Não é segredo para ninguém que o tabagismo está diretamente ligado a doenças respiratórias, diversos tipos de câncer e patologias cardíacas, além de ser um dos principais fatores de risco para a Covid-19, como vimos esta semana na nossa série especial Vida Sem Fumo 2021. Mas poucas pessoas sabem que o vício pode estar associado também à perda de audição.

Segundo o otorrinolaringologista José Ricardo Gurgel Testa, do Hospital Paulista, perda auditiva pode se dar por conta da diminuição de fluxo sanguíneo na cóclea, órgão localizado na parte interna dos ouvidos e responsável por captar e transmitir os sons ao cérebro.

O cigarro é composto por uma série de substâncias químicas tóxicas e altamente nocivas, que impedem a oxigenação do organismo, causando prejuízos irreversíveis às células do ouvido, como a perda de audição”, explica o especialista.

Entre os componentes, o médico cita o cianeto de hidrogênio – gás utilizado para matar baratas, cupins e outras pragas e que age exatamente bloqueando a recepção do oxigênio pelo sangue, quando utilizado em altas concentrações.

Problemas à laringe e faringe

Os males do fumo para o organismo são bem conhecidos e, especificamente, na região da garganta, os estragos podem ser bem grandes. “As substâncias químicas presentes no cigarro causam irritação na pele que reveste toda a região da faringe e laringe, provocando um processo inflamatório crônico”, explica o otorrinolaringologista Cícero Matsuyama, do Hospital Cema.

Os danos à garganta podem comprometer a fala, causar alterações de deglutição e motricidade de toda essa região anatômica, e isso inclui não somente o cigarro, mas também o charuto, cachimbo, narguilé e similares.

O processo irritativo na garganta pode ainda favorecer o aparecimento da Covid-19, tendo em vista que o fumante passa por diversos processos inflamatórios no aparelho respiratório e pode ainda desenvolver quadros mais graves”, destaca.

A frequência tem um papel importante no desenvolvimento de doenças mais graves causadas pelo cigarro. “Quanto mais se fuma, maiores as chances de que a pessoa tenha enfermidades, como tumores na garganta”, detalha o especialista do Cema.

Problemas causados ao nariz

De acordo com o otorrinolaringologista Domingos Tsuji, tanto em fumantes como em não fumantes que convivem com o hábito, o nariz é outro órgão bastante afetado. De acordo com ele, a exposição à fumaça do cigarro amplia a irritabilidade do órgão, aumentando as chances de inflamações e piorando os sintomas clínicos de quem já tem outros tipos de rinite.

Segundo o especialista, é de extrema importância buscar um otorrinolaringologista caso rouquidões ou disfonias apareçam, para que o motivo real do problema seja identificado e tratado. “Outro tipo de câncer com alta prevalência em fumantes, e em pessoas que consomem muita bebida alcoólica, é o de boca, que atinge os lábios e o interior da cavidade oral, incluindo língua, gengiva e bochechas.”

Por fim, tratando-se de um vício com danos sociais, a halitose – ou mau hálito, como é popularmente conhecida – pode ser agravada pelo hábito de fumar, quando há uma higiene bucal inadequada ou causas sistêmicas associadas, como refluxo e doenças pulmonares e de fígado.

Riscos à saúde e principais doenças

Considerado um vício de cunho social, o tabagismo é uma doença causada pela dependência física e psicológica à nicotina, que afeta não apenas a saúde do fumante, mas também a das pessoas que convivem com ele. De acordo com o otorrinolaringologista Domingos Tsuji, o vício pode desencadear alergias respiratórias, dores de cabeça e irritações nos olhos, entre outros males. Aos fumantes, os riscos são ainda maiores, podendo causar cerca de 50 patologias diferentes, como doenças cardiovasculares e câncer, por exemplo.

Considerada uma das doenças mais graves e enigmáticas da Medicina, o câncer está entre as principais causas de mortalidades para tabagistas.  Entre os tipos mais frequentes, o médico alerta para o câncer na laringe, que atinge as cordas vocais e a estrutura da laringe, podendo ser identificado ainda no início a partir de uma rouquidão.

Diante de todos os malefícios causados pelo tabagismo, o Dia Mundial Sem Tabaco (31/5) entra em cena para continuar uma discussão que nunca pode cessar. “A luta contra o tabagismo é feita há décadas. Houve muito progresso, mas tenho notado um crescente aumento do hábito de fumar em pessoas mais jovens”, afirma Matsuyama.

Então fica a mensagem que as leis são importantes, mas as orientações sobre os malefícios do tabagismo devem ser constantes. “Só desta forma conseguiremos diminuir um hábito tão agressivo ao corpo humano”, resume o especialista.

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