Neste 25 de setembro, é celebrado o Dia Mundial do Pulmão, órgão do sistema respiratório responsável pelas trocas gasosas entre o ambiente e o sangue. Essa troca é essencial para a vida e qualquer alteração sofrida pelos pulmões pode comprometer outros órgãos.

A data é dedicada a chamar atenção para a importância da saúde respiratória e para o impacto das doenças pulmonares na qualidade de vida da população e também é uma oportunidade para ampliar a conscientização sobre a prevenção, diagnóstico precoce de doenças e hábitos saudáveis que ajudam a proteger e fortalecer a saúde pulmonar.

Entre as condições que mais preocupam especialistas está a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), uma condição inflamatória progressiva dos pulmões que dificulta a troca de oxigênio e impacta no ato de respirar causando sintomas respiratórios contínuos, como falta de ar mesmo diante de esforços mínimos, cansaço, pigarro e tosse.

DPOC, que afeta a capacidade pulmonar e reduz significativamente a qualidade de vida, é considerada a terceira causa de mortalidade no mundo e a quinta no Brasil, afetando milhares de brasileiros acima de 40 anos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a DPOC está entre as principais causas de morbidade e mortalidade no mundo, sendo responsável por cerca de 3,23 milhões de mortes em 20212.

A doença caracterizada pela obstrução persistente das vias aéreas, geralmente causada pela exposição prolongada à fumaça do tabaco ou poluentes ambientais. O principal fator de risco  da DPOC é o tabagismo, que contribui com 80% dos casos da doença.

Histórias reais reforçam a importância da prevenção e do cuidado com a doença, como é o caso da paciente Carla Comini, 62 anos, diagnosticada com DPOC há 10 anos, que compartilha um pouco da sua experiência após a descoberta da doença.

Fui fumante por mais de 30 anos, mas por incrível que pareça, meu movimento para parar de fumar iniciou-se mais pelo medo do câncer. Dois anos depois veio o diagnóstico da DPOC, e entendi que mesmo tendo parado de fumar os danos já estavam lá. Na maioria das vezes tinha tosse que atribuía a viroses. E lá no fundo, eu mesma sabia o que tinha causado isso, então, não tive problema para aceitar, só entendi que tinha que olhar para frente”.

Parei de fumar há 12 anos, mas ainda lido com as consequências do tabagismo”, diz paciente

Mesmo com um estilo de vida saudável, Fernando Araújo, diagnosticado com DPOC, foi internado três vezes no período de um ano

Fernando Araújo, professor aposentado de 74 anos, foi tabagista durante 40 anos de sua vida e o momento em que recebeu o diagnóstico de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) fez com que ele jogasse seus maços de cigarro no lixo. E nunca mais voltou a fumar.
Os primeiros sintomas do Fernando apareceram em 2013. Na época, ele ainda dava aula de língua portuguesa na universidade Anhembi Morumbi, e percebeu que se sentia extremamente cansado ao caminhar de um prédio para o outro. “Mas inicialmente eu não atribuí o cansaço ao tabagismo. Eu achava que isso era reflexo de um estilo de vida sedentário”, explica.
Esse é o principal fator do subdiagnóstico da DPOC. Assim como Fernando, muitos outros pacientes têm dificuldade em reconhecer os sintomas e diferenciá-los de outras condições. Mas os sintomas do professor pioraram e chegaram ao ponto de ele sentir cansaço em realizar uma atividade extremamente rotineira: a de tomar banho. Quando isso aconteceu, ele percebeu que havia algo de errado e consultou um pneumologista.
Se você está com essa fadiga hoje, imagina como você estará daqui cinco anos”. Essa foi a frase do médico que marcou Fernando e fez com que ele mudasse completamente seu estilo de vida. “Parar de fumar é difícil para muitas pessoas, mas o medo da doença e de ter cada vez mais dificuldade para respirar falou muito mais alto para mim. Larguei o cigarro de uma vez só”, conta o paciente.
Hoje, Fernando trata a DPOC, pratica atividade física regularmente, faz fisioterapia respiratória duas vezes na semana e, no geral, leva uma vida normal. Mas ele precisa estar atento e cuidando da sua saúde constantemente, pois sua incapacidade pulmonar o torna mais suscetível a doenças pulmonares como a pneumonia. Parte desses cuidados é manter a vacinação em dia, pois essa é uma medida preventiva essencial para reduzir o risco de infeções respiratórias e levar a complicações sérias.
Mas mesmo não fumando há 12 anos e com os devidos cuidados, recentemente Fernando chegou a ser internado três vezes em um período de apenas um ano. Primeiro ele foi internado com pneumonia. Pouco tempo depois de sua alta, foi diagnosticado com embolia pulmonar e, pela primeira vez, teve que fazer o uso de oxigênio domiciliar. Meses depois, teve uma internação preventiva durante uma viagem à Fortaleza.
Infelizmente, não consigo recuperar a capacidade pulmonar que perdi. Mas eu posso cuidar do que eu ainda tenho para poder fazer o que me faz mais feliz: viajar e brincar com os meus netos”, conclui Fernando.

