Após realizar uma harmonização facial, que gerou polêmica nas redes sociais, o ator Stênio Garcia, de 91 anos, em entrevista ao jornal O Globo, rebateu as críticas que recebeu sobre os resultados do procedimento. “Estava com pelanca caída por excesso de exercícios físicos”, argumentou. Mas, se é fato que os exercícios físicos fazem bem à saúde, por que algumas pessoas sentem a aparência mais envelhecida após algum tempo praticando atividade física regularmente? Especialistas esclarecem.

“O exercício físico rejuvenesce, faz os praticantes viverem mais e melhor. Mas existem algumas explicações para esses casos em que as pessoas notam a aparência mais envelhecida”, diz a cirurgiã plástica Beatriz Lassance, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida.

O ator Stenio Garcia, mais jovem (Foto: Divulgação)

Segundo ela, o que ocorre, na verdade, é uma desestruturação facial. “O envelhecimento é uma condição natural, sabemos que perdemos colágeno 1% ao ano e consequentemente há flacidez em estruturas faciais. Em alguns esportes, no entanto, temos perda de estrutura devido ao impacto, ingestão de proteínas e calorias aquém às necessidades das atividades realizadas, o que colabora para a perda de estruturas proteicas”, explica.

Além disso, alguns exercícios são realizados no sol e consequentemente há um fotodano. “Os esportes que mais são associados a essa desestruturação são: corrida, crossfit e hipismo”, explica Cláudia Merlo, médica especialista em Cosmetologia pelo Instituto BWS.

“Em pacientes atletas nessas modalidades, notamos na face sinais como olheira estrutural, bigode chinês, bochecha de buldogue e perda de contorno facial. Tudo isso acontece, pois há uma frouxidão ligamentar e do tecido aponeurótico que são estrutura compostas de colágeno e fibrina”, completa a especialista.

Leia mais

‘Stênio Garcia foi tratado como bexiga murcha’, diz especialista
Cresce a busca por procedimentos estéticos entre os homens
Tire suas dúvidas sobre tratamentos estéticos para rejuvenescer o rosto

 

5 principais erros da prática de exercícios que podem envelhecer

1.Overtraining ou treino extenuante gerando estresse oxidativo

Para viver, todas as células de nosso corpo precisam de combustível, que é a glicose. A glicose entra em nossas células, vai até a mitocôndria, onde é transformada em ATP, nosso combustível.  ATP (adenosina trifosfato) é a principal molécula carreadora da energia química utilizada nas mais diversas reações que ocorrem nas células. Ela funciona como um depósito de energia, acionado quando necessário para a realização de alguma reação.

Queimamos ATP para executar qualquer função: andar, correr, falar, dormir e até pensar, respirar. Como efeito colateral da queima da glicose estão os radicais livres, como se fossem lixo radioativo. São moléculas instáveis, que precisam ser neutralizadas, caso contrário agridem outras moléculas atrapalhando o funcionamento delas.

“Nosso corpo é tão perfeito que temos uma defesa natural antirradicais livres muito eficiente, funciona com algumas linhas de defesa: vitaminas e sais minerais; proteínas capazes de transformais esses radicais livres em moléculas neutras e proteínas capazes de reparar outras moléculas que foram danificadas”, diz Dra. Beatriz.

Quando fazemos exercício, gastamos ATP, temos uma produção um pouco maior de radicais livres, nosso DNA entende que deve se defender melhor, e manda produzir uma defesa antirradicais livres ainda maior que a necessária. Esse conceito vai ao encontro do que filósofo Nietzsche dizia: aquilo que não nos mata nos fortalece! Na ciência chamamos este processo de Hormesis.

Além disso, a simples diminuição na quantidade disponível de ATP faz o DNA mandar aumentar a quantidade e eficácia das mitocôndrias. Mais mitocôndrias trabalhando, mais energia com menor produção de radicais livres. Como em qualquer empresa em expansão tem que contratar mais funcionários. Agora, se nosso gasto de energia é alto demais, as mitocôndrias ficam sobrecarregadas, aumentam muito a produção de radicais livres e se não temos defesa antirradicais livres suficiente: estresse oxidativo”, diz a cirurgiã plástica.

“É o que chamamos de exercício físico extenuante. Esse excesso de radicais livres danifica várias moléculas, entre elas o colágeno e a elastina, aumentando a flacidez e piorando a qualidade de nossa pele. Para garantir um equilíbrio, é necessário aumentar gradativamente a carga de exercícios, garantindo um bom funcionamento das mitocôndrias, aumentando a quantidade delas de forma ordenada e permitindo que nosso organismo se adapte a este gasto maior de ATPs. Descanso também é fundamental, lembre-se disso. A dieta também é importante com muitas vitaminas e sais minerais que compõem nossa defesa antioxidante”, diz a médica.

