Pré-eclâmpsia: diagnóstico rápido ajuda a salvar vidas de mães e bebês

Informação é essencial para tratar doença hipertensiva da gravidez que leva à mortalidade materna e prematuridade do bebê.. Médicos explicam

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Rápida e perigosa. Essas são duas potenciais características da préeclâmpsia, doença grave relacionada com o aumento da pressão arterial de grávidas. Os números sobre a doença assustam. A préeclâmpsia afeta de 5% a 10% das gestações em todo o mundo, sendo a principal causa de morte materna e de crianças, 75 mil e 500 mil, respectivamente, a cada ano.

Mais de 99% da mortalidade materna pela doença ocorrem em países pobres ou em desenvolvimento. Na América Latina, ela é responsável por uma em cada quatro mortes maternas. De acordo com estudo realizado pelo Instituto de Estudo para Políticas de Saúde (IEPS), no Brasil, entre os anos de 2014 e 2022, as mortes causadas por hipertensão (préeclâmpsia ou eclâmpsia) aumentaram em aproximadamente 34% – em 2014, a taxa de mortalidade era de 25,2, e em 2021, passou para 33,3 por 1.000 partos.

Ainda de acordo com a pesquisa, préeclâmpsia ou eclâmpsia foram responsáveis por 13,59% de óbitos maternos entre os anos de 2020 a 2022 no País. Para além da questão da mortalidade, a préeclâmpsia é a causa comum de prematuridade, sendo responsável por 20% de todas as internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), um dado que preocupa e que mostra toda a atenção que se deve dar para gestantes e seus bebês

Neste 22 de maio é lembrado o Dia Mundial da PréEclâmpsia, com o objetivo de conscientizar a população e os profissionais da saúde sobre os perigos desta condição. Informar sobre prevenção, diagnóstico oportuno e adequado manejo é fundamental para que seja possível diminuir o impacto da doença.

Um raio ou relâmpago na vida da mulher prestes a dar à luz

O termo eclampsia é uma palavra de origem grega que significa raio ou relâmpago. Ela pode acontecer em qualquer gestante durante a segunda metade da gravidez ou até seis meses após o parto.

A enfermidade é caracterizada pelo aumento da pressão arterial (hipertensão) e dos níveis de proteína na urina (proteinúria) a partir da 20º semana de gestação, e pode gerar complicações em diferentes órgãos, colocando em risco a vida da mãe e do bebê.

As principais formas de evitar complicações são a realização de um bom acompanhamento da gestante desde o início da gravidez e um diagnóstico preciso. Por isso, identificá-la o mais cedo possível é fundamental para a garantia da saúde materna e dos bebês, de modo que a informação sobre a doença seja de amplo conhecimento não apenas das mulheres, mas também do companheiro, familiares e amigos que acompanham a gestação.

Maria Laura Costa do Nascimento, professora associada do Departamento de Obstetrícia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) – Unicamp explica que o diagnóstico oportuno da préeclâmpsia é fundamental para que possamos diminuir os riscos e desfechos adversos para a mãe e para o bebê.

Avaliação e controle dos fatores de risco na gravidez

“Inicialmente, é preciso reconhecer as condições de risco para préeclâmpsia, para que seja possível aumentar a vigilância. Identificar mulheres com antecedente de préeclâmpsia, com hipertensão crônica, gestações múltiplas, obesidade, doenças autoimunes, e iniciar profilaxia/prevenção, com aspirina e cálcio, e orientações de hábitos saudáveis, como atividade física e controle do ganho de peso, são algumas das medidas”, explica.

A partir de 20 semanas, na segunda metade da gravidez, a préeclâmpsia é constatada se houver hipertensão (pressão arterial sistólica ≥140mmHg e/ou pressão diastólica ≥90mmHg) e perda de proteína na urina, ou hipertensão e sinal de risco (clínico ou laboratorial) ou insuficiência placentária.

“É preciso também orientar as gestantes para os sintomas de alerta de risco: ganho de peso excessivo e inchaço na face e nas mãos, dor abdominal (principalmente do lado direito), náuseas/vômito, falta de ar e dor de cabeça. Diante destes sinais, recomendamos sempre medir a pressão e procurar atendimento médico”, aconselha a Dra. Maria Laura.

 

Informação é fundamental para tratar doença hipertensiva da gravidez

Para Nelson Sass, professor do Departamento de Obstetrícia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) e membro da Rede Brasileira de Estudos sobre Hipertensão na Gravidez (RBEHG), embora a fisiopatologia da préeclâmpsia ainda não tenha sido totalmente desvendada e a sua completa prevenção seja algo ainda difícil, a ocorrência de eclampsia e suas consequências podem e devem ser evitadas.

“Em pleno Século 21, sabemos bem o que fazer para tratar a hipertensão na gestação e erradicar a morte por ela causada e esse trabalho passa necessariamente pela informação, de modo que a gestante consiga reconhecer os sinais e sintomas precocemente e busque auxílio médico em tempo para iniciar o tratamento”.

