A cantora Lexa, de 37 anos, anunciou nesta segunda-feira (10), nas redes sociais, a morte da filha recém-nascida, Sofia, que ocorreu no último dia 5, três dias depois do parto prematuro, em decorrência de complicações causadas por um quadro de pré-eclâmpsia precoce grave e síndrome HELLP, motivo pelo qual Lexa estava internada desde janeiro.
A recente e triste notícia do falecimento da bebê trouxe à tona a gravidade dessas condições obstétricas. A pré-eclâmpsia é uma doença obstétrica que geralmente acontece depois da 20ª semana de gravidez e provoca a hipertensão arterial da gestante. Já a Síndrome Hellp é uma complicação grave da pré-eclâmpsia, podendo colocar em risco tanto a vida da mãe quanto a do bebê, levando a riscos maternos e fetais significativos.
A Síndrome Hellp é uma complicação rara, mas extremamente grave da gravidez, exigindo diagnóstico rápido e intervenção adequada. A atenção médica especializada e um pré-natal bem acompanhado são fundamentais para garantir a segurança da mãe e do bebê. O acompanhamento pré-natal rigoroso pode fazer a diferença
A Síndrome HELLP é uma complicação grave associada à evolução de um quadro severo de hipertensão durante a gravidez (pré-eclâmpsia). Trata-se de um dos quadros de maior morbimortalidade materno-fetal, caracterizado por destruição de células sanguíneas (hemólise), comprometimento do fígado com consequente elevação das enzimas hepáticas e baixa contagem de plaquetas, estas responsáveis pelo processo de coagulação do sangue”, explica Paula Beatriz Fettback. ginecologista e obstetra especialista em Reprodução Humana.
Embora qualquer gestante possa desenvolver a Síndrome HELLP, alguns fatores aumentam a propensão para a doença. A enfermeira obstetra Cinthia Calsinski explica: “Sim, alguns fatores podem aumentar o risco de desenvolver a Síndrome HELLP, como histórico de pré-eclâmpsia ou hipertensão gestacional, idade materna acima de 35 anos, gestação gemelar, obesidade, diabetes, doenças autoimunes ou trombofilias.”
Infelizmente, não há uma forma garantida de prevenir a Síndrome HELLP. No entanto, algumas estratégias podem reduzir os riscos. A Dra. Paula Beatriz Fettback destaca: “Ainda não existem meios de se prevenir e identificar efetivamente quais mulheres poderão evoluir com a Síndrome HELLP durante a gestação. Desta forma, uma assistência pré-natal rigorosa e consultas mais frequentes podem ser uma boa alternativa em mulheres com fatores de risco. Acompanhamento rigoroso e especializado através de ultrassom obstétrico com doppler e uso profilático de aspirina em baixas doses são medidas que podem ser adotadas.”
Cinthia Calsinski complementa: “Não há uma forma garantida de prevenção, mas algumas medidas podem reduzir o risco, como acompanhamento pré-natal rigoroso, controle adequado da pressão arterial, alimentação equilibrada e hábitos saudáveis.”
A ginecologista especialista em reprodução assistida, Dra. Karina Tafner, esclarece: “A Síndrome HELLP é uma complicação grave e rara da pré-eclâmpsia, que pode ocorrer durante a gravidez ou no período pós-parto. Ela é considerada uma importante causa de morbimortalidade perinatal, seja diretamente, via restrição do crescimento intrauterino, ou indiretamente, por meio de associação com o descolamento de placenta e necessidade de parto pré-termo.”
Ela ainda alerta: “A taxa de prematuridade é de aproximadamente 70%, o que leva a complicações neonatais como baixo peso ao nascer, síndrome do desconforto respiratório, pneumonia, displasia bronco-pulmonar, hemorragia intracraniana e enterocolite necrotizante. A sobrevida varia principalmente de acordo com o grau de prematuridade durante o parto, além da intervenção precoce materno-fetal durante a abertura do quadro.”
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Entenda a pré-eclâmpsia
A pré-eclâmpsia ocorre devido a um aumento da pressão arterial na gestação, podendo prejudicar o desenvolvimento do feto, favorecer a ocorrência de parto prematuro e até levar à morte materna. Na pré-eclâmpsia grave, além da pressão alta, há o acometimento de órgãos, como rins, fígado, placenta e cérebro.
