Muitas pessoas pensam que o uso do crack fica restrito às cracolândias, ao submundo das ruas… mas o poder destruidor desta droga permeia muitos outros círculos, aparentemente insuspeitos. “A cracolândia é o local onde o indivíduo já perdeu tudo, todos os vínculos. Mas qualquer camada social pode ser usuário de crack”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Antônio Geraldo da Silva. Atualmente, são mais de 1,2 milhão de usuários de crack no país.
Para alertar sobre o problema, a ABP decidiu este mês intensificar a campanha ‘Craque que é craque não usa crack’. O ex-jogador da seleção brasileira Rivaldo é um dos apoiadores da iniciativa e fez um vídeo sobre o assunto para divulgar nas redes sociais. O objetivo é chamar a atenção para o combate e a prevenção do uso de drogas no país, principalmente pelos jovens.
Veja o vídeo com o jogador Rivaldo
https://www.youtube.com/watch?v=UizJBHVxQ6Q&feature=youtu.be
Para evitar uma epidemia de dependentes de crack, é necessário que seja criada uma política completa de drogas porque quem usa drogas não começa pelo crack. “O problema é complexo e a situação também. Então é preciso de uma politica de drogas moderna e eficaz (que seja implementada) para resolver o problema do uso do crack no país”, ressalta o presidente da ABP.
Confira uma entrevista exclusiva com o presidente da ABP e a médica Ana Cecilia Marques, coordenadora da Comissão de Dependência Química da ABP, para o Blog Vida & Ação:
– Quais os males causados pelo crack?
O principal é o sistema nervoso central. Há chance de alteração da cognição, o indivíduo fica muito agitado, não come, não dorme, tem paranoias. O uso afeta a capacidade do indivíduo de estar no mundo e altera o comportamento, o humor e a cognição. Além disso, pode afetar o sistema cardiovascular, aumentando a incidência de AVCs, infarto agudo do miocárdio, além de outros. Também pode gerar alterações gastroinstestinais, como hemorragias no estômago e gastrite. Como a droga é fumada, as complicações pulmonares são gravíssimas. Como é uma droga muito suja, pode causar queimadura na boca, lábios, esôfago, traqueia, vias aéreas superiores e no pulmão, além de bronquite. Sistema ósseo muscular também pode ser afetado, porque, como o indivíduo emagrece muito, perde massa muscular, pode ter atrofias e perder o equilíbrio.
– Afinal, é possível usar crack e não ficar dependente? Existe uma dose de consumo considerada segura? Ou a pessoa fatalmente ficará dependente e doente?
Não existe dose segura. Como o crack é uma droga fumada é potencialmente rápida para o desenvolvido da dependência, que está ligada a múltiplos fatores. Cada indivíduo tem suas características de vulnerabilidade.
– Como tratar o dependente de crack?
Tratar a dependência do crack é como tratar de outra dependência qualquer e por isso depende de diagnóstico, fase de desintoxicação, estabilização do problema (o que pode demorar meses), tratamento de todas as consequências e, depois, fazer reinserção social. É uma doença crônica e precisa tratar para o resto da vida. Como toda doença crônica em qualquer momento pode voltar e por isso o acompanhamento deve ser contínuo.
– É possível recuperar? Qual a margem de sucesso nesses tratamentos?
É possível recuperar em 50% dos casos e quando o tratamento é baseado em evidências científicas. O tratamento tem várias etapas, que precisa contemplar também prevenção de recaídas. Leva-se em torno de dois anos para reinserir esse indivíduo na sociedade. E como é uma doença crônica é preciso ter acompanhamento o resto da vida. Nesse tratamento é necessário contar com uma equipe multidisciplinar, formada por médico especializado na área de dependência química, psicólogo, terapeuta ocupacional, assistente social, educador físico e enfermeiros.