Famosas como Anitta, Larissa Manoela, Paloma Duarte e Giovanna Ewbank já revelaram sofrer com endometriose, uma doença que atinge cerca de 190 milhões de mulheres em todo o mundo, sendo mais de 7 milhões somente no Brasil, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Para o triênio 2023 a 2025, são esperados mais de 7 mil novos casos no país. Segundo estimativas da Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva, uma em cada 10 mulheres sofre com os sintomas da doença, que ocorre quando o endométrio começa a crescer fora do útero.

Segundo a Associação Brasileira de Endometriose, acomete entre 10% e 15% das mulheres em idade reprodutiva, sendo que 30% delas têm chances de ficarem estéreis. Já a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) reforça que a condição é frequentemente uma causa de infertilidade, afetando até 30% a 50% das mulheres com endometriose.

Apesar dos altos índices, a doença é negligenciada e invisibilizada; prova disso é que a endometriose não é considerada uma doença social, o diagnóstico é tardio (leva em média de 7 a 12 anos), os tratamentos pela rede pública são incipientes ou inacessíveis à grande maioria e as cirurgias restritas, quando realizadas.

Para lançar luz sobre esta causa, o Congresso Nacional se ilumina de amarelo entre os dias 12 e 15 de março pelo Dia Nacional de Luta contra a Endometriose (13 de março). O terceiro mês do ano é dedicado à campanha Março Amarelo, que visa promover a conscientização sobre a doença, que pode ser assintomática e impactar várias regiões do organismo.

Para marcar a adesão do Portal ViDA & Ação à campanha, iniciamos uma série especial sobre o tema, trazendo explicações de especialistas de casos de enfrentamento da doença. Confira a partir de hoje!

O que é endometriose e quais os sintomas?

Helizabet Salomão, membro da Comissão de Endometriose da Febrasgo, esclarece que a endometriose é uma condição inflamatória benigna caracterizada pelo crescimento do endométrio (tecido que reveste o útero) fora deste órgão. Ao longo da vida reprodutiva da mulher, as células do endométrio que revestem o útero descamam a cada menstruação.

“A endometriose é uma doença inflamatória causada por células do endométrio que, em vez de serem expelidas, migram no sentido oposto e caem nos ovários ou na cavidade abdominal, onde se multiplicam e provocam sangramento”, explica Vinícius Carruego, médico ginecologista.

Os sintomas mais comuns da endometriose incluem dores incapacitantes em forma de cólica durante ou mesmo fora do período menstrual (aquelas que não melhoram com analgésicos via oral e que interferem nas atividades diárias usuais) e dor durante a relação sexual (dispareunia), sangramentos intestinais e urinários durante a menstruação, inchaço abdominal, dor e ou sangue nas fezes e na urina, além de fadiga e cansaço extremo, entre outros.

Além da dificuldade para engravidar, a endometriose pode levar a menarca (primeira menstruação) precoce e menopausa tardia. “Outros sinais de risco são filhas de mulheres que já tiveram endometriose e alguns fatores imunológicos e antiapoptóticos”, alerta a médica Helizabert Salomão.

“Os principais sintomas clínicos da doença são dor pélvica crônica, alterações intestinais (dor à evacuação, sangramento nas fezes, aumento do trânsito intestinal durante o período menstrual), alterações urinárias e infertilidade. Embora estas manifestações sejam muito sugestivas de endometriose, não são exclusivas desta doença, por isso requer um diagnóstico diferenciado.”, explica ginecologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Rogério Tadeu Felizi.

Doença pode se espalhar por outros órgãos

Dr Felizi explica que na doença ginecológica o tecido que reveste o útero (endométrio) cresce fora do órgão e pode se espalhar pelos ovários, trompas, intestino, bexiga e outras partes do corpo, causando dor crônica, cólicas menstruais intensas, dor durante as relações sexuais e infertilidade.

“Devido à natureza inflamatória da doença, ela cria um ambiente adverso na pelve, podendo dificultar a fertilidade. Além disso, também pode afetar os ovários, prejudicando a ovulação e, em alguns casos, sendo uma possível causa de trabalho de parto prematuro”, explica a especialista da Febrasgo.

Por isso, a endometriose requer diagnóstico precoce para garantir que o tratamento ocorra nas fases iniciais, possibilitando o melhor desfecho às pacientes. O Março Amarelo tem como objetivo informar a população sobre os sintomas da doença, os impactos na qualidade de vida das pacientes e formas de prevenção e tratamento. Muitas vezes, o diagnóstico conclusivo da endometriose leva anos para ser definido, já que os seus sintomas podem ser confundidos com outras condições.

De acordo com o ginecologista, entre as formas de prevenção da endometriose estão a prática regular de exercícios físicos, a alimentação saudável, o controle do estresse e a realização de exames ginecológicos de rotina. Além disso, é importante que as mulheres conheçam o seu próprio corpo e estejam atentas a qualquer alteração em seu ciclo menstrual.

