A jornada da boneca Barbie, tanto no filme, quanto ao longo de sua história, pode ser vista como uma oportunidade de importantes reflexões sobre o papel da mulher na sociedade e as atualizações deste papel ao longo dos anos.
Diferentemente do que muita gente imagina, o filme da Barbie está longe de nutrir o ideal da mulher ser o sexo frágil. A história da boneca aponta para uma mulher forte e independente, começando pelo slogan: “você pode ser tudo que você quiser”. Prova disso são as inúmeras profissões que a boneca teve ao longo da história, sendo mais de 180 carreiras.
Algumas, ainda dominadas por homens, como: astronauta, piloto de avião, engenheira robótica, piloto de corrida, desenvolvedora de jogos, entre outras. A psicóloga Ana Streit chama a atenção para o que estes aspectos da personagem ensinam para as mulheres.
“A Barbie mostra para mulher que ela é importante e valiosa. Que pode ter a carreira que quiser, e, principalmente que somos protagonistas de nossas vidas”.
Hoje, a mulher tem um espaço maior no mundo dos negócios, mas que foi conquistado aos poucos. E ainda está longe de ser o ideal. Mas, a Barbie já vem apontando isso há pelo menos 60 anos.
“Outra lição que o filme aponta é que o parceiro dela o Ken, é secundário. Ela existe e faz sucesso sem necessariamente ter uma figura masculina ao lado para garantir o seu valor na sociedade. Tem muita mulher que não se sente plena por não ter um relacionamento ou mesmo, que se sujeita a um companheiro abusivo, só para não ficar sozinha. Quantas meninas nunca tiveram um Ken e sempre brincaram felizes com sua Barbie?” diz Ana.
Outro ponto, é a tendência social que cobra a mulher para ter filhos e uma família. Foram lançadas alguns pequenos bonecos, que fizeram o papel de filhos, mas, isso não é o centro da história da.
“O convite implícito é que existe a possibilidade da mulher escolher se quer ter filhos ou não, e, se quer quer ter um relacionamento conjugal, ou não. Mas, nada disso é compulsório, e sim, uma escolha”, pontua a psicóloga.
Antes mesmo do lançamento do filme, nos desenhos da Barbie, a personagem já trazia alguns ensinamentos. Ela passava por processo de altos e baixos e sempre conseguia resolver os empecilhos por ela mesma sem a necessidade de um “salvador”, mesmo com um par no final.
Segundo a psicóloga, o filme aborda questões que devem ser refletidas pelas mulheres, como: a realidade de uma sociedade patriarcal e os impactos do machismo no que uma mulher entende que sejam seus sonhos e desejos, bem como, os desafios enfrentados pelas mulheres no seu espaço profissional.
“A psicologia não é uma ciência desconectada da sociedade, pelo contrário. É preciso compreender as questões contextuais que nos impactam como seres humanos, e que se interrelacionam constantemente com o nosso mundo interno”, finaliza Ana Streit.
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O filme ‘Barbie’ explora um movimento há muito observado nas redes sociais. Ao se apoiar no slogan “você pode ser tudo que quiser”, o filme incita a pergunta para sua audiência: o que você quer ser? “A autopercepção é a base da psicanálise e é um tema que faz sucesso porque aflige a todos. Você pode ser a favor desse movimento, ou ser contra, mas dificilmente é indiferente”, diz o psiquiatra Arthur Guerra, do Hospital Sírio-Libanês.
Segundo explica o especialista, o filme recém-lançado da Barbie, a boneca mais famosa do mundo, explora o que estamos vendo acontecer nas redes sociais hoje no Brasil e no mundo. Todo o trabalho de busca pelo autoconhecimento, ligado ao núcleo da identidade – quem eu sou, onde estou e para onde quero ir –, abordado pelo filme está passando à margem de outras questões discutidas no longa metragem. “Ao compartilhar nossas vidas em rede, moldamos uma verdade que não é necessariamente a realidade. Nas redes sociais, como na vida idílica da boneca, podemos ser quem queremos ser”, afirma Guerra.
“Os grandes influenciadores digitais trabalham com o objetivo de ampliar seu alcance, seu engajamento, seus seguidores. Essa é a cenoura da ponta, e diariamente essas pessoas vão renunciando a suas verdades pessoais para alcançar esse objetivo”, pondera o psiquiatra.
A personalidade de uma pessoa é formada por duas importantes esferas: o seu temperamento – com que a pessoa já nasce; e seu caráter – formado pela sua educação. Para alcançar o sucesso nas redes sociais, muitas pessoas decidem qual será a moeda de troca para uma identidade plástica, artificial como a boneca, e isso é parte do movimento que estamos observando hoje na criação de personagens nas redes sociais, que são, muitas vezes assim como a Barbie, modelos estereotipados.
