A jornalista e colunista de política Cristiana Lôbo, de 64 anos, morreu nesta quinta-feira (11), após um longo tratamento contra o mieloma múltiplo, um tipo raro de câncer que acomete a medula óssea. Comentarista da Globonews e do Portal G1, ela tratava há alguns anos o tumor e estava internada desde o último fim de semana no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, após seu estado de saúde piorar por conta de uma pneumonia.

O Mieloma múltiplo tem taxa de incidência de 7,8 novos casos a cada 100 mil habitantes. A idade média dos pacientes é de 65 anos. A doença é ocasionada a partir de uma alteração do DNA dos plasmócitos, as células do sangue que são produzidas na medula óssea

“É um tipo de neoplasia maligna, em que há proliferação desordenada de uma célula do sangue, o plasmócito, que pode levar à anemia, alteração da função renal, hipercalcemia e lesões líticas nos ossos, com dores e fraturas patológicas”, disse à ‘Agência Brasil’ a hematologista Fernanda Queiroz Bastos, do Centro de Câncer de Brasília e do Hospital Universitário de Brasília (Cetro-HUB). 

Os sintomas mais frequentes são problemas ósseos, especialmente nas costas, quadris e crânio; baixas taxas de glóbulos vermelhos, brancos e plaquetas no sangue, o que pode causar fraqueza e tontura e maiores níveis de cálcio, gerando insuficiência renal e impactos no sistema nervoso, como dor intensa, dormência e fraqueza nos músculos.

O mieloma múltiplo também pode atrapalhar o fluxo do sangue para o cérebro, causando confusão, tontura e sintomas de um AVC. A doença pode prejudicar os rins, ocasionando até mesmo uma falha desses órgãos.

Segundo a Sociedade Estadunidense de Câncer, é difícil diagnosticar o mieloma múltiplo de forma precoce. Isso porque muitos sintomas podem aparecer somente quando o câncer já está em estágio avançado.

Formas de diagnóstico do mieloma múltiplo

Uma das formas de fazer o diagnóstico do mieloma múltiplo é por meio de exames de imagem, como radiografia óssea, tomografia computadorizada, tomografia por emissão de pósitrons, ressonância magnética e ecocardiograma.

Outras alternativas para o diagnóstico são os exames de laboratório, como o hemograma (que mede o nível dos glóbulos vermelhos), a bioquímica sanguínea (que mensura os níveis de creatinina, albumina e cálcio no sangue) e o exame de urina. Evitar a exposição a materiais químicos e tóxicos é um dos cuidados para prevenir esse tipo de câncer.

Entre os tratamentos estão terapias para problemas causados pelo mieloma múltiplo, como fraturas no osso, infecções e insuficiência renal. Também são terapias, assim como em outros tipos de câncer, a quimioterapia e o transplante de medula óssea.

“Algumas vezes, quando há lesão em coluna, com compressão neural, pode ser necessário cirurgia ou radioterapia de urgência”, complementa a hematologista Fernanda Queiroz.

Doença pode causar anemia, hematomas e hemorragias

De acordo com o Instituto Oncoguia, a doença ocorre quando as células plasmáticas se tornam cancerígenas e crescem fora de controle, afetando os plasmócitos, que são glóbulos brancos, cuja função é proteger o organismo contra infecções. A mutação de genes faz com que sejam produzidas células defeituosas. Os anticorpos deixam de ser produzidos pelo corpo e são criadas as chamadas “proteínas monoclonais”.

“As células plasmáticas produzem uma proteína anormal (anticorpo) conhecida por vários nomes, incluindo imunoglobulina monoclonal, proteína monoclonal (proteína M), espícula M ou paraproteína”, explica o Oncoguia.

De acordo com a entidade, no mieloma múltiplo, o aumento excessivo de células plasmáticas na medula óssea pode desalojar as células normais formadoras de sangue, levando a uma diminuição da contagem de células sanguíneas.

