Se nos anos 80 e 90 as mulheres marcavam consultas com cirurgiões plásticos levando debaixo do braço páginas de revistas de moda, em 2021 basta um celular conectado ao Instagram para que uma enorme (e tantas vezes inatingível) coleção de fotos sirva de referência para a beleza dos sonhos.
Com tantos aplicativos e filtros que transformam o rosto e as formas corporais em poucos cliques a tela e feeds estão recheados de rostos retocados, é impossível não detectar, entre uma faixa etária cada vez mais jovem, uma dificuldade latente em se conectar com si mesmo – seja por dentro ou por fora. É aí que mora a motivação inicial por um rosto e um corpo que não é o seu e, tantas vezes, jamais poderá ser.
Quando se fala especificamente de redes sociais, vemos um aumento cada vez maior de preenchimentos – como lábio e malar – em pacientes jovens, o que não era comum até pouco tempo atrás. O que antes era usado em pacientes mais velhos para driblar a flacidez da pele, hoje em dia é usado cada vez mais por jovens que buscam a técnica para diferenciar os ângulos da face”, conta Tatiana Moura, cirurgiã plástica e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
Para a médica, muito disso se deve ao hábito cada vez mais frequente de tirar selfies e fotos e se ver através da lente de uma câmera, além de tantas contas sendo seguidas no Instagram, no país que mais faz plásticas no mundo – primeiro implante de mama, depois de lipoaspiração.
O abdômen com definição muscular tem sido uma busca constante através das novas técnicas de lipoaspiração, antigamente o método retirava apenas a gordura localizada, atualmente com as novas técnicas (HD e 3D) se faz a lipo em todo segmento para diminuir a espessura da gordura subcutânea como um todo e assim fica mais fácil visualizar a musculatura em baixo na pele. A outra técnica forma os gominhos musculares desenhados na própria gordura. Ambas as técnicas acabam aumentado o risco dessas cirurgias.
Dra. Tatiana Moura explica que essas técnicas atuais que oferecem definição muscular são realizadas justamente em pessoas magras; servem para suprir um desejo estético. “O paciente ideal para esse procedimento está dentro do peso e não tem flacidez de pele”, diz Tatiana.
Riscos e contraindicações
Como qualquer cirurgia, a lipo seja ela clássica, HD, 3D oferece riscos aos quais é preciso dar atenção. Inicialmente, quem deseja passar pelo procedimento deve procurar um médico de confiança, realizar vários exames e passar por uma avaliação cardiológica.
Os riscos de quem vai para a mesa de cirurgia são os mesmos de uma lipoaspiração convencional, que podem envolver infecções, hematomas, trombose e inflamações. Por isso, é preciso que haja uma boa investigação e observação de como está o organismo do paciente e que ele procure um cirurgião especialista no procedimento.
“No caso da Lipo HD as contra-indicações são para pacientes que estejam muito acima do peso, que possuam flacidez de pele e diástase do músculo reto abdominal. Pacientes que fumam e diabéticas possuem contra indicações relativas, ou seja, deve ser avaliado caso a caso. Depois da cirurgia, deve-se fazer drenagem linfática especializada para esse tipo de procedimento, e o uso de malhas compressoras também é essencial”, completa a cirurgiã.
A médica reforça que é importante conscientizar qualquer busca de resultado a partir de uma foto, até porque uma foto de alguém que você segue no Instagram não é você, e não sabemos nem se a imagem está tratada no Photoshop. “Quando a pessoa chega assim, a gente tenta cortar de cara”, essa distorção já existia e foi potencializada pelas redes sociais. O que mudou é que as pessoas têm muito mais exemplos, e tudo parece muito mais possível e atingível. A relação ficou, de forma ilusória, mais próxima, ao contrário do que se acontecia com as revistas de moda”, completa.
Traçando um paralelo entre a febre da harmonização facial e lipo HD por exemplo, os pacientes acabam querendo injetar cada vez mais e sem qualquer critério, e reverter o processo pode ser complicado”, analisa, outros já com perfil magro querem definição muscular por meio da cirurgia, porém, é necessário sempre avaliar os prós e contras, indicações e o fator de que estamos falando de um procedimento cirúrgico com riscos.
Dra. Tatiana acredita em se trabalhar sempre a autoestima, cabe também aos médicos conversar e incentivar que o paciente se olhe com mais carinho e apreciação, e menos como uma espécie de massinha que pode ser moldada para se enquadrar em um estereótipo.
Tendências são passageiras mesmo – e ficam datadas. Quem ainda quer uma calça skinny à la Beetlejuice? A diferença é que ela dá para guardar no fundo do armário ou passar adiante. O corpo segue com a gente. E quanto mais você mexer nele, mais difícil pode ser de você se ver. Tudo ser feito com responsabilidade e consciência!”, completa a cirurgiã plástica.
Identificar o paciente com transtorno dismórfico corporal é o primeiro passo
O Transtorno Dismórfico Corporal (TDC) é caracterizado pela preocupação exagerada de algum defeito na aparência. É uma pessoa que, mesmo com a realização de uma cirurgia plástica, poderá não ficar satisfeita. Por isso, Fernando Amato, médico cirurgião plástico, explica que é muito importante, durante a consulta, identificar esse perfil de paciente.
“São pessoas que buscam na cirurgia um resultado que nunca será atingido, ou seja, mesmo que fique excelente, o paciente não visualizará isso e sempre buscará mais e mais procedimentos, podendo colocar a sua vida em risco. A anorexia e a bulimia são transtornos semelhantes e que também levam muitas mulheres à procura da lipoaspiração”, comenta Dr. Amato.
O médico explica ainda que é muito comum receber pacientes com TDC e identificar esse perfil antes do procedimento é fundamental. “Desta forma, podemos alinhar com o paciente as expectativas diante do que realmente pode ser alcançado com a cirurgia plástica. Antes do procedimento, eu procuro fazer três consultas com o paciente, aplico questionários que me auxiliam na identificação do TDC, com o objetivo de ouvir deles os seus anseios, expectativas relacionadas ao procedimento desejado, detalhando honestamente para o paciente até o ponto que podemos chegar com a cirurgia”, conta Dr. Amato.
Com Assessorias