2. Aporte ineficiente de calorias

Saindo de dentro das células, algumas pessoas percebem uma flacidez acentuada e a explicação é a perda de gordura. “Se a glicose é transformada em ATP, temos de ter um fornecimento de glicose, que pode ser da dieta em forma de carboidratos ou o organismo queima alguma coisa para transformar em glicose.

Na urgência, no meio de uma maratona, por exemplo, o organismo tem de garantir que vamos continuar correndo, pois eventualmente podemos estar em fuga de um leão faminto, nosso DNA foi feito para isso, para sobreviver a qualquer custo. E como uma locomotiva, se acabar o carvão, podemos queimar lenha, e tudo que for de madeira para manter o trem em movimento.

Nosso organismo queima a gordura, mas é um processo meio demorado, pode também queimar proteína, que é um pouco mais rápido até que a gordura. Exercícios aeróbicos extenuantes e de longa duração podem gerar até perda de massa magra.

“Como o objetivo é manter o corpo em movimento, podemos ter consumo exagerado de gordura; no rosto temos compartimentos de gordura que podem ser consumidos facilmente. Diminuindo o volume do rosto, temos mais pele sobrando e a sensação de flacidez e envelhecimento. Portanto, um aporte calórico adequado durante o exercício é essencial para evitar casos assim”, diz a cirurgiã plástica.

3. Consumo insuficiente de proteínas

Segundo Dra. Beatriz, além de queimar a gordura, há consumo de proteínas, não somente para virar combustível como para formar a musculatura. “Pacientes sedentários tem uma necessidade proteica de cerca de 1,0 g de proteína por quilo de peso por dia, atletas podem chegar a 2,5g de proteína por quilo de peso por dia. Sem esse aporte, não há aumento de massa muscular e o organismo vai retirar de outros lugares menos importantes como a pele por exemplo. Quem precisa de colágeno se tem que manter o corpo em movimento?”, indaga a médica. “Por isso, o consumo proteico adequado é fundamental”, diz.

Além disso, essas estruturas ‘perdidas’ na atividade física são formadas por proteína, lembra a Dra. Cláudia. “Então temos que ingerir proteínas suficientes na dieta para o funcionamento adequado do organismo e de colágeno”, acrescenta a Dra. Cláudia Merlo.

4. Exposição demasiada ao sol

A exposição ao sol sem filtro solar causa o chamado fotoenvelhecimento cutâneo. “A pele se defende produzindo melanina, que são as manchas. Os raios ultravioletas do sol também causam diretamente um aumento de produção de radicais livres na pele, como consequência temos fibras de colágeno e elastina alteradas. Para evitar, é importante: uso de filtro solar antes de exercícios físico, e se possível repassar a cada 2 horas”, diz a Dra. Beatriz.

5. Hidratação insuficiente

Durante o exercício físico, o calor é produzido como efeito colateral da queima dos ATPs, e para regular a temperatura do corpo, o suor é eliminado. “A perda de água é grande durante exercícios muito intensos e pode ser piorada com temperatura ambiente elevada e baixa umidade do ar. A falta de água faz com que o organismo escolha onde vai deixar a pouca água disponível, o sangue tem um controle de concentração extremamente eficiente, retira água de onde for possível.  Obviamente a pele está no final da lista e com o tempo podemos sentir a pele mais seca com rugas de expressão mais aparentes”, diz a médica cirurgiã.

Por fim, a médica resume que para envelhecer bem é necessário: “Fazer exercícios físicos como rotina (para sempre) com aumento gradual de carga e duração, respeitando também o descanso; ter uma dieta adequada, com aporte calórico adequado, ingesta de proteína suficiente, muitos alimentos antioxidantes (vitaminas e sais minerais); beber água para uma efetiva hidratação; e ter cuidados com a pele, com filtro solar e hidratantes”, finaliza a Dra. Beatriz.

Leia também

Exame detecta doenças típicas do envelhecimento
Envelhecimento da pele, um processo inevitável
Sem tempo ruim: inverno é época preferida para cirurgia plástica
Shares:

Posts Relacionados

5 Comments
  • Jaime Diorne
    Jaime Diorne
    20 de junho de 2023 at 00:52

    Excelentes informações.

    Reply
  • Fernando
    20 de junho de 2023 at 14:17

    Que informação interessante, gostei.

    Reply

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *