Em abril deste ano, a cantora ex-BBB Flay contou publicamente que recorreu ao chamado “chip da beleza”, porém, os efeitos foram desagradáveis em seu corpo, como erupção cutânea e ganho de 10kg de peso. Ela revelou ao Fantástico, da TV Globo, sua experiência com o tratamento, dizendo que ganhou mais peso ao utilizar o chip e teve um quadro de acne no rosto. Em publicação no Instagram, Flay fez uma grave acusação contra os médicos e um alerta a outras mulheres:

A questão é a falta de informações dos próprios médicos sobre ser um chip cheio de hormônios. Nada disso foi passado na época para mim. Por isso mesmo a importância de levar a informação para TV para que outras pessoas não caiam na mesma cilada”.

Nos últimos anos, vem ocorrendo um aumento do uso de hormônios anabolizantes para fins estéticos, tanto para homens como para mulheres. Nos últimos meses o tema vem ganhando destaque e preocupando sociedades médicas em relação à segurança deste uso.

A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) não recomenda o uso do chip da beleza, que têm sido adotados inadequadamente pelas mulheres porque ele também supostamente poderia ser utilizado para interromper a menstruação.  

Em 30 de março, foi publicado no Diário Oficial da União, uma decisão do Conselho Federal de Medicina (CFM) que proíbe a prescrição de terapias hormonais com esteroides androgênicos e anabolizantes (EAA), para pessoas que buscam melhora de desempenho atlético e físico, profissionais ou amadores.

O Conselho proíbe o uso experimental de terapias hormonais sem a autorização de órgãos responsáveis, assim como, de cursos e eventos que estimulem a adoção dessas terapias para melhor performance física. O CFM também proíbe o uso de tratamentos com anabolizantes para fins estéticos, os quais foram difundidos por diversas blogueiras nas redes sociais.

Nesta semana, seis entidades médicas entregaram à Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária um pedido para fiscalizar a venda indevida do produto. Desde 2021, a Anvisa vetou a propaganda de produtos que contenham gestrinona, hormônio presente no chip da beleza.

‘Queridinha’ das malhadoras nas academias

O tão famoso ‘chip da beleza’ é composto por uma substância não reconhecida pela Anvisa chamado de gestrinona. Para fins estéticos, ela não é recomendada, pois entre os efeitos colaterais estão a alteração de voz – prejudicando a cantora Fly; alterações da pele, como surgimento de acne – mostrada em vídeos pela influencer, e a virilização. Mas como possui um efeito anabolizante, a gestrinoma se tornou queridinha das mulheres que treinam, pelo aumento da massa muscular.

No corpo da mulher sob a forma de tubinhos de silicone liberam a medicação via subcutânea, por debaixo da pele, na região do bumbum, e pode durar até um ano”, explica Veridiana Salutti, ginecologista e médica associada da AMCR.

Segundo a especialista, a gestrinona bloqueia a ação dos principais hormônios femininos que são o estrogênio e a progesterona. Alguns médicos a prescrevem para tratamento da endometriose e da TPM, pois ela bloqueia a menstruação.

Nessa situação seria um sucesso, mas devido à falta de estudos de segurança e confiança tornam a medicação muito criticada pelas sociedades de ginecologia, endocrinologia e cardiologia sendo contra indicado o seu uso”, afirma.

A substância apresenta outros efeitos colaterais muito sérios e indesejados como acne, queda de cabelo, engrossamento de voz e aumento de clítoris devido ao aumento do hormônio masculino, além poder comprometer o fígado e diminuir o colesterol bom aumentando o risco cardiovascular”, adverte a médica.

Entenda os riscos do ‘chip da beleza’

De acordo com o endocrinologista e médico do esporte Guilherme Renke (@endocrinorenke), mestre em cardiologia e sócio fundador do Instituto Nutrindo Ideais (@nutrindoideais), a gestrinona, um dos hormônios utilizados nestes procedimentos, é indicada para o tratamento da endometriose, pacientes na pós menopausa em situações necessárias.

Francisco Tostes (@doutortostes), médico atuante em endocrinologia e sócio do Instituto Nutrindo Ideais, também comenta que a gestrinona não tem como finalidade principal mudar o corpo feminino, pois varia de pessoa para pessoa. Além da indicação clínica para endometriose, é favorável para mulheres que têm muita TPM ou sangram demais na menstruação. Em outros casos, causa o efeito contrário.

O médico diz que os hormônios têm que ser indicados para pacientes que podem usar conforme avaliação médica. Segundo ele, é importante fugir de falsas promessas, como o “chip da beleza”.

De acordo com Francisco, os hormônios podem ser utilizados por via injetável (intramuscular), transdérmica (gel/creme aplicado na pele), por via oral ou através de pellets/implantes que são aplicados sob a pele e liberam o hormônio ao longo de 6 meses a 1 ano.

Os hormônios esteróides (derivados da testosterona) são indicados para casos de deficiência hormonal ou outras condições consumptivas em que o efeito anabolizante é necessário, como em caquexia em pacientes oncológicos, por exemplo.

Segundo Thomáz Baêsso (@thomazbaesso), médico cirurgião do Instituto Nutrindo Ideais, com atuação em emagrecimento, hipertrofia e saúde sexual, estas substâncias são muito úteis na prática clínica para algumas doenças e condições clínicas, como em indivíduos sarcopênicos com baixa massa magra, pois esse hormônio diminui a chance do paciente ter fraturas ósseas e outras doenças relacionadas à deficiências hormonais de testosterona.

Riscos do uso indiscriminado do hormônio

O endocrinologista Guilherme Renke defende que a procura deve ser feita por meio do auxílio de um profissional responsável e que faça a indicação de maneira consciente e ética. Ele lista os riscos do uso indiscriminado, que passam por alterações físicas e de saúde:

  • Aumento da pressão arterial, levando a um estado de hipertensão;
  • Formação de placas (ateromas) nas artérias;
  • Aumento do colesterol;
  • Maior risco cardíaco, em consequência das situações acima. Especialmente de desenvolvimento de doença arterial coronariana;
  • Risco de falência renal em consequência do aumento da pressão arterial e da retenção de sódio;
  • Sobrecarga no fígado, causando hepatite medicamentosa, especialmente nos casos de anabolizantes orais, que são metabolizados pelo fígado;
  • Alteração de comportamento, com possibilidade de a pessoa ficar mais agressiva e agitada;
  • Risco de infertilidade;
  • Possibilidade de aumento da queda de cabelo e da calvície;
  • Acne;
  • Voz grossa;
  • Em caso de atletas profissionais, doping.

Em que casos a substância é liberada?

Guilherme Renke aponta que as substâncias seguem liberadas, dentro de condições respaldadas por sintomas e exames laboratoriais, em casos de:

  • Mulheres com transtorno sexual hipoativo (que gera queda de libido), incluindo as que estão na menopausa e não conseguiram resolver o problema com outros tipos de reposição hormonal;
  • Homens com hipogonadismo, condição em que a redução dos níveis de testosterona é acompanhada de sintomas que vão de alterações de humor a aumento da circunferência abdominal, passando também pela perda de libido;
  • Pessoas de qualquer idade com osteoporose grave;
  • Pessoas de qualquer idade com sarcopenia grave.

Com Assessorias

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