“A falta de glóbulos vermelhos pode causar anemia. O mieloma múltiplo também pode causar uma diminuição no nível das plaquetas (trombocitopenia), o que pode provocar hemorragias e hematomas. Outra condição que pode se desenvolver é a leucopenia (escassez de glóbulos brancos) que pode causar problemas no combate às infecções”, destaca.

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Outros problemas que a doença pode causar

Problemas ósseos e cálcio

Ainda segundo o Instituto Oncoguia, as células do mieloma também interferem nas células que ajudam a manter os ossos fortes. Os ossos vão reconstruindo-se constantemente. Normalmente, os dois tipos principais de células ósseas trabalham juntos para que isto aconteça. As células que geram um novo osso são denominadas osteoblastos. As células que destroem o osso velho são chamadas osteoclastos.

As células do mieloma produzem uma substância que envia um sinal aos osteoclastos para aumentar a velocidade de destruição óssea. Se os osteoblastos não recebem um sinal para formar um osso novo, o osso velho é destruído sem ter um osso recém-formado para substituí-lo, debilitando os ossos e provocando fraturas mais facilmente. Isso causa um aumento nos níveis de cálcio no sangue.

Infecções

As células plasmáticas anormais não protegem o organismo de infecções. Como já mencionado, as células plasmáticas normais produzem anticorpos que atacam os germes. As células normais do plasma são substituídas pelas do mieloma múltiplo, impossibilitando assim a produção de anticorpos para combater as infecções. Os anticorpos produzidos pelas células de mieloma não atuam no combate às infecções, porque são apenas cópias das células plasmáticas.

Problemas renais

O anticorpo produzido pelas células do mieloma pode danificar os rins, levando a problemas no órgão e insuficiência renal.

Exame de sangue pode detectar alterações

Gamopatia monoclonal

A presença de muitas cópias do mesmo anticorpo é denominada gamopatia monoclonal. Essa condição pode ser detectada no exame de sangue. Ter gamopatia monoclonal não significa ter mieloma múltiplo, porque ela ocorre em outras doenças, como na macroglobulinemia de Waldenstrom e alguns linfomas.

Além disso, algumas pessoas têm gamopatia monoclonal, mas ao contrário do mieloma múltiplo, não apresentam quaisquer problemas. Essa condição é denominada gamopatia monoclonal de significado indeterminado (MGUS). Pacientes com MGUS podem desenvolver mieloma múltiplo e outras doenças.

Gamopatia monoclonal de significado indeterminado

Na MGUS, as células plasmáticas anormais produzem muitas cópias do mesmo anticorpo. No entanto, essas células plasmáticas não formam um tumor ou massa real e não provocam qualquer um dos outros problemas observados no mieloma múltiplo.

Algumas pessoas com MGUS irão, eventualmente, desenvolver mieloma múltiplo, linfoma ou amiloidose. O risco é maior em pessoas com níveis de proteína elevados. Os pacientes com MGUS não necessitam de tratamento, mas devem ser acompanhados clinicamente.

Plasmacitomas solitários

Esse é outro tipo de crescimento anormal de células plasmáticas. Ao contrário de muitos tumores em diferentes localizações, como no mieloma múltiplo, existe apenas um tumor, daí o nome plasmocitoma solitário.

Na maioria das vezes, o plasmocitoma solitário se desenvolve no osso, onde é denominado plasmacitoma solitário ósseo. Quando o plasmacitoma se inicia em outros tecidos, como pulmões ou outros órgãos, é denominado plasmocitoma extramedular.

Mieloma múltiplo latente

É um mieloma assintomático que não causa nenhum problema. Pessoas com mieloma latente apresentam sintomas como, grande quantidade de células plasmáticas na medula óssea, alto nível de imunoglobulina monoclonal no sangue ou alto nível de cadeias leves (denominada proteína de Bence Jones) na urina.

Mas, essas pessoas têm contagens de sangue normais, níveis normais de cálcio, função renal normal, sem danos aos ossos ou órgãos e sem sinais de amiloidose. Os pacientes com mieloma múltiplo latente não precisam de tratamento imediato, porque a doença pode levar de meses a anos para se tornar mieloma ativo (sintomático).

