Nunca se falou tanto em trombose como vem ocorrendo desde da pandemia. É que, além de ser uma das principais complicações da Covid-19, esta pode vir a ser consequência de vacinas. Devido a estudos publicados ao redor do mundo sobre o novo coronavírus que confirmaram o aumento de alguns eventos adversos, entre os quais a trombose, também observada após a aplicação da vacina AstraZeneca/Oxford contra a Covid-19,  levantou-se a preocupação quanto aos cuidados e à imunização na população em geral.

É importante lembrar que não houve nenhum evento tromboembólico relacionado às demais vacinas disponíveis no Brasil e, ainda, que o risco do desenvolvimento de tromboses em pacientes infectados com o novo coronavírus é muito superior que as chances de incidência da doença pela vacinação”, explica Dania Abdel Rahman, nfectologista do Hospital Albert Sabin de SP (HAS).

Segundo ela, isso ocorre porque a trombose é um evento muito relacionado à Covid-19. “Devido ao processo inflamatório sistêmico causado pelo vírus, que predispõe à formação de trombos, observa-se nos pacientes portadores de Covid-19 uma prevalência muito maior de trombose do que na população geral”, completa Dra. Dania.

O que é a trombose

A trombose é a formação de coágulo dentro de um vaso, levando ao “entupimento” deste. Existem alguns fatores de risco que podem aumentar a chance de se formar esse coágulo, como, por exemplo, viagens longas, internações hospitalares, pós-operatórios de cirurgias e agora, recentemente, a Covid-19, porque a doença promove anormalidades na coagulação.

Trombose é uma condição em que se formam coágulos nas veias profundas do corpo, geralmente nas panturrilhas ou nos quadris. Os coágulos podem se espalhar e atingir os pulmões, o que pode ocorrer de modo silencioso e, muitas vezes se observa dor no peito, falta de ar repentina, batedeira no coração e até tosse com sangue. É a Embolia”, explica Paulo Salles, pneumologista do Consulta Aqui.

Médicos e pesquisadores acreditam que o coronavírus desencadeia um enorme descontrole nas células de defesa que reagem agredindo também os vasos sanguíneos. Uma vez que o vaso foi inflamado pelas próprias células de defesa, o organismo precisa resolver o problema e deflagra a coagulação. Os vasos se enchem de elementos de reparação e de cicatrização como as plaquetas que, nesse estado anormal de coagulação, começam a entupir os vasinhos dos pulmões. 

Sintomas e diagnóstico

A pessoa sente a falta de ar, as dores no peito, acelera o coração, porque o tecido normal do pulmão ficou impedido de fazer as trocas gasosas que são vitais para podermos respirar. Cerca de um terço das pessoas internadas nas UTI’s do Brasil desenvolvem esses problemas”, relata Dr Salles.

A presença de manchas nos pulmões chamadas de “vidro fosco” podem ser vistas na tomografia computadorizada de tórax, e denunciam a presença do coronavírus nos pulmões. Tomografias com o uso de contraste podem indicar se há ou não entupimento de vasos importantes da circulação pulmonar.

O tratamento é realizado com anticoagulantes, oxigênio, antibióticos e corticoides, entre outros. Fisioterapia respiratória, aparelhos especiais para ajudar na respiração como ventiladores mecânicos e ventilação não invasiva são empregados com frequência. Portanto, ao menor sintoma, é muito importante consultar seu médico e fazer o devido acompanhamento”, finaliza o médico.

Por que ocorre trombose durante e após a Covid?

O médico cirurgião vascular Bruno Naves, presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), afirma que as manifestações trombóticas na doença têm sido muito frequentes, não só durante a fase aguda, mas também em até quatro semanas após a recuperação da infecção.

No Sars-CoV-2 existe uma reação inflamatória intensa, que causa uma endotelite. O endotélio é a parede dos vasos, e ele precisa estar íntegro para que a passagem do sangue não crie turbilhonamentos. Quando ocorre uma inflamação, no caso do coronavírus, acontece uma imuno-trombose desencadeada diretamente no revestimento do vaso, o que pode ocorrer em qualquer região do corpo, em artérias ou veias, levando à formação de trombos”, afirma Dr. Naves.

No pulmão, que é o primeiro órgão onde o vírus entra em contato com o ser humano, pode acontecer inúmeras microtromboses que dificultam trocas gasosas, diminuem a oxigenação e facilitam o aparecimento de uma infecção que comprometa ainda mais a saúde do paciente. “Se afetar o coração, corre o risco de haver um infarto ou inflamações do músculo cardíaco, a miocardite. Se for no cérebro, a encefalite, que pode ocasionar um problema cognitivo posterior”, adverte o especialista.

Em casos extremos, as tromboses arteriais podem levar à perda do membro ou disfunção de órgãos internos. “A gravidade dos casos vai variar de acordo com o segmento vascular acometido. Se a trombose é arterial, irá causar a falta de circulação local ou isquemia, se for trombose venosa, ocasionará uma congestão local que irá dificultar a saída de sangue ou a drenagem”, explica Dr. Naves.

