A influencer transexual Luiza Marilac quase morreu… tudo por causa de um implante de silicone industrial nos seios. Nesta quarta-feira (14), após todos os exames estarem normalizados e o quadro clínico apresentar evolução, a paciente recebeu alta médica. Sem dreno e sem secreção purulenta nas mamas, Luísa agora se recupera em casa, onde continua com os cuidados pós-cirúrgicos.
Luísa começou a sentir fortes dores e teve que ser internada às pressas devido a complicações em suas próteses de silicone. A revelação foi feita no último sábado (10 de setembro) pela irmã dela, Alice, que usou as redes sociais da famosa. Em nota, o médico que está cuidando de Luísa falou sobre o quadro clínico da influenciadora e alertou que ela corria o risco de sofrer uma infecção generalizada, caso não fosse prontamente atendida para a remoção da prótese.
“Ela teve uma infecção e precisou ser operada com certa urgência. Realmente era um caso que se não tivesse dado a devida atenção poderia ter evoluído para um caso de infecção generalizada. Tiramos rapidamente a prótese e lavamos a área. Ela ficou sem os seios, mas graças a Deus ela já está super bem, está se recuperando”, comentou Thiago Marra, médico responsável pelo caso.
Segundo ele, as próteses que usamos obviamente são próteses de altíssima qualidade. Ela ainda está sob cuidados médicos, tomando antibiótico e usando dreno. A primeira cirurgia realizada por Luisa Marilac com o Dr. Marra foi doada por Carlinhos Maia. Após a cirurgia ela teve uma contratura, a prótese ficou um pouco diferente e foi removida.
“Na sequência foi colocada outra, mas pouco tempo depois deu seroma, que é um acúmulo de líquido e ela foi imediatamente tratada. Quando pensamos que estava tudo resolvido, após quatro meses, a prótese acabou saindo devido a uma rejeição decorrente do processo inflamatório, relacionado ao silicone industrial”, relembrou o médico.
Os riscos do implante de silicone industrial
Thiago Marra alerta também sobre o perigo desse tipo de silicone industrial, que somam mais de 400 mil vítimas no mundo, muitas delas, mesmo que com vazamentos imperceptíveis, relataram vazamento, reações alérgicas, e suspeitas de câncer.
“Pode parecer uma alternativa mais em conta, mas os riscos associados a ele vão de deformações no contorno corporal até a morte. Esse tipo de silicone é nocivo à saúde. Ele não fica apenas no lugar onde é aplicado e se espalha pelo corpo, causando um quadro crônico de infecções”, comenta o especialista.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) proíbe o uso do silicone industrial em procedimentos estéticos no corpo humano, pois a substância tem como finalidade a limpeza de carros e peças de avião, impermeabilização de azulejos, vedação de vidros, entre outras utilidades.
“O desvio de sua correta utilização, servindo como material para cirurgia plástica, por exemplo, é considerado crime e pode causar sérios riscos à saúde. Mesmo sabendo dos riscos, existem pacientes e ‘profissionais’ que fazem esse tipo de aplicação, contra a lei, que danifica muito o corpo podendo até levar o paciente a óbito”, explicou Marra.
Explante é opção para muitas pacientes
Na contramão de Marilac, algumas pacientes optam pelo explante, depois de associar a existência da prótese a sintomas diversos, como dores articulares e queda de cabelos. Tanto que o número de remoções de implantes de mama aumentou 33% no Brasil, passando de 14,6 mil, em 2019, para 25 mil, no último ano, segundo dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica. A cirurgia para aumento da mama continua sendo um dos carros-chefe das plásticas no Brasil, com mais de 211 mil procedimentos no ano.
Para quem aplicou silicone industrial no próprio corpo, o especialista recomenda procurar um médico, mesmo que ainda não tenha sentido qualquer sintoma. Segundo ele, somente um profissional especializado poderá avaliar a gravidade de cada caso. Caso suspeite do uso de produtos utilizados de maneira incorreta, é possível entrar em contato com a Anvisa por meio da Ouvidoria (www.gov.br/anvisa/pt-br). Também é possível denunciar os casos diretamente à Polícia Civil (181 – Disque Denúncia).
Travesti sofreu com seroma em março
Os problemas com Luiza Marilac vêm desde março deste ano. Uma semana depois de trocar suas próteses de silicone, ela vinha sentindo inchaço e edema da mama direita por conta de um seroma, que é o acúmulo de líquido abaixo da pele, próximo à cicatriz cirúrgica. Além disso, passou a ter febre e diarréia, provocada pelo excesso de remédios para dores que passou a tomar.
Orientada por seu cirurgião plástico, Thiago Marra, ela foi até a unidade de pronto atendimento do Hospital Santa Rita, na Vila Mariana, em São Paulo, para realizar os procedimentos cirúrgicos necessários. Na ocasião, Luísa revelou em suas redes sociais ter sido vítima de transfobia ao tentar dar entrada na unidade. Ela disse que foi tratada no masculino e teve a internação para drenagem do seroma proibida durante 12 horas de espera.
“Na recepção já fui tratada com descaso e sendo referida pelo pronome errado, chamada de senhor. Expliquei que devo ser referida como ela, pois sou mulher. Eles não quiseram dar entrada nos documentos para minha internação e não apresentaram nenhuma justificativa. Na mesma hora acionei meu médico e a polícia”, contou, na ocasião.
O cirurgião plástico Thiago Marra contou que após 10 dias de pós-operatório, a paciente Luiza Marilac entrou em contato relatando o acúmulo do líquido de seroma. Segundo Marra, a influencer ficou de tomar medidas jurídicas sobre o ocorrido, e denunciou no Conselho Regional de Medicina a postura do Hospital Santa Rita, ao vetar o atendimento e a internação da paciente, e por mantê-la em espera por 12 horas.
“Direcionei a paciente para o Pronto Atendimento do Hospital Santa Rita da Vila Mariana, onde sou cadastrado no corpo clínico. Embora esse hospital tenha colocado em seu site, como uma referência em serviço de Pronto Atendimento 24 horas para clínica médica, motivo pelo qual solicitei a internação para que eu pudesse realizar o procedimento necessário, tivemos varias negativas da direção da unidade hospitalar sem justificativas. Somente após a repercussão nas mídias sociais o hospital liberou o centro cirúrgico para drenagem da mama sob anestesia local”, explica o cirurgião.
Faltam políticas públicas para transexuais
Para Marra, o caso de Luiza Marilac acende o alerta para a urgência de políticas de saúde voltadas para esse público. Segundo ele, o Brasil tem 4 milhões de pessoas trans e os descasos médicos sofridos com brasileiros matam mais que câncer, aponta um estudo da Unesp.
“Erros, negligência ou baixa qualidade do serviço podem ser uma das principais causas de morte dos brasileiros. A cada três minutos, cerca de dois brasileiros morrem em um hospital por consequência de uma negligência médica que poderia ser evitada. Essas falhas acarretaram em 434 mil óbitos, o equivalente a 1 mil mortes por dia, à frente de doenças cardiovasculares e câncer, que em 2021 mataram 339.672 e 196.954 respectivamente”, comenta o médico.
Membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgia Plástica, Thiago Marra é especialista em rinoplastia e realiza vários procedimentos como prótese de mama, mastopexia, lipoaspiração, harmonização facial e cirurgias estéticas pós redesignação sexual. Fora do centro cirúrgico, fundou a Associação de Dentistas Especialistas em cirurgias faciais, que visa combater a reserva de mercado e apoiar a classe da Odontologia, para a realização de procedimentos estéticos, como a harmonização orofacial. É também presidente da Associação Brasileira dos Profissionais de Saúde (Abrapros).