapia, é um procedimento que irriga o intestino grosso (cólon) com grandes volumes de líquido para remover o conteúdo fecal.
Diferente de um enema comum, que atua apenas na porção final do intestino, a hidrocolonterapia visa uma limpeza mais extensa e profunda. O procedimento geralmente é realizado por um profissional de saúde qualificado (como um terapeuta de hidrocolonterapia) em ambiente controlado. 

Como funciona

  1. Inserção do equipamento: Um tubo pequeno e estéril é inserido no reto.
  2. Infusão do líquido: Uma grande quantidade de água filtrada, aquecida e em baixa pressão é bombeada para o cólon através do tubo.
  3. Liberação dos resíduos: O líquido e os resíduos fecais são expelidos por outro tubo conectado ao equipamento, sem que a pessoa precise se levantar.
  4. Repetição do processo: O ciclo de infusão e drenagem é repetido várias vezes até que o cólon esteja limpo. 

Para que serve

A lavagem intestinal profunda é indicada principalmente para:
  • Preparo para exames: Em procedimentos como a colonoscopia ou retoscopia, a limpeza intestinal é essencial para a visualização das paredes do cólon.
  • Tratamento da constipação severa: Pode ser utilizada para aliviar a constipação crônica, especialmente em casos de fecaloma (acúmulo de fezes endurecidas).
  • Preparação para cirurgias: A limpeza do intestino pode ser necessária antes de certas cirurgias. 

Riscos e ressalvas

É fundamental destacar que a hidrocolonterapia para fins de “desintoxicação” do corpo, remoção de “toxinas” ou emagrecimento é controversa e não é recomendada por muitos médicos. A prática, quando feita de forma inadequada ou por motivos sem comprovação científica, pode apresentar riscos à saúde: 
  • Danos à parede intestinal.
  • Infecções.
  • Alteração da flora intestinal benéfica.
  • Desequilíbrio de eletrólitos (sais minerais). 
Qualquer procedimento de lavagem intestinal deve ser realizado apenas sob orientação e supervisão médica. O corpo humano já possui mecanismos naturais para eliminar toxinas, como o fígado e os rins. 
Com Assessorias e pesquisas
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