Pelo menos um quarto dos adolescentes brasileiros afirma sofrer bullying na escola. A constatação é da última edição da Pesquisa Nacional de Saúde Escolas (PeNSE 2019), que entrevistou alunos do 7º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio. O estudo, realizado pelo IBGE, apurou que 23% dos jovens se sentiram humilhados pelos colegas nos últimos 30 dias antes da entrevista. E ainda que 13,2% deles se sentiram ameaçados, ofendidos ou humilhados nas redes sociais, ou aplicativos.

Levantamento feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) com 2.702 alunos do Ensino Fundamental mostra ainda que 23% relataram ter sido vítima de outras formas de violência no ano anterior. Consumo de álcool, relação com os pais e com os amigos foram os fatores mais associados ao fenômeno. Práticas como o bullying estão muitas vezes relacionadas a episódios de ansiedade e depressão relatados por crianças e adolescentes.

Escolas devem desenvolver habilidades emocionais dos estudantes

Miriam Sales, coordenadora pedagógica da Mind Lab, que trabalha no desenvolvimento de habilidades socioemocionais na educação pública, reflete sobre os caminhos que a escola precisa seguir para construir bases sólidas contra a ocorrência de bullying entre seus alunos:

1. Entender o que é bullying e cyberbullying

Ao entrar para o vocabulário cotidiano, é comum que uma palavra se desgaste e as pessoas esqueçam seu verdadeiro sentido. Por isso, o primeiro degrau rumo ao nosso objetivo de erradicar o bullying é entender exatamente o que ele é. Essa definição será importante, também, no trabalho com os alunos. Por isso, vamos definir o bullying e sua variação virtual:

Bullying: forma de agressão praticada por um ou mais estudantes contra outro(s), de maneira intencional e repetidamente, sem motivação evidente, causando dor e angústia. Geralmente envolve uma relação desigual de poder.

Cyberbullying: prática do bullying no ambiente virtual, com violência contra a dignidade do outro, com alcance ampliado pela capacidade de propagação nas redes virtuais.

2. Conscientizar a equipe escolar sobre o tema bullying

Um professor pode fazer um excelente trabalho com sua turma. O bullying, porém, costuma ser um problema estrutural. E a melhor forma de atacá-lo, portanto, é num amplo projeto pedagógico de toda a escola, que inclua a formação de valores, dinâmicas de ensino e de aprendizagem mais colaborativas, estímulo à solidariedade e criação de canais mais efetivos de comunicação entre professores e alunos. Leve a questão para uma reunião da equipe pedagógica e proponha uma abordagem ampla em toda a escola.

3. Trabalhar valores

Um passo fundamental para combater o bullying é desenvolver a empatia por meio do ensino de valores essenciais para a convivência, como respeito, amizade e solidariedade. A sua escola pode escolher os valores que identifica como mais importantes e estruturar o trabalho de cada valor por bimestre.

Uma ideia para iniciar o trabalho do respeito, por exemplo, pode ser a distribuição de folhas para todos os participantes da comunidade escolar – funcionários, professores, alunos, gestores e familiares – com a seguinte frase: “Eu me sinto desrespeitado quando…”. Peça que cada um complete essa frase.

O resultado pode ser colado pelas paredes da escola, como num grande mural de atitudes a serem combatidas. Essa atividade é um excelente ponto de partida para identificar o sentimento da comunidade e dar o passo para o quarto degrau.

4. Criar projetos interdisciplinares

Os valores, em geral, são temas transversais que podem resultar em excelentes projetos interdisciplinares que envolvam professores das diferentes disciplinas. Abuse da criatividade e da capacidade de trabalhar em grupo para criar projetos que ajudem no trabalho dos valores, ao mesmo tempo que integram os conteúdos da grade e desenvolvem habilidades e competências previstas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

5. Dar espaço para os alunos falarem

Muitas vezes, a violência é uma forma de manifestação que nasce do sentimento de impotência. Os alunos querem ter espaço para se colocar e para serem ouvidos. Pense em formas de dar vazão a essa necessidade. Pode ser por meio da organização de grêmios estudantis, ou de um grande conselho de representantes de classe que se reúna uma vez por mês, por exemplo, no qual eles possam trazer as dificuldades e angústias de suas turmas. Além de abrir o canal de comunicação, é uma ótima maneira de difundir a ideia de participação democrática.

6. Interferir individualmente em casos concretos

Todo o trabalho institucional é importante para acabar com o bullying de maneira estrutural, mas isso não significa que problemas pontuais devam ser colocados de lado ou ignorados. Se você identificar um caso de bullying em curso, chame os envolvidos para conversar. Pontue como as atitudes estão atingindo de forma violenta as vítimas e converse com os agressores. Ouça o que eles têm a dizer e mostre como e por que estão agindo de forma errada.

Com Assessorias

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