“Ao contrário de fortalecer esse movimento Barbie nas redes sociais, seria muito importante que esse filme alavancasse uma busca maior pela sua verdade, que as pessoas façam uma reflexão sobre autoconhecimento, e enxerguem sua vida de forma mais ampla”, aponta o especialista.
Saber quem você quer ser, nas redes sociais, significa se colocar numa posição em que você busca validação por pessoas que você não sabe quem são. “A sua saúde mental é afetada quando você só se sente validado se for reconhecido por outra pessoa. Você só se sente bonito(a) quando outra pessoa elogia sua beleza”, explica Sara Roberta dos Santos, consultora de imagem do Hospital Sírio-Libanês.
A busca pelo autoconhecimento é cheia de ciladas e o apoio de um profissional pode ajudar a navegar esse caminho, explica Sara. “A insegurança vem da necessidade da pessoa se sentir validada, e nesse ponto, as redes sociais pode ser uma armadilha para algumas pessoas”, explica.
O filme Barbie traz novamente à tona esse padrão de beleza, e isso causa uma comparação de corpo, de tom de pele, de aparência. “O número de likes num post pode ser uma validação de um padrão, sem levar em conta a individualidade de cada um. Nesse ponto, me preocupa também as minorias, que são muito agredidas pelos padrões”, diz Sara.
O primeiro passo para ser o que você quiser ser começa pelo autoconhecimento, o que, segundo aponta o especialista, pode ser um movimento muito positivo alavancado pelo filme Barbie, que ao que tudo indica, deve superar todas as expectativas de audiência.
“Ter um olhar claro de onde cada pessoa quer chegar, quais são seus objetivos e o que cada um está disposto a pagar para alcançar isso faz parte do processo de autoconhecimento”, conclui Guerra.
Barbies da vida real: filme reforça posicionamento feminino
A Barbie, lançada em 1959, é um ícone que faz parte da infância de muitas meninas, representando independência e empoderamento feminino. Ruth Handler, sua criadora, nomeou a boneca em homenagem à sua filha, Barbara, com a intenção de representar uma mulher trabalhadora e financeiramente independente.
A boneca possui uma ampla gama de profissões, além de ter diversos acessórios como carros, casas, iates, entre outros, que reforçam sua imagem de sucesso e conquistas. Apesar disso, durante muitos anos, a Barbie foi alvo de críticas por parte de algumas pessoas, que a enxergavam como um símbolo de perfeição e de um padrão de beleza inatingível.
“A Barbie foi estigmatizada por representar um padrão inalcançável, sendo rotulada como fútil. No entanto, ela sempre mostrou independência e a capacidade de exercer qualquer profissão. Atualmente, a diversidade das Barbies quebram estereótipos, transmitindo a mensagem de que as mulheres podem ser o que quiserem”, declara a empresária e influenciadora Thais Giraldelli.
Além de Thais, Brunna Gonçalves, Bianca Andrade, Ruzi Mel, Iza e Duda Reis são exemplos de mulheres de sucesso que compartilham características semelhantes com as da Barbie. Assim como a boneca, elas são referência em suas profissões e entendem a importância da representatividade que cada uma tem.
Thais Giraldelli é uma empresária, influencer de beleza, palestrante e lash designer. Para além da beleza, Thais esbanja profissionalismo, sendo uma grande referência na sua área, conquistando diversos prêmios e espaços.
Brunna Gonçalves é uma bailarina e influenciadora digital. Ela expressa sua arte e paixão através da dança. Com sua habilidade e talento no balé, ela inspira outras pessoas a seguirem seus sonhos e acreditarem em si mesmas.
Bianca Andrade, conhecida como Boca Rosa, é outra empreendedora de destaque. Além de influencer, ela possui uma marca de produtos de maquiagem muito famosa.
Ruzi Mel, caminhoneira e empresária, é outro exemplo de profissional que se destaca. Ela é apaixonada por rosa e quebra padrões mostrando que é possível exercer profissões não convencionais e alcançar o sucesso.
Iza, cantora e figura inspiradora para muitas mulheres, transmite uma imagem de força, talento e beleza. Com sua voz poderosa e presença de palco cativante, ela quebra barreiras na indústria da música e se destaca como uma mulher bem-sucedida em sua carreira.
Duda Reis, influencer e atriz, também é uma mulher que utiliza sua imagem para transmitir poder e confiança. Ela criou um instituto para acolher outras mulheres que sofrem violência doméstica, mostrando que é possível usar sua influência para causas sociais importantes.
Essas profissionais de sucesso, assim como tantas outras, são exemplos vivos de como a Barbie pode ser uma fonte de inspiração para superar os desafios enfrentados pelas mulheres no mundo dos negócios.
“A Barbie surge para mostrar que mulheres não precisam de homens para sustentá-las. Elas podem ser ricas, bem sucedidas, bonitas e ter a profissão que quiserem”, comenta Thais.
Com Assessorias
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