Como é feito o diagnóstico da endometriose?

O diagnóstico da endometriose é realizado por meio de dados clínicos e de imagens.  Frequentemente, o diagnóstico é iniciado com base na forte suspeita gerada pelos sinais e sintomas, em conjunto com uma história clínica compatível e outros exames menos invasivos.

O exame clínico apresenta limitações para esclarecer a extensão e profundidade das lesões, tornando necessária a utilização de outros métodos para auxiliar no diagnóstico. Reconhece-se cada vez mais que a identificação de lesões características durante a laparoscopia pode proporcionar um diagnóstico. Mas o diagnóstico definitivo da endometriose é obtido por meio da análise de tecido proveniente de uma biópsia de um órgão afetado. Entretanto, nem sempre é viável ou aconselhável realizar esse exame.

“Embora o diagnóstico da endometriose seja por meio de videolaparoscopia com biópsia, outros métodos não invasivos (clínico e imagem) são importantes para a decisão de como e quando realizar o procedimento cirúrgico. Atualmente o ultrassom transvaginal e a ressonância magnética de pelve são os exames utilizados na detecção da doença. Nos casos de endometriose profunda com comprometimento intestinal e urinário podem ser necessários também exames como colonoscopia e a urografia”, afirma Dr. Felizi.

O especialista também ressalta que a ultrassonografia com preparo intestinal vem sendo utilizada no diagnóstico da forma profunda, principalmente para comprometimento intestinal.

“O diagnóstico é feito levando em consideração uma combinação de fatores: a queixa clínica de cólica menstrual incapacitante e/ou dor durante a relação, a dor identificada no exame físico, e as descobertas suspeitas reveladas por meio de ressonância pélvica ou ultrassom transvaginal para mapeamento de endometriose. O diagnóstico definitivo é obtido por meio do exame anatomopatológico das peças cirúrgicas analisadas após a cirurgia. Em primeiro lugar, consulte seu ginecologista em caso da presença dos principais sintomas”, explica a Dra. Helizabet Salomão .

Tratamento com hormônios, anti-inflamatórios e cirurgia

O diagnóstico clínico e por imagem muitas vezes é suficiente para o início do tratamento medicamentoso, utilizando hormônios e anti-inflamatórios, que pode aliviar a dor da paciente. Mas desde o ano de 2008, a endometriose passou a ser vista como uma doença crônica, que exige conduta terapêutica a longo prazo.

“O tratamento leve é realizado com contraceptivos hormonais e tem apresentado resultados muito satisfatórios principalmente no controle dos sintomas e melhora da qualidade de vida”, afirma o médico.

No entanto, nos casos de endometriose profunda,  o tratamento medicamentoso pode levar a melhora dos sintomas e diminuição das lesões. Mas a opção preferencial é o tratamento cirúrgico minimamente invasivo, que visa a remoção de todos os focos da doença.

“Em situações em que a doença causa comprometimento anatômico e funcional, a cirurgia é a melhor indicação para remover os focos da doença, diminuindo a dor, proporcionando melhora na qualidade de vida e nos índices de fertilidade”, explica o ginecologista.

Inchaço abdominal pode ser causado por outras condições

Márcia Mendonça, vice-presidente da Comissão de Endometriose da Febrasgo, destaca que o inchaço abdominal pode estar relacionado a alterações intestinais e associado a outras condições, como a síndrome do intestino irritável, que é uma causa frequente de dor abdominal associada à endometriose.

O tratamento com medicamentos e a adaptação da dieta geralmente apresentam resultados positivos. Existem, inclusive, formulações hormonais que combatem a retenção hídrica e podem ser utilizadas com segurança no tratamento da endometriose.

Dia de Luta contra a Endometriose

Março Amarelo busca diminuir os diagnósticos tardios para, assim, acelerar o tratamento das mulheres afetadas pela doença. O movimento teve início em 1993, com a ativista americana Mary Lou Ballweg. Ela e mais sete mulheres realizaram uma Semana de Conscientização sobre o assunto, durante um evento da The Endometriosis Association.

Este ano, comemora-se dois anos da sanção da lei 14.324/2022, que instaurou o Dia de Luta contra a Endometriose, o 13 de março, além da Semana Nacional de Educação Preventiva e Enfrentamento à Endometriose. O dia escolhido é em homenagem à 1ª edição da EndoMarcha no Brasil e no mundo: 13 de março de 2014.

A ideia do projeto surgiu em outubro de 2014, quando a cidade de Campo Grande (MS) instituiu 13 de março como Dia Municipal de Luta contra a Endometriose – e a Semana Nacional. Em 2016, a lei foi para âmbito estadual, em Roraima, e, em 2019, a então deputada federal Daniela do Waguinho (União Brasil/RJ) encabeçou o PL 3047/ 2019, que deu origem à lei.

Com Assessorias

 

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