Quando acontece precocemente, pode levar a consequências tanto para a mãe quanto para o feto. Uma dessas complicações é a síndrome HELLP (hemólise, elevação de enzimas hepáticas e queda de plaquetas), que, por sua vez, pode levar a insuficiência hepática e coagulação do organismo inteiro, o que é chamado de CIVD. E isso também pode afetar tanto a mãe quanto o bebê”, explica o ginecologista obstetra Fernando Prado, especialista em Reprodução Humana, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita.
Para o bebê, a principal complicação é a prematuridade. Além disso, se ocorreu algum problema de falta de oxigenação e desenvolvimento da placenta, essa criança tem restrição de crescimento, o peso fica baixo e os órgãos principais acabam não se formando. Então essa criança pode não resistir fora do útero por uma falta de maturidade de alguns órgãos, principalmente o pulmão”, ressalta o especialista.
Segundo o ginecologista e obstetra Nélio Veiga Junior, Mestre e Doutor em Tocoginecologia pela UNICAMP, a pré-eclâmpsia está relacionada com 20% de todos os nascimentos prematuros e 500 mil mortes fetais e neonatais. “Afetando de 5 a 10% das gestantes, a pré-eclâmpsia é uma condição caracterizada pelo aumento da pressão arterial após a 20º semana e acompanhadada de proteinúria ou sinais clínicos/laboratoriais de lesão de órgãos. Quando há apenas aumento pressórico, chamamos de hipertensão gestacional”, explica o obstetra.
A causa exata da pré-eclâmpsia não é conhecida, mas, de acordo com o médico, acredita-se que esteja relacionada com uma falha no desenvolvimento dos vasos sanguíneos da placenta, por uma ativação inflamatória que afeta todo o organismo materno.
Sabemos também que a pré-eclâmpsia está diretamente relacionada a fatores como histórico pessoal ou familiar de hipertensão ou pré-eclâmpsia, idade acima dos 35 anos, gestação decorrente de reprodução assistida (fertilização in vitro), obesidade, diabetes e gestação gemelar”, destaca o ginecologista. “A pré-eclâmpsia é, inclusive, recorrente em pacientes que se submeterem a procedimentos de reprodução assistida como a Fertilização In Vitro justamente por características comuns desses indivíduos e procedimentos, como a idade geralmente mais avançada das gestantes e a maior probabilidade de gêmeos”, diz o Dr. Fernando Prado.
Dada a gravidade da doença em estágios mais avançados, conhecido como eclâmpsia, é importante que gestantes que apresentam esse fatores de risco fiquem atentas aos sintomas da condição, que, muitas vezes, surgem de maneira repentina. “Sintomas da pré-eclâmpsia incluem inchaço, principalmente das pernas, dor de cabeça severa, alterações visuais, como surgimento de pontos brilhantes e visão turva, dores abdominais, especialmente na região do estômago”, acrescenta o Dr. Nélio, que diz que, em casos graves, a doença ainda causa convulsões, insuficiência cardíaca e renal.
Ao notar tais sintomas, é importante buscar atendimento médico o mais rápido possível para receber o diagnóstico e tratamento adequado, assim evitando complicações tanto para a mãe quanto para o bebê. “O diagnóstico é realizado por meio da medição da pressão arterial, observação dos sintomas, avaliação do histórico clínico e familiar da paciente e realização de exames laboratoriais, tanto de sangue quanto de urina, para verificar a presença de proteína”, detalha o Dr. Nélio. Mas o médico alerta que, muitas vezes, a pressão alta na gravidez é assintomática e passa de maneira despercebida. “Por esse motivo é tão importante que o acompanhamento pré-natal seja realizado da maneira correta, com consultas e exames regulares”, afirma o obstetra.
Com base no diagnóstico e na gravidade do quadro, o médico poderá recomendar o tratamento mais adequado para cada caso. “Em casos mais leves, por exemplo, apenas a adoção de um estilo de vida mais saudável, principalmente com relação à alimentação, controle do peso e atividade física regular. Além disso, o uso do ácido acetilsalicílico (AAS) e suplementação de cálcio são recomendados para reduzir os riscos de desenvolver pré-eclâmpsia. Já nos casos mais graves, o tratamento geralmente é feito no hospital, com o uso de medicamentos para reduzir a pressão arterial e controlar o risco de convulsões”, afirma o especialista Dr. Nélio.