‘Na minha última crise queriam me entubar’, relata paciente com DPOC

Desenvolver atividades do cotidiano como andar, subir escadas e até pentear os cabelos ou tomar banho podem ser um desafio para algumas pessoas. Esse é o caso do motorista de aplicativo Alex Manesco, 63 anos. Quem entra em seu carro, não faz ideia de que ele é um dos pacientes que precisam adaptar a rotina e sofrem para conseguir realizar afazeres simples, após ter sido diagnosticado com a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC).

Alex conta que descobriu que tinha um problema pulmonar grave em 2010, mas o caminho até lá não foi fácil. Após consulta com um pneumologista devido a sintomas que ele acreditava serem relacionados ao tabagismo, constatou que o caso poderia ser mais grave. “O médico me disse que [os sintomas] estavam levando mais para um enfisema [pulmonar] ou DPOC, por causa da quantidade de cigarros que eu fumava e que isso ia me matar”, conta ele.

A virada na trajetória de Alex ocorreu entre 2014 e 2015, quando conheceu uma passageira que participava de uma pesquisa sobre DPOC no Instituto do Coração (Incor). Ao compartilhar sua experiência, foi convidado a integrar o estudo e, desde então, participa de pesquisas clínicas sobre a doença.

Doença também gera impactos na economia

Apesar de conseguir manter sua atividade como motorista, por permanecer sentado durante o trabalho, Alex representa uma exceção. Uma parcela dos pacientes com DPOC enfrenta limitações severas que os impedem de continuar trabalhando.

Um estudo recente, intitulado “Perfil dos beneficiários com aposentadoria precoce por doença pulmonar obstrutiva crônica e sua carga econômica entre 2014 e 2023 no Brasil”, revelou que a DPOC gerou um impacto superior a R$ 1 bilhão no sistema previdenciário brasileiro devido a novos benefícios concedidos em 10 anos, sendo as aposentadorias precoces o principal catalisador desse custo.
O estudo também aponta perdas anuais de R$ 1,38 bilhão com reposição de mão de obra e R$ 8,28 bilhões em impacto sobre o PIB. Estima-se que 196 milhões de dias de trabalho foram perdidos devido à doença, o que representa um prejuízo anual de R$ 230,7 bilhões em produtividade.

Cigarro convencional não é o único vilão: o perigo dos vapes

É importante reforçar que o cigarro convencional não é o único vilão. Exposição à poluentes, inalação de gases tóxicos e outros tipos de fumo, como cachimbo, narguilé e cigarros eletrônicos podem contribuir para a doença. Uma pesquisa realizada com mais de 700 mil pessoas concluiu que o uso de cigarros eletrônicos foi associado a uma probabilidade 75% maior de bronquite crônica, enfisema e DPOC.

Um dado recente e preocupante do Ministério da Saúde aponta um aumento de 25% no número de fumantes entre 2023 e 2024, revertendo a tendência de queda registrada nas últimas décadas. Para o médico pneumologista Bernardo Maranhão, esse é um dado preocupante para a saúde pública em geral, que pode impactar não somente na DPOC, mas em outras doenças decorrentes do tabagismo, sobretudo doenças respiratórias.

Nos últimos anos, cresce a preocupação com o uso de cigarros eletrônicos (vapes), especialmente entre adolescentes e jovens adultos. Estudos têm mostrado que o vape contém substâncias tóxicas e potencialmente cancerígenas, que podem causar inflamações e danos graves ao pulmão.

O pneumologista alerta que o vape pode levar à dependência de nicotina e aumentar o risco do desenvolvimento precoce de doenças respiratórias, incluindo quadros semelhantes aos observados em fumantes convencionais. “Nós, da comunidade médica, acreditamos que o uso do cigarro eletrônico pode causar danos preocupantes e até acelerar a possibilidade de jovens desenvolverem DPOC em uma idade mais precoce”, aponta o médico.

DPOC tem prevenção e controle com diagnóstico precoce

A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica é uma enfermidade respiratória crônica, progressiva e sem cura, mas que pode ser controlada com diagnóstico precoce, cessação do tabagismo, tratamento farmacológico adequado e manejo das exacerbações.

Gerente de grupo Médico da GSK, Maranhão destaca que apesar de a DPOC não ter cura, ela pode ser prevenida e controlada se diagnosticada precocemente. “Acompanhamento médico, adesão ao tratamento e mudanças de hábitos são fatores importantes para manter uma boa qualidade de vida”, reforça o médico.

O médico pneumologista Adalberto Rubin explica que é importante prestar atenção em pequenos sinais durante atividades cotidianas. “Os sintomas da DPOC surgem de forma lenta e podem passar despercebidos no início. Por isso, é importante se atentar se há falta de ar ao fazer atividades simples como subir escadas. Outro ponto é entender se há uma evolução na dificuldade de respirar ao realizar outras tarefas do dia a dia que antes não causavam desconforto respiratório,” diz ele.

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Tratamento imunobiológico traz esperança para pacientes com DPOC

A inflamação na DPOC pode ser do tipo neutrofílica (tipo 1 e 3) ou eosinofílica (tipo 2). Estima-se que até 26,3% dos pacientes com DPOC podem apresentar inflamação do tipo 2, que gera crises cada vez mais graves, mesmo com o uso das terapias triplas inalatórias.

