Batizado de Setembro Verde, este mês traz esperança para milhares de pessoas que aguardam por uma doação de órgão para sobreviver. O mês é marcado por campanhas de conscientização sobre a importância da doação em todo o Brasil. O movimento é bastante necessário, afinal, de acordo com a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), em março deste ano o Brasil contava com mais de 33 mil pessoas à espera de uma doação.

Em 2018, foram realizados apenas 8.765 transplantes. No primeiro trimestre de 2019, porém, as recusas de pacientes ou familiares foram a causa de 39% da não-concretização de doações. Mas há potencial para mais doadores. Pela legislação brasileira, a doação de órgãos pode se dar em vida ou após a morte. A doação pós-morten só pode ser feita após autorização dos membros da família.

A morte encefálica é o tipo de óbito que possibilita a doação de forma mais ampla, já que órgãos vitais como rins, coração, pulmão e intestino, e tecidos, como córneas, ossos, tendões e pele, permanecem aptos para serem transplantados para outra pessoa quando o cérebro do indivíduo deixa de funcionar.

Mas muitas famílias, infelizmente, ainda recusam, talvez por falta de informação ou esclarecimento. Um dos principais motivos é a incompreensão da morte encefálica por parte da família. Por isso, ressaltam especialistas, papel dos profissionais do hospital é fundamental para acolher os familiares e fazê-los entender todo o processo de notificação em um período tão curto e de tanto sofrimento. O ideal é que, em vida, a pessoa já deixe família e amigos avisados de que é um doador, e pretende realizar esse ato nobre.

O transplante é o único tratamento de saúde no qual a sociedade pode atuar de forma efetiva e este assunto merece destaque nos debates civis. Falar sobre a questão da doação, esclarecer a população sobre como funciona o procedimento e o seu impacto na vida dos receptores é fundamental”,  afirma Tércio Genzini, coordenador do  Programa de Transplantes de Pâncreas, Fígado e Rim do Hospital Leforte, juntamente com o Grupo Hepato.
De acordo com Luiz Carneiro, cirurgião do Aparelho Digestivo do Hospital 9 Julho e transplantador de fígado, a informação pode fazer toda a diferença para quem tem interesse em doar. “É preciso que esse tema seja tratado com mais naturalidade para que vidas sejam salvas a partir do encerramento da história de outras pessoas”, finaliza o Dr. Carneiro
Durante todo o Setembro Verde, entidades de saúde buscam conscientizar a sociedade sobre a importância da doação e fazer com que o assunto seja debatido mais abertamente entre famílias e grupos de amigos. ViDA & Ação aproveita o Dia Nacional de Doação de Órgãos e Tecidos  (27 de setembro) para esclarecer as principais dúvidas de nossos leitores sobre o assunto, contribuindo para o aumento de doações e diminuição da fila de pacientes que aguardam um órgão.
Para quem deseja fazer parte dessa rede de solidariedade como doador de órgãos e tecidos, os especialistas esclarecem algumas questões importantes:

Doadores saudáveis ou pós-morten

Existem dois tipos de doadores: os saudáveis e os já falecidos. A doação em vida ocorre nos casos de órgão duplo ou quando a retirada de parte dele não prejudicará a saúde do doador: rim, parte do fígado e medula óssea. Nos casos de doadores saudáveis, uma vez identificada a compatibilidade do doador, ele e o paciente começam a preparação para realizar a cirurgia. Os doadores vivos permitidos pela legislação nacional incluem parentes até quarto grau ou cônjuges.

Pode haver ainda doação em vida sem este vínculo, mas requer autorização judicial para que se confirme o altruísmo da doação. Novos métodos de doadores em vida já praticados em diversos países, mas ainda em debate, são a doação pareada (quando duplas incompatíveis trocam os doadores entre si) e os doadores altruístas (doadores renais, por exemplo, que doam para desconhecidos, sem vínculo afetivo, à semelhança do que ocorre com a doação de sangue ou medula).

Quando há morte encefálica confirmada ou parada cardíaca, o processo e tipos de órgãos a serem doados, são diferentes. Neste segundo caso, o médico informa que é possível beneficiar, pelo menos, 10 vidas, com doação de pâncreas, coração, intestino delgado, córneas, camada superficial da pele, ossos, tendões e válvula cardíaca, por exemplo, além daqueles anteriormente citados.

