Pouco se fala sobre o assunto, mas a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) já representa a quarta maior causa de morte no mundo e no Brasil, até 2020, deve se tornar a terceira. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), cerca de 7 milhões de brasileiros sofrem com esse problema, causado diretamente pelo tabagismo. Estima-se que 85% a 90% das mortes por DPOC ocorrem entre quem fuma ou aspira a fumaça do cigarro.
O alerta para o consumo de cigarro é importante para promover o controle da doença DPOC, uma condição crônica, o que significa que acompanhará a pessoa por toda a vida. Como o cigarro é o principal responsável na grande maioria dos casos, tanto para fumantes, quanto para os que aspiram a fumaça por meio do convívio com ele, a principal recomendação é abandonar este hábito.
A semana de conscientização da DPOC – o Dia Mundial é 21 de novembro – alerta a população sobre a gravidade desta doença e prevenção. “A fumaça provocada pelo cigarro deixa os pulmões expostos a altas concentrações de agentes oxidantes. Isso pode provocar problemas pulmonares como edema, obstrução e inflamação pulmonar”, explica o pneumologista e diretor da Alergo Ar, José Roberto Zimmerman.
Segundo ele, o tabagismo é prejudicial para qualquer pessoa, mas para pacientes com essa doença, parar de fumar é ainda mais urgente.
A principal forma de prevenção da DPOC é evitar o uso de cigarros. Tanto no tratamento quanto na prevenção é importante evitar o contato frequente a produtos químicos, fumaça, e outras substâncias irritantes. A poluição do ar é outro fator de risco que deve ser considerado”, afirma o especialista.
Hábito de fumar cresce entre jovens
O hábito de fumar está diminuindo mundialmente desde 2000, segundo os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Mundialmente, a redução do número de fumantes e a tendência de maior preocupação com a saúde não são suficientes para diminuir os danos que o tabaco provoca, já que a OMS estima que mais de 7 milhões de pessoas ainda morrem anualmente por conta do cigarro.
No Brasil, embora tenha ocorrido redução do número de fumantes, o Ministério da Saúde aponta que houve aumento no grupo de pessoas entre 18 e 24 anos e 35 a 44 anos. Os números são preocupantes, porque o tabaco causa diversos problemas para a saúde, como doenças crônicas pulmonares e vasculares.
A iniciativa Gold aponta o principal grupo de risco da doença: pessoas com mais de 40 anos, fumantes ou ex-fumantes, com queixas de tosse frequente, expectoração ou “catarro” constante e cansaço ou falta de ar ao fazer esforço, como subir escadas ou caminhar. O levantamento feito pelo Ministério da Saúde indica que os homens são o público que mais fuma. O mesmo estudo apontou que uma das faixas etárias que teve aumento do número de fumantes foi a de 18 a 24 anos.
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Atenção aos sintomas
O diagnóstico precoce da DPOC é a principal medida para evitar complicações. Como os sintomas da DPOC são parecidos com os de outras doenças pulmonares, as pessoas que desenvolvem a doença não costumam dar atenção aos sinais no começo da doença e acabam procurando o especialista quando a condição está avançada. Os pacientes sentem falta de ar, tosse seca e pouca disposição para fazer as atividades do cotidiano, por conta da limitação do fluxo de ar que entra e sai dos pulmões.
Mauro Gomes, diretor da Comissão de Infecções Respiratórias da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia, alerta que “os pacientes, muitas vezes, não sabem reconhecer e explicar para o médico exatamente o que estão sentindo. A falta de ar, por exemplo, costuma ser relatada como um cansaço constante. Muitas vezes eles atribuem isso ao sedentarismo, excesso de peso ou à própria idade e não imaginam que já exista uma doença pulmonar. Outras pessoas evitam ir ao consultório também porque sentem culpa pelo hábito de fumar – e não sabem como parar”.
Por isso, Mauro Gomes ressalta a importância do trabalho de conscientização da população. “Embora a doença atinja mais homens e pessoas com mais de 40 anos, os jovens também devem estar cientes dos seus sintomas. Como a DPOC não tem cura, a prevenção é a melhor escolha para não desenvolver a doença. Aqui, vale pontuar que não só o cigarro traz problemas aos pulmões. Narguilé e cigarros eletrônicos também são prejudiciais à saúde”.
Para o especialista, a prevenção está atrelada ao autoconhecimento e à mudança de hábitos. “Como o tabaco causa uma dependência, ele faz parte da rotina do fumante e costuma ser associado a momentos de lazer e de alívio do estresse”, explica o pneumologista. Portanto, parar de fumar pode ser um processo lento e desafiador – e o acompanhamento de um especialista pode facilitar essa mudança de rotina. Uma das dicas do especialista é focar sempre no resultado, que é positivo para a saúde da pessoa. Muitas vezes, os amigos e familiares que convivem com o fumante auxiliam nesse processo.
Doença pode ser confundida com asma
A sigla DPOC indica a combinação de duas condições pulmonares bastante graves: a bronquite crônica, quando os brônquios estão com inflamação e produzem muita secreção, e o enfisema, que é a destruição das paredes das células dos pulmões. A DPOC é considerada uma doença silenciosa, pois seus sintomas se confundem com os de outras doenças respiratórias como a asma.
Neste quadro clínico, o pulmão encontra-se bastante debilitado e os sintomas se assemelham aos de uma crise de asma. Segundo ele, é importante distinguir já que as duas doenças desencadeiam sintomas parecidos: falta de ar, chiado no peito e tosse.
A asma é uma doença que ocorre em crises provocadas por clima, exposição à poeira ou a cheiros fortes enquanto a DPOC é uma doença crônica contínua, embora possa apresentar exacerbações que frequentemente necessitam de hospitalização. Outra diferença é que a asma tem obstrução reversível, enquanto na Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica não é possível reverter por completo à limitação do fluxo de ar”, enfatiza o médico.
Quando buscar tratamento
Se o paciente tiver indício de tosse frequente, falta de ar ou chiado no peito, ele deve procurar o médico pneumologista para investigar a causa. Geralmente, os exames solicitados pelo especialista são: teste de função pulmonar (espirometria), hemograma completo, radiografia torácica, oximetria de pulso, entre outros.
Zimmerman explica que a opção terapêutica mais comum em casos de DPOC é a utilização de bronquio-dilatadores, além de mudanças no estilo de vida, especialmente, evitando qualquer tipo de exposição a fumaça de cigarro.
Pacientes com crises recorrentes de falta de ar possuem 4,3 vezes mais risco de morte do que os que realizam o tratamento adequado e não enfrentam essas crises, chamadas de “exacerbações”. Além do acompanhamento médico, Mauro Gomes indica o tratamento regular com medicamentos para evitar restrições no dia a dia do paciente.
“O uso contínuo da medicação reduz complicações pela doença e evita limitações na rotina do paciente. O tiotrópio, uma das opções de tratamento, reduz em 16% o risco de morte nos pacientes com DPOC”, explica. Medidas além do tratamento convencional também são fundamentais, como a prática de atividade física regular com acompanhamento médico, vacinação contra gripe e pneumonia e não fumar.
Da Redação, com Assessorias