Bullying e homofobia teriam sido o pano de fundo para um novo ataque violento em escola. É o que alega a defesa do adolescente de 16 anos que matou a tiros uma estudante de 17 e feriu outras três na manhã desta segunda-feira (23), em São Paulo, o que seria confirmado na versão de outros alunos. Ele usou a arma do pai – que era legal – para o crime.

Segundo as investigações, a mãe do autor dos disparos havia feito registro de ocorrência no dia 24 de abril deste ano, alegando que o filho tinha sofrido agressões e ameaças homofóbicas em outra escola onde estudava.

Giovanna, de 17 anos, levou um tiro na cabeça e morreu na hora (Reprodução de redes sociais)

O ataque – que é contabilizado como o  11º com vítimas registrado este ano em escolas brasileiras – ocorreu por volta de 7h30 na Escola Estadual Sapopemba, na zona leste de São Paulo. A estudante Giovanna Bezerra da Silva, de 17 anos, foi atingida na cabeça quando descia as escadas da escola ao ouvir os disparos e não resistiu aos ferimentos.

Giovanna cursava o 3º ano do Ensino Médio e morava próximo à escola onde estudava. Segundo a família, a adolescente tinha conseguido seu primeiro emprego há um mês, na área administrativa, e tinha acabado de receber seu primeiro salário. Ela tinha o sonho de se formar advogada. Nas redes sociais, também declarava sua paixão pelo vôlei.

Outras duas estudantes baleadas têm quadro estável e não correm risco de morte. Uma das vítimas que sobreviveu foi atingida no tórax e a outra, na clavícula. Elas foram encaminhadas ao Hospital Geral de Sapopemba. Uma quarta vítima teve ferimentos leves durante a fuga após o ataque, segundo informações do Governo de São Paulo.

Arma usada no crime era do pai do suspeito

O revólver calibre 38 usado no ataque desta segunda-feira pertence ao pai do suspeito, um motociclista que tinha porte legal de arma. O adolescente vestia uma camisa de uniforme do colégio, onde cursava o primeiro ano do Ensino Médio.

Ele entrou na unidade pouco depois das 7h e atirou contra vários outros estudantes. A Polícia Militar foi acionada por volta de 7h30. O suspeito se entregou e foi encaminhado ao 70º Distrito Policial, onde a arma ficou apreendida.

Em nota, o Governo de São Paulo lamentou a tragédia e afirmou que prestará apoio psicológico aos alunos e que a prioridade é atender as vítimas. Seg

“O Governo de SP lamenta profundamente e se solidariza com as famílias das vítimas do ataque ocorrido na manhã desta segunda-feira (23) na Escola Estadual Sapopemba. Nesse momento, a prioridade é o atendimento às vítimas e apoio psicológico aos alunos, profissionais da educação e familiares”.

Defesa alega que autor dos disparos sofria bullying e homofobia

Antonio Edio, advogado do suspeito, diz que o crime foi motivado por situações de bullying e homofobia sofridas pelo adolescente dentro do colégio. Segundo ele, o suspeito teria relatado que não tinha a intenção de atirar na estudante que morreu no ataque e que ela não tinha relação com os casos de homofobia e bullying.

“Ele me narrou que já não aguentando mais essa situação de homofobia que sofria na escola. Resolveu pegar uma arma de fogo que estava na casa do pai dele, arma que pegou escondido, sem a ciência do pai, e veio para a casa da mãe, sem que a mãe tivesse conhecimento. Cedo foi para a escola e resolveu fazer isso”, disse o advogado.

Edio afirmou que a mãe do adolescente teria registrado boletim de ocorrência por conta da homofobia que o filho sofria. Ela chegou a levar a queixa ao conhecimento da escola. “Mas a única coisa que a escola fez foi dizer para a mãe trocar [o filho] de escola”, disse. Segundo testemunhas, o adolescente detido não era visto como uma ameaça pelas psicólogas da escola, apesar de não ter passado por atendimento clínico na unidade.

Estudantes dizem que adolescente avisou sobre ataque

Estudantes ouvidos pelo Uol afirmaram que o adolescente era perseguido por colegas e que constantemente apanhava na escola. Ele avisava “havia semanas” que praticaria um atentado contra seus agressores. Em im vídeo recente o jovem aparece em luta corporal com duas colegas de sala.

