

Barbárie vira espetáculo digital
O sentimento predominante foi medo ou nojo, com 22% das menções cada, mas um número significativo de expressou alegria diante da violência – 11%. A experiência contemporânea comprova o que venho alertando em minha pesquisa: algoritmos não têm lado, mas reproduzem e exacerbam aquilo que há de mais barulhento e emocional em cada bolha”, revela.
Leia mais
Violência contra a mulher: os desafios na proteção das vítimas
7 entre 10 casos de violência contra idosos ocorrem dentro de casa
5 dicas para ajudar a combater a violência contra mulheres e meninas
62% dos internautas aprovaram a ação
A operação no Rio não está sendo discutida apenas como um evento policial — ela está sendo convertida em símbolo. E símbolos, no Brasil, dizem muito mais sobre quem fala do que sobre o que aconteceu. Nas redes, a narrativa dominante não é sobre números, vítimas ou estratégia de segurança. É sobre qual lado você pertence”, comentou o pesquisador.
É assustador o número de pessoas que apoiam essa barbárie. Corpos degolados, com sinal de execução, não é política de segurança (que obviamente deve existir pra combater o crime organizado), mas sim extermínio. Mas pra esses 62% a vida de gente preta e favelada não vale nada não é mesmo? Vivemos o tempo do horror”, escreveu uma pessoa nos comentários sobre a pesquisa.
Com a palavra, os psicólogos, psicanalistas e psiquiatras.
ONU pede investigação sobre mortes em operações policiais no Rio
Uso da força por autoridades policiais precisa estar alinhado com leis internacionais de direitos humanos. Organização pede reformas no policiamento para acabar com perpetuação do racismo, discriminação e injustiça

Após operação policial que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro, realizada nesta terça-feira (28), diversas entidades se manifestaram, no Brasil e no mundo, como a Organização das Nações Unidas (ONU), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), por meio da sua Comissão de Direitos Humanos e Liberdade de Imprensa, da qual Rosayne Macedo, editora do Portal Vida e Ação, faz parte.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou estar extremamente preocupado com o grande número de óbitos. Em mensagem transmitida por seu porta-voz, Stephane Dujarric, nesta quarta-feira (29), o líder da ONU enfatizou que o uso da força por autoridades policiais precisa estar alinhado com leis internacionais de direitos humanos. Ele pediu que seja realizada uma investigação imediata sobre o episódio.
Também nesta quarta-feira (29) o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk, pediu uma “reforma abrangente dos métodos de policiamento no Brasil”.
A operação policial de grande escala ocorreu neste 28 de outubro, nas comunidades do Complexo do Alemão e Complexo da Penha, com o objetivo de cumprir cerca de 100 mandados judiciais contra indivíduos ligados a grupos do crime organizado. Segundo dados oficiais, pelo menos 121 pessoas foram mortas, incluindo quatro policiais. Outras 81 pessoas foram detidas.
Turk afirmou que compreende plenamente “os desafios de lidar com grupos criminosos violentos e organizados como o Comando Vermelho”. No entanto, ele afirmou que “a longa lista de operações que resultam em muitas mortes, que afetam desproporcionalmente pessoas negras, levanta questões sobre a forma como essas incursões são conduzidas”.
‘Alta letalidade policial tem sido normalizada’
O chefe de Direitos Humanos declarou que por décadas, “a alta letalidade associada ao policiamento no Brasil tem sido normalizada”, especialmente em áreas como o Rio de Janeiro, onde aumentou significativamente.
Segundo Turk, “o Brasil precisa romper o ciclo de brutalidade extrema e garantir que as operações de segurança pública estejam em conformidade com os padrões internacionais sobre o uso da força”.
Turk pediu investigações rápidas, independentes e eficazes sobre os eventos da terça-feira e uma reforma completa do policiamento. Ele enfatizou que qualquer uso de força potencialmente letal deve estar alinhado com os princípios de legalidade, necessidade, proporcionalidade e não discriminação.
Racismo sistêmico
O Alto Comissário adicionou que “abordar o racismo sistêmico contra pessoas negras no Brasil é fundamental”. Ele afirmou que “é hora de acabar com um sistema que perpetua o racismo, a discriminação e a injustiça”, disse o chefe de direitos humanos da ONU.
Segundo o Mecanismo Internacional Independente de Especialistas para Promover a Justiça Racial e a Igualdade na Aplicação da Lei, os assassinatos de pessoas negras por agentes de segurança no Brasil são “generalizados”.
Estima-se que 5 mil pessoas negras sejam mortas pela polícia a cada ano. Jovens negros que vivem em áreas empobrecidas são as principais vítimas.
Fiocruz e instituições divulgam Manifesto por uma Segurança Pública Cidadã para o Rio
ABI exige investigação das mortes no Rio
O Rio de Janeiro viveu um dia de caos e medo na terça-feira, 28 de outubro. Uma ação policial orquestrada pelo governo estadual resultou na operação mais letal da história do estado. Até o momento em que esta nota é redigida, já haviam sido computadas quase 130 mortes – quatro de policiais e as demais de cidadãos considerados suspeitos.
Em coletiva, o governador Cláudio Castro afirmou que apenas os quatro policiais mortos podem ser considerados vítimas, classificando as demais mortes como de “suspeitos” ou “bandidos”.
Nós, da Comissão de Direitos Humanos e Liberdade de Expressão da ABI, lembramos que não existe pena de morte no Brasil e afirmamos que essa operação configura flagrante desrespeito à determinação do Supremo Tribunal Federal na ADPF 635, a chamada “ADPF das Favelas”, que visa justamente “à redução da letalidade policial e ao controle de violações de direitos humanos pelas forças de segurança” no Rio de Janeiro.
A decisão do STF na ADPF 635 determinou expressamente que o Estado do Rio “elabore e encaminhe ao STF, no prazo máximo de 90 dias, um plano visando à redução da letalidade policial e ao controle de violações de direitos humanos pelas forças de segurança fluminenses, que contenha medidas objetivas, cronogramas específicos e previsão dos recursos necessários para a sua implementação”.
O que se viu neste dia foi exatamente o contrário: um massacre só comparável ao do Carandiru com graves consequências, em que comunidades foram sitiadas e ocorreram denúncias de violações das normas constitucionais e internacionais previstas na decisão do STF. Isso evidencia o descumprimento tanto da letra quanto do espírito da ADPF 635 por parte do governo estadual. Diante da gravidade, reafirmamos a urgência de aprovação da PEC 18/2025, que visa reformular e constitucionalizar o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP). Ressaltamos que o governador Cláudio Castro fez campanha contra essa PEC mesmo diante do histórico de letalidade e violações.
Reafirmamos nossa solidariedade às vítimas e suas famílias e exigimos imediata investigação independente, responsabilização e adequação das práticas policiais ao mandamento constitucional e às determinações do Supremo Tribunal Federal.
Rio de Janeiro, 29 de outubro de 2025.
Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e dos Direitos Humanos
Associação Brasileira de Imprensa (ABI)