Mas é importante lembrar que a única solução definitiva para a pré-eclâmpsia é o parto. “Dependendo da idade gestacional do bebê e da gravidade do quadro, o médico também pode recomendar a antecipação do parto ou a interrupção da gravidez”, diz o Dr. Fernando Prado. “Por isso, o acompanhamento é tão importante para controle da condição. Dependendo da idade gestacional do bebê e da gravidade do quadro, o médico também pode recomendar a antecipação do parto ou até mesmo interrupção da gravidez”, finaliza o Dr. Nélio Veiga Junior.
Pré-eclâmpsia
A eclâmpsia é marcada pela ocorrência de convulsões generalizadas ou coma em gestantes. A síndrome Hellp é outro tipo de complicação que provoca hemólise (fragmentação das células vermelhas do sangue na circulação), níveis elevados de enzimas hepáticas e diminuição do número de plaquetas. Essa combinação mostra que alguns órgãos podem estar entrando em falência, como os rins e o fígado.
Apesar de não ser comum, também existe a pré-eclâmpsia ou eclâmpsia pós-parto, que ocorre na fase do puerpério em até 72 horas depois do parto. A complicação é responsável pela hipertensão arterial e crises convulsivas nesse período.
“A placenta é o órgão que vai nutrir o feto. Quando ela está se implantando no útero, os vasos do útero se abrem e aumenta a corrente de sangue que vai nutrir adequadamente o feto. E o que ocorre na placenta da mulher com pré-eclâmpsia? Esses vasos não conseguem mudar a conformação deles para se tornarem mais flexíveis e elásticos. E o sangue não flui adequadamente para a placenta e para o feto”, explica Joeline Cerqueira, médica ginecologista e obstetra, com área de atuação em Reprodução Humana.
A sobrecarga da circulação provoca a hipertensão arterial, igual ou acima de 140/90 mmHg (14 por 9), e há perda de proteína na urina, a proteinúria. A pré-eclâmpsia precisa ser tratada para não colocar a vida da mãe e do feto em risco. Entre os agravamentos possíveis estão a eclâmpsia e a síndrome de Hellp.
Causas e fatores de risco
A obstetra explica que até hoje a pré-eclâmpsia não tem uma causa específica identificada. Existem teorias, dentre as quais ela destaca a má implantação da placenta no processo da gestação.
Mas já se conhecem os principais fatores de risco: primeira gestação da mulher; gravidez antes dos 18 e depois dos 40 anos; pressão alta crônica; diabetes; lúpus; obesidade; pessoas da família com essas doenças; gestação de gêmeos.
Prevenção e redução de riscos
A realização do pré-natal, com acompanhamento médico da gravidez e da pressão arterial, é a melhor forma de prevenir a pré-eclâmpsia e demais complicações.
“Existem medicações já testadas que diminuem consideravelmente as probabilidades de pré-eclâmpsia para as pacientes de risco. Uma delas é o cálcio. Outra é o AAS infantil. Elas usam essa aspirina em dose baixa de 100 mg a partir de 12 até 16 semanas de gestação”, diz Joeline Cerqueira. “É imprescindível o médico começar nesse período. Porque como é uma doença que se instala pela placenta, depois de 16 semanas a placenta já está toda formada. Então, não adianta começar uma profilaxia muito tarde”.
Sintomas
A pré-eclâmpsia pode ser assintomática. Mas há sinais comuns, como: dor de cabeça forte que não passa com remédios; inchaço no rosto e nas mãos; ganho de peso em uma semana; dificuldade para respirar; náusea ou vômito após os primeiros três meses de gestação; perda ou alterações da visão; e dor no abdômen do lado direito.
Os sintomas da eclâmpsia podem ser dores de cabeça, de estômago e perturbações visuais antes da convulsão; sangramento vaginal; e coma.
Tratamento
O principal objetivo do tratamento para quem desenvolve o quadro de pré-eclâmpsia é o controle da pressão arterial. Podem ser usados hipotensores, medicações orais e injetáveis, para conseguir manter a pressão arterial abaixo de 14 por 9.
Também podem ser indicados: alimentação com baixo consumo de sal e de açúcar; repouso; aumento da ingestão de água; fazer acompanhamento pré-natal mais rigoroso.
Com Agência Brasil e assessorias