“Ele brigava muito na escola”, afirmou um aluno de 16 anos que estava na escola no momento dos tiros. “Ele avisou há semanas. Ele falava que ia atacar a escola e ninguém fez nada.”

“Todo mundo sabia, a diretora também”, disse Regina Bezerra, mãe de um aluno, que foi até a casa da mãe do autor dos disparos avisar que o filho dela estava “atirando em todo mundo na escola”.

À CNN, a esteticista Bianca Arantes, vizinha da escola e irmã de um aluno, confirmou a versão de que o suspeito havia sofrido bullying e planejava um ataque à escola. “Um aluno que sofria bullying vinha avisando as meninas que ia fazer um massacre. Hoje ele saiu da sala e voltou atirando”, disse.

Bianca socorreu o irmão e mais quatro estudantes da escola, que ficaram muito nervosos em meio ao tumulto, e os levou para casa em seu carro. “Uma menina que estava aqui era da sala onde teve os tiros”,  disse. Segundo Bianca, “inicialmente todos pensaram que era uma bombinha”. “Ele saiu atirando sem olhar quem. Depois foi atrás das vítimas na escada. Foi uma correria”.

vida & ação – Especiais Bullying e Escola Segura

NOTA DA REDAÇÃO – Atento a esse grave problema que ronda as escolas de todo o país e ameaça a segurança de crianças, adolescentes e profissionais de Educação, o Portal ViDA & Ação iniciou no mês de abril a série especial Escola Segura, ouvindo diversos especialistas em Saúde Mental, Educação e Segurança.

Desde a última sexta-feira, 20, Dia Mundial de Combate ao Bullying, reeditamos a série Especial Bullying, chamando atenção para o problema, especialmente no ambiente escolar. Ao longo desta semana, ouviremos mais especialistas a respeito.

Relatos sobre bullying, racismo, nazismo, xenofobia, LGBTIfobia, preconceito racial, religioso ou de classe em escolas podem ser enviados ao whatsapp (21) 97640-8310 ou pelo email redacao@vidaeacao.com.br (preservamos o anonimato da fonte).

Ronda escolar e atendimento psicológico

Em coletiva de imprensa nesta tarde, o governador Tarcísio de Freitas disse que a escola já contava com ronda escolar e realizou cerca de 15 atendimentos psicológicos com alunos em 2023. Além disso, um treinamento contra agressão ativa também foi ministrado na unidade.

“Ainda assim não foi suficiente. Está havendo um esforço muito grande da Secretaria de Segurança Pública:  só neste ano, 165 tentativas ou suspeitas [de ataques a escolas] foram frustradas no Estado. Mas, por mais que você evite uma série de ocorrências, quando você falha em evitar uma, fica a dor e a necessidade de rever tudo que estamos fazendo para evitar novos casos”, disse Tarcísio.

O ministro da Justiça e Segurança Pública Flávio Dino disse que o governo federal foi acionado para ajudar nas investigações por meio da sua conta no X (antigo Twitter). “Solidariedade às vítimas, suas famílias e à comunidade da escola estadual de São Paulo, alvo de ataque com arma de fogo. Laboratório de Crimes Cibernéticos do Ministério da Justiça foi acionado para auxiliar a Polícia de São Paulo a aprofundar as investigações”, disse.

Veja os outros ataques em escolas ocorridos este ano

Pelo menos cinco ataques dos 11 registrados este ano em escolas no país deixaram oito vítimas fatais. Na capital paulista, a professora de uma escola estadual foi morta por um estudante de 13 anos no bairro da Vila Sônia, zona oeste.

Em Poços de Caldas (MG), um ex-aluno matou um adolescente a facadas. Em Blumenau (SC), o ataque com uma machadinha ocorreu em uma creche e matou quatro crianças entre 5 e 7 anos. Já em Cambé (PR), dois adolescentes morreram.

Em abril, o governo federal anunciou um investimento de R$ 3 bilhões para combater os ataques em escolas. A ideia é que o dinheiro seja revertido em projetos de incentivo à paz nas escolas, no programa Escola Segura.

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Com informações do Uol e agências (atualizado em 24/10/23)

 

 

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