Esses pacientes apresentam maior risco de exacerbações, eventos críticos que agravam os sintomas, aumentam o risco de hospitalizações e superam até a taxa de mortalidade do infarto agudo do miocárdio, em casos de hospitalização ou exacerbação grave. A cada crise, há a piora da função pulmonar, que é irreversível, agravando a qualidade de vida do paciente

Esses dados reforçam a urgência de estratégias de saúde pública voltadas à prevenção, diagnóstico precoce e acesso a tratamentos eficazes. Um plano de tratamento personalizado é essencial para o controle da doença, evitando novas crises e complicações constantes.

É fundamental que os pacientes tenham acesso aos tratamentos mais inovadores, não apenas para melhorar sua qualidade de vida, mas também para reduzir o impacto socioeconômico que a doença pode causa”, afirma o Dr. Rubin.

Em um subgrupo de pacientes com DPOC, a doença está associada à inflamação do tipo 2, o que gera crises cada vez mais graves com piora da função pulmonar, mesmo com o uso das .Esses pacientes não contam hoje com nenhum tratamento adicional à essas terapias triplas inalatórias que seja específico para o perfil deles.

Em meio a esse cenário, uma nova perspectiva surge com o avanço dos tratamentos. Em 2024, a Anvisa aprovou um imunobiológico para pacientes adultos com DPOC não controlada associada à inflamação tipo 2 — condição identificada por altos níveis de eosinófilos no sangue.

O dupilumabe, primeira terapia-alvo para a doença, bloqueia os receptores das interleucinas 4 e 13, responsáveis por esse tipo de inflamação, e representa um marco no tratamento das formas mais graves da doença.

Considerando a situação dos pacientes com DPOC não controlada associada à inflamação tipo 2, A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) está atualmente avaliando a incorporação do imunobiológico à lista de cobertura obrigatória pelos planos de saúde. A consulta pública  encerrou no dia 1º de setembro.

Hábitos importantes para o controle da doença

  • Abandonar o cigarro e evitar exposição à fumaça e poluentes.
  • Praticar atividade física regularmente, respeitando as orientações médicas.
  • Manter as vacinas em dia, especialmente contra COVID-19, gripe e pneumonia, para reduzir o risco de complicações.
  • Seguir corretamente o tratamento prescrito, que pode incluir medicamentos inalatórios para melhorar a função pulmonar.
  • Adotar uma rotina saudável, com alimentação equilibrada e hidratação adequada.
  • Alerta sobre o uso de vape entre jovens

Sintomas, prevenção e diagnóstico da DPOC

  • Evitar o tabagismo é a forma mais eficaz de prevenir a DPOC. Tanto fumantes ativos quanto passivos estão em risco.
  • A identificação precoce dos sintomas — como tosse crônica, produção de catarro e falta de ar progressiva — é fundamental para iniciar o tratamento adequado.
  • O exame de espirometria, simples e acessível, é a principal ferramenta para confirmar o diagnóstico.

Central do Pulmão – Serviço disponível a toda sociedade

A Central do Pulmão é um canal gratuito e humanizado de escuta, acolhimento e orientação criado em 2021 pela Abraf – Associação Brasileira de Apoio à Família com Hipertensão Pulmonar e Doenças Correlatas. Seu objetivo é oferecer suporte direto às pessoas que vivem com doenças pulmonares e cardíacas crônicas, bem como seus familiares e cuidadores, em todas as regiões do Brasil.

Iara Machado, presidente da ABRAF, destaca que a Central do Pulmão está preparada para dar orientações sobre hipertensão pulmonar, fibrose pulmonar, asma grave, DPOC e insuficiência cardíaca. E tudo de uma forma bem simples, os pacientes podem contatar por telefone ou whatsapp (0800 042 0070).

Cursos gratuitos para profissionais da saúde e estudantes

Disponível até dezembro, o CapacitAS 2025 tem certificação e mostra a experiência vivida pelos pacientes

A DPOC é geralmente causada pelo tabagismo, além da exposição prolongada a partículas e gases irritantes. Assim como a asma, a doença compromete as vias aéreas e podem reduzir a capacidade respiratória. A Abraf abriu inscrições para o CapacitAS, programa educacional online e gratuito voltado a profissionais e estudantes da área da saúde, com carga horária de 15 horas e certificação.

O curso tem objetivo de ampliar a compreensão sobre a jornada de quem convive com a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e a Asma, por meio de aulas com médicos e fisioterapeutas especialistas e relatos da experiência dos pacientes que vivem com as patologias. O curso estará disponível até dezembro e as inscrições podem ser feitas pelo site: https://abraf.eadplataforma.app/.

Asma e DPOC são doenças crônicas e prevalentes, que afetam muito a vida de pacientes e familiares. Nosso objetivo é conscientizar, levar aos profissionais a perspectiva dos pacientes. Compartilhar conhecimento que contribua para melhorar o atendimento e a atenção clínica”, afirma Iara Machado, presidente da Abraf.

Com Assessorias

 

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