Estima-se que existam de 6 a 8 mil doenças raras distintas e esse número tende a aumentar. Com o incremento tecnológico que tem ampliado cada dia mais a capacidade diagnóstica, novas doenças raras são frequentemente descritas na literatura médica e já se fala em 9.600 doenças raras. Essas enfermidades podem ser crônicas, progressivas, degenerativas e, muitas vezes, incapacitantes ou fatais.

As causas, muitas vezes, são desconhecidas ou podem levar anos para serem descobertas. Elas podem ser decorrentes de infecções, alergias ou outros fatores. Evidências apontam que apenas 20% são consequência de causas infecciosas, virais, imunológicas, ambientais ou degenerativas e aproximadamente 80% delas têm origem genética.

“A grande maioria das doenças raras, particularmente aquelas de origem genética, costumam aparecer ainda na infância, algumas inclusive já antes do nascimento, no período pré-natal. No entanto, existem doenças genéticas e doenças raras de causas não-genéticas, cujas primeiras manifestações podem ocorrer apenas na idade adulta”, destaca Fabíola Paoli Monteiro, médica geneticista credenciada da Omint Saúde.

A OMS explica que essas doenças são caracterizadas por uma ampla diversidade de sinais e sintomas. Por esse motivo, elas não são facilmente diagnosticadas.

“Por tratar-se de doenças individualmente raras, muitos médicos ainda têm grande dificuldade em reconhecê-las ou até mesmo considerarem a possibilidade de estarem diante de um paciente com uma doença rara, uma vez que somos treinados, ainda na faculdade, a sempre pensarmos no mais comum, no mais frequente”, explica a especialista.

Isso, ainda de acordo com a médica, faz com que os pacientes frequentemente levem anos até finalmente obterem um diagnóstico preciso e correto, após consultas com inúmeros especialistas e realização de diversos exames que não trazem uma resposta, processo esse ficou estranha essa muitas vezes referido como uma “odisseia diagnóstica”.

Embora cada doença rara tenha suas particularidades, alguns desafios são semelhantes, como a demora para um diagnóstico e poucas possibilidades de tratamentos específicos. Alguns pacientes podem esperar até 10 anos por um diagnóstico preciso e os anos de incerteza podem ser fisicamente, mentalmente e financeiramente exaustivos, deixando aqueles que vivem com doenças raras se sentindo sem esperança, esquecidos e isolados.

Diante disso, fica evidente que as doenças raras representam um desafio significativo não apenas para a saúde pública e para as pessoas que convivem com elas, mas para toda a sociedade. Embora o número de casos continue a crescer, ainda há pouca compreensão e tratamentos específicos para muitas dessas condições.
É fundamental, portanto, que a causa possa contar com investimentos em pesquisas e desenvolvimento de tratamentos, além de uma maior conscientização sobre a importância de acelerar o diagnóstico e proporcionar apoio adequado aos pacientes e suas famílias.

Sequenciamento do exoma: nova esperança para pacientes

Neste cenário, o mapeamento genético – especialmente em famílias que já possuem casos conhecidos de doenças raras – pode ajudar a acelerar o diagnóstico.  Entre os testes genéticos usados para estudar doenças raras existem os painéis direcionados para manifestações e suspeitas clínicas específicas, que analisam um conjunto de genes relacionados a determinados quadros clínicos.

“Os estudos genéticos têm mudado essa realidade, ajudando a identificar as variantes genéticas que causam uma doença rara, bem como a entender como essas mutações podem afetar o indivíduo, oferecendo um diagnóstico mais preciso e seguro. Mesmo que não tenha necessariamente uma cura, o diagnóstico traz a possibilidade de planejar o manejo da doença ao longo da vida e isso traz tranquilidade para o paciente e toda a sua família”, explica Gustavo Barra, coordenador do setor de Genômica do Grupo Sabin, que realiza testes para doenças raras.

Mais abrangente, o sequenciamento do exoma utiliza a mesma tecnologia do sequenciamento de nova geração para analisar todos os éxons — as regiões do DNA que codificam as proteínas – dos 20.000 genes. Como a maioria das variantes que causam doenças raras ocorre nessas regiões, o sequenciamento do exoma pode ser uma maneira eficaz de identificar mutações causadoras de doenças, aponta o coordenador.

“Os estudos genéticos têm o potencial de fornecer informações valiosas sobre as causas e mecanismos das doenças raras. Essas informações associadas aos dados clínicos, de história familiar e exames complementares podem auxiliar na definição diagnóstica, permitindo não apenas o adequado manejo do indivíduo afetado, mas também o aconselhamento genético para o paciente e sua família”, conclui a médica geneticista do grupo Sabin, Rosenelle Araujo, que integra a equipe de Barra.

Exames de imagem ajudam a detectar doenças raras

Por serem extremamente variadas, não é possível designar um quadro de sintomas para as doenças raras em geral, mas os pacientes costumam perder autonomia para realizarem atividades cotidianas. Então, sempre que houver suspeitas ou mudanças incomuns na rotina, deve-se procurar um médico especialista.

Os exames de imagem ajudam a definir tratamento mais assertivo e a reduzir chances de progressão dos sintomas. A Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem (FIDI), por exemplo, realizou quase 11 mil exames de imagem com o intuito de detectar doenças raras no período de 2019 a 2022.

“Os exames de imagem exercem um papel muito importante de detectar as doenças e de permitir que os especialistas definam o melhor tratamento de acordo com as características de cada paciente. O diagnóstico precoce vai ajudar a reduzir as manifestações secundárias e incapacidade”, explica Luís Tibana, superintendente médico da FIDI.

Cerca de 75% das doenças raras afetam crianças e acometem pacientes de até cinco anos de idade, apresentando os primeiros sinais já no início da vida. Por esse motivo, a triagem neonatal é fundamental para identificar algumas dessas doenças antes que se manifestem. Geralmente essas doenças são crônicas, progressivas e degenerativas, mas com o tratamento adequado contínuo e o acompanhamento médico, é possível evitar o avanço dos sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Parte delas podem ser detectadas logo no nascimento, por meio do Teste do Pezinho, exame oferecido gratuitamente pelo SUS em todas as maternidades do País. O procedimento consiste na coleta de gotas de sangue dos pés de recém-nascidos e, atualmente, engloba o diagnóstico de seis doenças: fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, síndromes falciformes, fibrose cística, hiperplasia adrenal congênita e deficiência de biotinidase.

Diagnóstico

A geneticista explica que o primeiro passo é considerar a hipótese da doença rara. “A partir daí, o diagnóstico pode ser feito de diferentes maneiras, uma vez que se refere a doenças extremamente heterogêneas em termos de suas causas de base. Existem condições cujo diagnóstico é essencialmente clínico, ao passo que para muitas outras é necessária a realização de exames laboratoriais para que se possa chegar a um diagnóstico preciso e definitivo”, diz.

Já para as condições de origem genética, existem diferentes tipos de exames que podem ser indicados dependendo do contexto clínico e familiar do paciente.

“Uma vez que as condições genéticas podem ter implicações não só para o indivíduo, mas também para a família e futuras gerações do paciente, todo diagnóstico de uma doença genética deve ser preferencialmente seguido de realização de aconselhamento genético por profissional capacitado para tal, como um médico geneticista ou um aconselhador genético”, finaliza Fabíola.

Com Assessorias

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