Doação pós-morten só com autorização da família

“No Brasil, ainda que, em vida, o paciente tenha manifestado o desejo de ser doador, é preciso que a família autorize a ação, em caso de morte encefálica ou parada cardíaca. Infelizmente, porém, ainda encontramos muitos parentes que resistem à ideia”, comenta o Dr. Carneiro. “As pessoas precisam se conscientizar de que a doação é uma atitude que transforma não só a vida do paciente que precisa do órgão, mas também das pessoas que estão ao redor dele. Se negar a praticar esse gesto significa interromper uma outra história”, ressalta.

O momento da doação é sempre um momento crítico e difícil em função das circunstâncias que envolvem enorme sofrimento familiar, esta decisão é sempre complexa. Por isto, recomendamos que as famílias ou as pessoas conversem entre si e deixem sua vontade de doar manifesta. Isto facilita a doação para a família, respeitando nossas decisões.

Comunique de maneira clara aos parentes de primeiro grau, como pais, filhos, irmãos, avós, tios e primos. Certamente, uma dessas pessoas será a responsável por autorizar que o médico dê andamento ao processo de doação. Não há necessidade de deixar um documento assinado.

Exames rigorosos confirmam morte encefálica

O doador que sofre morte encefálica passa por protocolo rigoroso de confirmação diagnóstica através de dois exames clínicos e um método gráfico que confirme ausência de fluxo sanguíneo ou atividade elétrica no cérebro.

Após a morte encefálica, o doador pode ser mantido por aparelhos ainda com coração batendo por período variável de até 48h. Após esse prazo, os batimentos cardíacos inevitavelmente cessarão e os órgãos não poderão ser mais aproveitados para doação.
Este intervalo de tempo entre a confirmação da morte encefálica e a parada cardíaca definitiva do doador é o prazo que as equipes têm para deflagrar todo o processo da doação. O tempo de cada órgão varia e por isso a agilidade é primordial.
Órgão
Tempo de isquemia (de retirada de um órgão e transplante deste em outra pessoa)
Coração
4 horas
Pulmão
4 a 6 horas
Rim
48 horas
Fígado
12 horas
Pâncreas
12 horas
OUTRAS DÚVIDAS

– Órgãos não podem ser vendidos – Após os trâmites legais, a retirada dos órgãos acontecem em um centro cirúrgico, sem custos extras para a família do doador, que também não recebe nenhum tipo de recurso financeiro pela ação. Quem está na fila de espera também não pode pagar para ter qualquer tipo de privilégio. Existe um controle muito rígido neste processo.

– Todas as pessoas são potenciais doadoras – A princípio, pessoas de qualquer sexo, idade ou histórico médico são consideradas potenciais doadoras. A confirmação dessa capacidade se dará após exames realizados na sequência do atestado de óbito.

– O diagnóstico de morte encefálica é confiável – De acordo com normas do Conselho Federal de Medicina, para o diagnóstico do quadro são necessários dois exames clínicos e um complementar, realizados por médicos diferentes. É importante ressaltar que a morte encefálica é irreversível.

– Não há danos ao corpo do doador – Assim que termina o processo de retirada dos órgãos, a equipe médica inicia a recomposição do corpo do doador para que ele possa ser velado ou cremado, sem necessidade de nenhum preparo especial.

– Há rígido controle sobre os receptores dos órgãos – Assim que a família autoriza a doação de órgãos, uma equipe do hospital aciona a Central Estadual de Transplantes de sua região para que seja feito o mapeamento de possíveis receptores. Na ausência de pessoas aptas a receber o órgão no Estado, ele é ofertado à Central Nacional de Transplantes. Todo o processo se dá de maneira eletrônica e segura.

Santa Catarina se destaca em autorizações para doação

Na contramão da queda das doações em nível nacional, o percentual de famílias que não autorizam a doação em Santa Catarina caiu para 27,4%. A meta do Estado é chegar ao índice de 10% de rejeição. No mês de julho, a SC Transplantes registrou recorde na doação de órgãos, com 34 notificações, além do melhor desempenho já registrado em um mês de fevereiro em 20 anos, com 24 doações.
Na semana passada, o Governo do Estado  sancionou uma lei que faz de Blumenau a “Capital Catarinense de Transplantes de Órgãos”, medida que tem como objetivo reconhecer o volume e a qualidade dos procedimentos realizados no município.
Hospitais privados divulgam também números positivos. No Hospital São Lucas Copacabana, no Rio de Janeiro, houve melhora no número de procedimentos realizados nos últimos meses. Foram feitos 35 transplantes desde então, um aumento de mais de 200% em comparação com os três primeiros meses do ano.

