No Brasil, excluindo os tumores de pele não melanoma, o câncer de mama é o mais incidente em mulheres em todas as regiões e a principal causa de morte dessa população. Neste ano, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima  66.280 casos novos, o que representa uma taxa ajustada de incidência de 43,74 casos por 100 mil mulheres. Portanto, faz todo sentido que as campanhas de conscientização tenham foco nas mulheres.

Mas também é importante alertar que o câncer de mama pode acometer os homens, apesar de ser mais raro. Segundo o Inca, somente 1% dos casos de câncer de mama são masculinos, ou seja, para cada 100 casos da doença, um é na mama masculina. Estima-se que no Brasil sejam  diagnosticados pelo menos 500 casos anuais de câncer de mama em homens, a maioria deles entre os 65 e 70 anos.

Embora raro, o câncer de mama pode apresentar estágio avançado, quando diagnosticado tardiamente. Isso porque a  baixíssima incidência dificulta o rastreamento, pois não existe protocolo de mamografia anual, como o recomendado às mulheres e ainda não é caracterizado como um problema de saúde pública.

Da mesma forma que nas mulheres, no entanto, o diagnóstico precoce é fundamental para aumentar a chance de cura da doença. Mas por ser esse tipo de câncer pouco conhecido, a maioria dos homens não procura atendimento médico diante de uma massa ou nódulo em seu peito, o que retarda o diagnóstico da doença.

“Claro que não é o caso de inserir os homens na recomendação de realização de mamografia anual, a partir dos 40 anos, como defendem as sociedades médicas para as mulheres, mas é importante que o público masculino esteja informado sobre os principais fatores de risco para que possa prevenir e ter acesso ao diagnóstico precoce”, recomenda o cirurgião oncológico e urologista Gustavo Cardoso Guimarães, diretor do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR) e coordenador geral dos Departamentos Cirúrgicos Oncológicos da BP-A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Neoplasia pode ser confundida com ginecomastia

A incidência é maior após os 50 anos e, na maioria dos casos, o paciente tem entre seus familiares pessoas que já desenvolveram outros tipos de câncer, especialmente de mama e de ovário. O alerta dos médicos é que ao primeiro sinal de alterações do mamilo, o paciente deve procurar um mastologista que vai analisar possível aumento da mama no homem, presença de caroço, queixa de dor unilateral e secreção. É preciso ficar atento a outros indicadores:  insuficiência hepática, cirrose, uso abusivo de álcool, aumento súbito de peso, ingestão do hormônio estrógeno e anabolizantes, podem favorecer o crescimento do tumor.

Como geralmente a glândula mamaria masculina é atrofiada, com hormônio feminino (estrógeno) baixo em relação às mulheres, a neoplasia pode ser indolor e confundida com outras doenças como a ginecomastia, que nada mais é do que um crescimento benigno das mamas nos homens, causado por uso de medicamentos ou por desequilíbrio hormonal.

Os principais sinais de alerta são alterações na mama, como retração do mamilo (achatamento), inversão (quando cresce para dentro) ou secreção (liberação de fluido), assim como vermelhidão ou descamação do mamilo ou pele da mama. Guimarães informa que nem sempre esses sintomas estão relacionados a câncer de mama. “Eles podem ocorrer devido a algum tipo de infecção, mas é essencial consultar um médico na presença desses sinais”, afirma.

Como a mama masculina é pequena e os nódulos são atrás do mamilo, geralmente não é possível fazer cirurgias conservadoras (que retiram apenas parte da mama). A cirurgia costuma ser a retirada de toda a mama com a aréola e o mamilo (mastectomia total), com a cirurgia axilar (retirada de um gânglio – linfonodo sentinela – ou de vários gânglios da axila) no mesmo tempo cirúrgico. Outros tratamentos podem ser necessários, como nas mulheres: quimioterapia, radioterapia ou bloqueio dos hormônios, dependendo do tamanho do tumor e de suas características biológicas.

Testes genéticos são opção para detectar doença

O câncer de mama masculino tem como principal fator de risco a presença de variantes patogênicas herdadas no gene BRCA2, um importante guardião de integridade do DNA. Mais recentemente alguns estudos demonstraram que outros genes além de BRCA2 podem estar ligados ao desenvolvimento da doença. Genes como BRCA1, PALB2, ATM e CHEK2 também têm sido ligados ao câncer de mama em homens.  Como uma parcela importante destes casos está ligada à presença destas alterações, a chance de cura pode estar na detecção e diagnóstico precoce da doença.

Os chamados testes genéticos podem ser uma opção para a identificação do risco de desenvolvimento da doença. Estudos populacionais mostram que em torno de 2% e 13% dos casos de câncer de mama masculino estão ligados a presença de variantes patogênicas germinativas em BRCA1 e BRCA2, respectivamente. O risco de câncer até os 80 anos de idade é estimado entre 5-10%, significativamente maior do que na população geral (0.1%).

São indicados para pessoas que possuem histórico familiar de câncer de mama antes dos 50 anos de idade, câncer de ovário, câncer de mama masculino, dentre outras características. Porém, ele também pode ser feito por qualquer pessoa que tenha interesse em se prevenir e cuidar da própria saúde.

No laboratório Igenomix os exame é feito a partir da obtenção do DNA proveniente de uma  amostra de sangue (ou saliva em alguns casos). O DNA é então avaliado quanto a presença de alterações na sequência de genes específicos, conhecidos como supressores tumorais. A identificação de uma alteração em sua sequência (conhecida como mutação ou variante patogênica) pode significar que o gene perdeu seu papel protetor contra tumores. Desta forma o indivíduo torna-se mais suscetível a câncer. Portanto, cabe ao médico orientar a paciente sobre medidas de prevenção conforme o risco de desenvolvimento da doença.

Fatores de risco de câncer de mama em homens

Entre os fatores que aumentam o risco de câncer de mama no público masculino estão:

Exposição a níveis mais elevados do hormônio estrogênio em relação ao hormônio masculino (androgênio).

Ter recebido radiação, por exemplo, para tratamento de câncer de pulmão ou linfoma.

Apresentar histórico de algum câncer de mama feminino ou masculino na família.  Cerca de um em cada cinco homens com câncer de mama têm pais, irmãos ou filhos com a doença.

Assim como nas mulheres, nos homens as formas hereditárias de câncer de mama estão relacionadas às mutações nos genes BRCA1 ou BRCA2. Homens com histórico familiar devem ser encaminhados ao serviço de Oncogenética para aconselhamento. Além de investigar as mutações nos genes BRCA 1 e BRCA 2, é recomendável incluir outros genes nesta análise, dentre eles CHEK2, PTEN e PALB2. 

Veja mais no Especial Outubro Rosa

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