Fevereiro é marcado não somente pelo Dia Mundial do Câncer (4/2), mas também pelo Dia Internacional de Luta contra o Câncer Infantil (15/02), datas que visa alertar sobre a importância do diagnóstico precoce e estimular ações que visem combater a doença. De acordo com a Childhood Cancer International (CCI), mais de 400 mil crianças no mundo desenvolvem câncer a cada ano.
Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) apontam que o câncer é a primeira causa de morte por doença entre crianças e adolescentes de zero a 19 anos no Brasil. A estimatva é que que, no triênio 2023/2025, ocorrerão no Brasil, a cada ano, 7.930 novos casos de câncer infantojuvenil.
O Dia Internacional do Câncer Infantil é uma iniciativa global organizada pela CCI e tem por objetivo destacar a importância do envolvimento e apoio das comunidades no enfrentamento dos desafios relacionados à doença. A data contribui para lembrar aos pais e responsáveis que, quando se trata de crianças e adolescentes, o diagnóstico precoce é a chave para um tratamento menos agressivo e mais eficaz.
Com a terapia adequada, a maior parte dos diagnosticados pode sobreviver e ter qualidade de vida. No entanto, nem todos têm diagnóstico e tratamento em tempo adequado. Em países de alta renda, 80 a 85% podem sobreviver. Já no Brasil, o percentual varia de região para região – as taxas são mais elevadas no Sul e Sudeste e menores no Centro-Oeste, Nordeste e Norte. A média nacional é de 64%.
Isso significa que, apesar dos avanços no diagnóstico e tratamento, os índices de sobrevida não apresentaram melhorias significativas ao longo dos anos. “Diversos fatores interferem tanto nessa discrepância quanto nas taxas de sobrevida, sendo talvez o mais importante o atraso no diagnóstico”, afirma Maristella Bergamo, oncologista pediátrica da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (Sobope).
Diagnóstico Precoce do Câncer na Criança e Adolescente
Algumas pesquisas buscam elucidar as causas e efeitos do diagnóstico tardio. Recente revisão sistemática de 95 estudos realizados em países de baixa e média renda apontou alguns dos principais fatores que influenciam neste aspecto: crença na medicina tradicional, renda familiar, falta de transporte e distância dos centros especializados.
Dados da cartilha “Diagnóstico Precoce do Câncer na Criança e Adolescente”, publicada pelo Inca, mostram que o tipo e a localização do tumor, assim como a idade do paciente, a distância do centro de referência e os entraves no sistema de encaminhamento contribuem para o atraso no diagnóstico. “Isso pode acarretar em necessidade de tratamento mais agressivo, maior possibilidade de sequelas e menores taxas de cura”, explica Dra. Maristella.
Diferentemente do adulto, para o qual a adoção de hábitos saudáveis e a não exposição a agentes cancerígenos (radiação solar, substâncias químicas, poluição) diminuem o risco de desenvolvimento do câncer, os tumores infantis raramente são ligados a estilo de vida e fatores ambientais. Dessa forma, de modo geral, não há como prevenir a doença, mas sim detectá-la em seus estágios iniciais para aumentar as chances de cura.
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Taxa de cura chega a 70% em centros especializados
Quando identificados no início e tratados em centros médicos especializados em oncologia pediátrica, os tumores chegam a apresentar, no Brasil, taxa de cura de 70%, média alcançada pelo Hospital do GRAACC, considerado uma referência no tratamento do câncer infantil. Em algumas neoplasias, como o tumor de Wilms (renal) e o retinoblastoma (ocular), esse índice pode ultrapassar 90%.
Quanto mais cedo a doença for descoberta e o tratamento iniciado, maiores são as chances de alcançarmos bons resultados. Em seu estágio inicial, o tumor, em geral, se encontra no local de origem, ou seja, não se espalhou para outros órgãos ou tecidos”, explica Andrea Cappellano, oncologista pediátrica do Hospital do GRAACC e presidente da Sociedade Latino Americana de Oncologia Pediátrica (SLAOP).
A médica lembra que as neoplasias infantojuvenis geralmente respondem melhor à quimioterapia convencional do que as do adulto, e a recuperação é mais rápida. Neste ano, a campanha da CCI visa mapear ações impactantes de combate ao câncer infantil implementadas em níveis local e global para inspirar esforços futuros.
No GRAACC, vemos a pessoa antes do paciente e da doença. Durante o tratamento, oferecemos oportunidades de manutenção dos estudos, socialização, brincadeiras e de procedimentos com menos dor. Toda a comunidade do GRAACC, da recepção aos médicos, se empenha em acolher as crianças e suas famílias e a garantir que tenham a perspectiva de um bom e longo futuro”, afirma a Dra. Andrea.
Sinais e sintomas do câncer infantil
Os principais sinais e sintomas relacionados ao câncer infantojuvenil são semelhantes aos de doenças comuns da infância. Por isso, o olhar do especialista é essencial para evitar que os tumores passem despercebidos, assim como a conscientização dos pais e responsáveis, que devem observar atentamente a criança e buscar atendimento médico quando houver alguma suspeita. Além disso, são necessárias consultas periódicas de rotina ao pediatra, oftalmologista e dentista.
Para os especialistas da Sobope, é imperativo que o médico esteja atento e vigilante para um diagnóstico precoce e encaminhamento o mais rapidamente possível ao centro de referência, levando em conta tanto a queixa quanto outros fatores, como a história familiar de câncer.
A febre e cansaço podem acometer pacientes com leucemia; gânglios, pessoas com linfoma; dores de cabeça, aqueles com tumores cerebrais, entre outros exemplos que ilustram como o quadro pode confundir família e médico, levando à demora no diagnóstico e início do tratamento.
Não se trata de um paciente com câncer sozinho. A oncologia pediátrica é feita com muitas mãos, com muitos profissionais de diversas áreas atuando para diminuir a desigualdade e aumentar a sobrevida de todas as crianças e adolescentes com câncer ao redor do mundo. Ganhar tempo no diagnóstico é o primeiro passo”, conclui a especialista.
- Febre persistente sem causa aparente e que não melhora com antibióticos ou medicamentos
- Perda de peso recente
- Palidez ou manchas roxas na pele sem causa conhecida
- Dor de cabeça matutina frequente e progressiva
- Vômitos que podem ser em jato e, por vezes, associados à dor de cabeça
- Convulsão sem febre
- Fraqueza ou paralisia de um lado do rosto ou corpo
- Gânglios aumentados (ínguas) por período superior a três semanas
- Reflexo branco no olho ao tirar fotografia com flash
- Inchaço em um dos olhos, olho torto ou estrabismo
- Inchaço nas gengivas, amolecimento repentino dos dentes com perda dentária anormal para a idade
- Falta de ar sem histórico de febre, asma ou alergia
- Presença de sangue na urina
- Aumento do tamanho de um ou dos dois testículos
- Barriga inchada ou endurecida
- Desenvolvimento puberal muito adiantado para a idade
- Dor óssea persistente ou progressiva
- Dor ou inchaço nas articulações sem causa conhecida
- Aparecimento de inchaço, nódulo, “bola” em alguma parte do corpo sem relação com trauma
- Pressão alta
Com Assessorias