Primeiro transplante duplo de Blumenau

No dia 15 de setembro de 2019, uma paciente de 35 anos do Hospital Santa Isabel (HSI), de Blumenau (SC), ganhou um duplo recomeço: ela recebeu um novo coração e um novo rim na mesma cirurgia. Esse foi o primeiro transplante duplo de coração e rim realizado na história do Estado de Santa Catarina. Este é o quinto transplante de coração realizado na unidade neste ano. O recorde de procedimentos do tipo na Instituição é de oito transplantes, realizados em 2016 e 2018.

O procedimento inédito foi possível graças à solidariedade de uma família, que mesmo em um momento de grande dor, possibilitou que três pessoas recebessem os órgãos. Além do duplo transplante, mais dois receptores receberam pâncreas, rim e fígado. Os três pacientes seguem internados no HSI, em recuperação.

O transplante cardíaco é raro, porque o coração tem sobrevida de apenas quatro horas fora do corpo, o que requer uma ação rápida das equipes de transporte e cirurgia. Na data da operação, a Central Estadual de Transplantes de Santa Catarina (SC Transplantes) mobilizou equipes do Hospital Santa Isabel, do SAMU e até do Corpo de Bombeiros. A corporação disponibilizou aeronaves que transportaram, de Florianópolis para Blumenau, todo o material necessário para o procedimento e o teste de compatibilidade dos órgãos.

Transplante de pâncreas para diabéticos

Em São Paulo, o Programa de Transplantes de Pâncreas, Fígado e Rim do Hospital Leforte, juntamente com o Grupo Hepato, realizou em 2018 um total de 67 transplantes de pâncreas (sendo 39 pâncreas isolado e 28 de pâncreas/rim), o maior número de procedimentos deste tipo em todo o mundo.
“Ficamos muito felizes com o dado, mas sabemos que podemos aumentar este número. As pessoas desconhecem a possibilidade de transplante de pâncreas para pacientes com diabetes tipo 1 – que surge na fase da infância ou adolescência – e começam a apresentar complicações secundárias nos rins, nervos e visão, após 15 ou 20 anos da descoberta da doença”, explica Marcelo Perosa, coordenador do programa do Hospital Leforte.
Neste caso, a indicação dependerá da gravidade das complicações do diabetes. “Quando bem indicado e realizado, representa o melhor tratamento, eliminando a necessidade de insulina, restabelecendo dieta livre e sem restrições”, ressalta. No total, em 2018 a equipe do Hospital Leforte realizou 219 procedimentos, incluindo, além dos transplantes de pâncreas, 39 de fígado e 113 de rim (intervivos de rim e parte do fígado).

AGENDA POSITIVA

Árvore da vida : esperança, superação e gratidão

Como parte da campanha Setembro Verde, de conscientizaçao sobre as doações de órgãos, o Hospital São Lucas realiza um evento gratuito e aberto para a população nesta quinta-feira (26). “Doe Vida – Conscientização para a Doação de Órgãos” será apresentada por ex-pacientes transplantados e seus familiares. O objetivo é estimular a doação de órgãos e dar esclarecimentos sobre esse ato é ponto fundamental para o bom funcionamento do sistema de transplantes brasileiro, tido como um dos mais eficientes do mundo.

Na ocasião, o hospital ainda vai inaugurar a Árvore da Vida, a réplica de um jacarandá com quase 2 metros de altura, no qual pacientes e familiares poderão pendurar bilhetes em que relatam seus sentimentos de esperança, superação e gratidão pela vida. A obra da artista plástica Magali Campos, construída com material de reciclagem, tronco de descarte, galhos e flores permanentes, ficará exposta na sobreloja. O objetivo é humanizar o ambiente hospitalar de forma lúdica.

O encontro acontece das 9h às 12h, no auditório do hospital, que fica na Rua Pompeu Loureiro, 56, em Copacabana, e contará com a presença de autoridades e representantes do Programa Estadual de Transplante (PET), do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar do estado.

TRANSPLANTE DE MEDULA – No dia 27 de setembro, das 8h30 às 12h, a Associação Pró-Vita promove simpósio sobre Transplante de Medula Óssea, em celebração ao Dia Nacional de Doação de Órgãos e Tecidos. O evento busca capacitar estudantes e profissionais de saúde, e esclarecer dúvidas sobre o procedimento, que é indicado para o tratamento de doenças que afetam as células do sangue como leucemia e linfoma. A atividade será realizada na Associação Comercial do Rio, com inscrição gratuita pelo site https://provita.org.br/.

Com Assessorias

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