Acompanhamento vascular após alta da Covid

Recentemente, pesquisas publicadas no Brasil e em outros países como, China, EUA e Reino Unido, defendem que o Sars-CoV-2 pode aumentar a formação de coágulos nos infectados. E a trombose pode se manifestar não só durante a internação, nos casos mais graves, mas também nos casos mais leves, tratados em domicílio após a considerada cura. Por isso, é importante que pacientes façam o acompanhamento vascular mesmo depois de se recuperarem do vírus.

Para evitar que o paciente tenha uma manifestação trombótica durante a internação e tratamento do Sars-CoV-2, assim que se internar, ele é classificado de acordo com um protocolo de prevenção de trombose que é usado rotineiramente nos hospitais para avaliar o seu risco. E após a avaliação dos dados, se necessário, ele recebe uma medicação anticoagulante preventiva.

Dr. Naves sugere o monitoramento dos pacientes que tiveram sintomas mais acentuados por quatro semanas após terem passado pela recuperação da infecção pelo vírus, podendo se estender por seis meses, até que seja complementado com o resultado de novas pesquisas feitas durante o período. “A SBACV tem como missão levar informação de qualidade sobre saúde vascular para a população”, ressalta. Para buscar um especialista associado da entidade, por região, basta acessar o link.

Gestantes e puérperas são mais propensas à trombose

A trombose é uma patologia mais comum entre mulheres grávidas, com incidência de cinco a seis vezes maior do que nas mulheres que não estão no período gestacional. No pós-parto, as chances de trombose venosa podem ser até dez vezes maiores. O problema precisa ser diagnosticado e tratado o quanto antes, para evitar que a sua complicação mais temida- a evolução para uma embolia pulmonar, quadro grave que corresponde a razão de 10% das mortes de mães após o nascimento do bebê.

Apesar de não existir relação específica do surgimento de fenômenos tromboembólicos com determinadas comorbidades, grupos como gestantes e puérperas estão mais propensas a desenvolver trombose, caso tenham Covid-19, pois a gestação e o puerpério são condições que, por si só, favorecem a doença.

A cirurgiã vascular e endovascular Amanda Abe, do Consulta Aqui (Grupo HAS), explica que já havia a percepção do aumento do número de casos de trombose venosa profunda (TVP) em pacientes com diagnóstico de Covid-19 e, recentemente, um estudo publicado confirmou esse aumento em torno de 14,8%.

Pessoas com doenças genéticas que levam ao aumento do risco de trombose uso de anticoncepcionais ou reposição hormonal que contenham estrógeno, tabagismo, gravidez, mobilidade reduzida (internações hospitalares, pós-operatório de cirurgias, viagens longas, uso de gesso), idade avançada, câncer, história de TVP prévia, entre outros são fatores que contribuem para essa maior incidência”, comenta a médica.

Por que as grávidas estão mais suscetíveis?

De acordo com a cirurgiã vascular Bruna Naves Vaz de Oliveira, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), são diversos os fatores que levam ao desenvolvimento de coágulos sanguíneos (trombos) durante o puerpério, período de seis a oito semanas após o parto, em que a mulher passa por um processo de recuperação.

Três desses motivos são os mais frequentes: a dificuldade de retorno do sangue das pernas para o coração, a lesão ou inflamação dos vasos sanguíneos e a hipercoagulabilidade típica do período (aumento da capacidade de formação de coágulos no sangue).

No puerpério, todas essas condições estão presentes, especialmente após a cesárea ou se o parto for prematuro. Além disso, sabe-se que esse risco é ainda mais alto em mulheres que fumam, têm mais de 35 anos de idade e são obesas”, explica a cirurgiã vascular.

Os sintomas causados pela trombose que as mães precisam observar são inchaço nas pernas, dor e enrijecimento da musculatura da panturrilha, que podem levar à dificuldade de andar. É preciso também estar atenta às dores no peito e falta de ar súbita, que podem ser sinais de embolia pulmonar.

O quadro de embolia pulmonar ocorre quando um coágulo formado nos vasos sanguíneos em um local mais distante se desprende, em geral, proveniente dos vasos das pernas, e vai para os vasos do pulmão, o que é grave e pode ser fatal em até 20% dos casos”, explica.

Risco em mulheres com varizes

É importante lembrar, também, a importância do cuidado com a saúde vascular feminina, uma vez que 45% dos casos de varizes na população brasileira correspondem a esse público. O risco de complicações de varizes e trombose venosa ainda se intensifica em mulheres grávidas, em função de todas as alterações que ocorrem no organismo durante esse período.

O risco é ainda maior em pacientes que foram infectadas pela Covid-19, visto que essa condição aumenta a possibilidade de formação de trombos mesmo semanas a meses após os sintomas.

Dicas para prevenção da trombose

Bruna Naves ainda alerta para a necessidade de manter hábitos saudáveis, como:

  • Manter uma alimentação equilibrada;
  • Tomar, no mínimo, dois litros de agua por dia;
  • Praticar regularmente exercícios físicos de leve a moderado, com a movimentação das panturrilhas;
  • Evitar passar longos períodos sentada ou em pé sem se mover;
  • Manter o hábito de se deitar com as pernas elevadas entre 20 a 30 minutos por dia;
  • Não fumar durante a gravidez, pois o tabagismo representa perigo tanto para as mães quanto para os bebês;
  • Fazer um acompanhamento com angiologista ou cirurgião vascular para esclarecimento de dúvidas e para que sejam indicadas medidas cabíveis de prevenção.

Com Assessorias

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