Amiloidose de cadeia leve

Os anticorpos são compostos de cadeias de proteínas, 2 cadeias leves e 2 cadeias curtas mais pesadas. Na amiloidose de cadeia leve ou primária as células plasmáticas anormais produzem mais cadeias leves. Podem depositar-se nos tecidos, onde se acumulam.

Esse acúmulo de cadeias leves pode formar uma proteína anormal em tecidos conhecidos como amiloide. O acúmulo de amiloide em determinados órgãos pode provocar o mau funcionamento deles. Por exemplo, quando a amiloide se acumula no coração pode provocar arritmias, insuficiência cardíaca congestiva, com sintomas como falta de ar e inchaço nas pernas.

Os sintomas mais frequentes

Embora alguns pacientes com mieloma múltiplo não apresentem sintomas, os mais frequentes são:

Problemas ósseos

Dor óssea, em qualquer osso, porém mais frequente nas costas, quadris e crânio. Fraqueza óssea no corpo todo (osteoporose) ou onde houver um plasmocitoma. Fraturas, às vezes, devido a apenas um pequeno estresse ou lesão.

Baixas taxas sanguíneas

Quando as células do mieloma substituem as células normais produtoras do sangue da medula óssea, isso resulta numa falta de glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas. Uma quantidade reduzida de glóbulos vermelhos (anemia) causa fraqueza, falta de ar e tonturas. Uma quantidade menor de glóbulos brancos (leucopenia) diminui a resistência às infecções. A diminuição das plaquetas no sangue (trombocitopenia) pode causar sangramentos importantes.

Nível de cálcio no sangue aumentado

Quando as células do mieloma dissolvem o osso, cálcio é liberado, podendo aumentar o nível de cálcio no sangue (hipercalcemia). Isso pode causar desidratação e inclusive insuficiência renal. O aumento do cálcio também pode provocar constipação, perda de apetite, fraqueza, sonolência e confusão. Se o nível de cálcio é muito alto, pode levar ao coma.

Sintomas do sistema nervoso

Se o mieloma enfraquecer os ossos da coluna vertebral, eles podem fraturar e pressionar os nervos espinhais. Essa condição denominada compressão da medula espinhal pode causar dor súbita intensa, dormência ou fraqueza muscular. É considerada uma emergência médica e um médico deve ser imediatamente contatado. Se a compressão da medula espinhal não for tratada imediatamente, existe a possibilidade de paralisia permanente.

Danos nos nervos

Às vezes, as proteínas anormais produzidas pelas células do mieloma são tóxicas para os nervos. Esse dano pode levar a fraqueza e dormência e, às vezes, a neuropatia periférica.

Hiperviscosidade

Em alguns pacientes, grandes quantidades de proteína do mieloma podem fazer com que o sangue se torne espesso. Esse aumento da densidade, denominado hiperviscosidade, pode retardar o fluxo sanguíneo para o cérebro e provocar confusão, tontura e sintomas de um acidente vascular cerebral, como fraqueza em um lado do corpo e fala arrastada.

Os pacientes com esses sintomas devem entrar em contato, imediatamente, com seu médico. Para remover o excesso de proteína do sangue e reverter esse processo precisará ser realizado um procedimento denominado plasmaferese.

Problemas renais

A proteína do mieloma pode danificar os rins. Inicialmente, isso não causa nenhum sintoma, mas pode ser diagnosticado com um exame de sangue ou urina. À medida que os rins começam a falhar, eles perdem a capacidade de eliminar o excesso de sal, líquidos e detritos do organismo, podendo levar a sintomas como fraqueza, falta de ar, coceira e inchaço nas pernas.

Infecções

Os pacientes com mieloma são mais propensos a contrair infecções. Isso acontece porque o corpo é incapaz de produzir anticorpos para ajudarem no combate às mesmas. A pneumonia é uma infecção comum e grave em pacientes com mieloma.

Texto originalmente publicado no site da American Cancer Society, livremente traduzido e adaptado pela equipe do Instituto Oncoguia.

 

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