Entenda os principais sintomas da pré-eclâmpsia e da eclâmpsia

Os principais sintomas que podem identificar a préeclâmpsia e que devem ser observados são dor de cabeça forte que não desaparece com medicação, inchaço no rosto e nas mãos, ganho de peso de um quilo ou mais em uma semana, dificuldade para respirar ou respiração ofegante, náusea ou vômito após os primeiros três meses de gestação, perda ou alterações na visão, como borramento e luzes piscando, e dor no abdome na região direita, próximo ao estômago.

“Esses são alguns dos sintomas que podem aparecer de maneira isolada ou conjugados e que podem apontar para um quadro de hipertensão e necessidade de intervenção médica. A urgência não é sem razão. As mães podem convulsionar e correm risco de morte. Bebês também correm risco de morte ou de nascimento prematuro”, ressalta o docente da Unifesp.

Já a eclâmpsia é um desenvolvimento na piora do quadro da préeclâmpsia, que é uma doença específica da gestação, podendo surgir a partir da 20° semana até no período pós-parto.

A doença pode se apresentar de forma quase assintomática no início e por isso as consultas de pré-natal com aferição da pressão arterial são tão importantes para um seguimento saudável da gravidez. Alguns sintomas são indicativos de doença mais grave e necessitam atenção redobrada e ida ao pronto atendimento para avaliação médica”, explica a Dra. Larissa Cassiano, Médica Ginecologista e Obstetra.

Alguns desses sintomas são:

Inchaço, principalmente nas pernas, face e mãos, que pode surgir antes da hipertensão arterial;

Aumento exagerado do peso (mais de 1Kg/semana, especialmente no terceiro trimestre);

Dor no estômago/vômito ou dor no lado direito do abdome;

Alterações visuais (ver pontos brilhantes ou apresentar perda de visão);

Dificuldade para respirar e dor de cabeça intensa;

 

Como prevenir as duas doenças antes e depois do parto

A prevenção ocorre naqueles fatores que podemos modificar, especialmente nas mulheres que planejam engravidar em um contexto de obesidade ou sobrepeso o ideal seria uma normalização do IMC antes da gestação. Manter hábitos de vida saudáveis e bom controle de doenças prévias como diabetes e hipertensão também são essenciais para uma evolução mais saudável da gestação”, orienta a Dra. Larissa Cassiano.

Já sobre a eclampsia a Dra. Larissa Cassiano faz um alerta. A eclampsia é uma complicação grave que acomete algumas mulheres durante a gestação, provocando pressão superior a 140 x 90 mmHg, presença de proteínas na urina e inchaço do corpo.

“Ela é caracterizada pela liberação, por parte do feto, de proteínas na circulação materna que causam uma resposta imunológica da gestante, agredindo as paredes dos vasos sanguíneos. Esse distúrbio também pode surgir após o parto do bebê, principalmente, nas mulheres que tiveram préeclâmpsia na gestação, por isso, é importante manter a avaliação mesmo depois do parto”, destaca.

Há medicamentos específicos que podem reduzir a pressão arterial elevada. Em alguns casos pode ser necessário adiantar o parto.

“As formas de prevenção da eclampsia são: controlar a pressão arterial, manter uma alimentação saudável, praticar regularmente atividade física durante a gravidez e realizar exames de pré-natal, que são necessários para detectar qualquer alteração indicativa desta doença, como a préeclâmpsia”, finaliza a Dra. Larissa Cassiano.

Pesquisas sobre as causas da pré-eclâmpsia avançam

Tão importante quanto a posse dessas informações por parte das gestantes e de quem acompanha uma grávida é o aprofundamento do entendimento médico acerca da doença. Ao longo dos últimos anos, o entendimento da fisiopatologia (das causas) da préeclâmpsia avançou muito. A placenta é o órgão chave para o desenvolvimento da doença, produzindo proteínas (fatores pró e antiangiogênicos) com importante papel na regulação vascular e da pressão arterial.

  1. Nesse sentido, explica Sass,“médicos que atuam na RBEHG têm proposto projetos com o objetivo de se alcançar ‘zero morte materna por hipertensão’, ao mesmo tempo em que a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), com sua educação continuada, atua na discussão da eclampsia em congressos e na emissão de protocolos de tratamento e de conduta de prestadores de saúde, como clínicos, obstetras e enfermeiros(as), muito adequados, procurando trazer luz a esse grave problema nacional, que é a hipertensão arterial na gestação”.
  2. De acordo com a Dra. Maria Laura, “o desbalanço na produção destas proteínas, causado por uma placentação deficiente (na primeira metade da gravidez), leva às manifestações clínicas descritas acima, com surgimento após 20 semanas”.
  3. Atualmente, é possível medir esses biomarcadores e isso pode ajudar no diagnóstico da préeclâmpsia, especialmente nos casos em que há dúvida (níveis de pressão arterial limítrofes ou ausência de proteinúria e gravidade). Ao mensurar o risco de desenvolver a doença, é possível proporcionar mais segurança e precisão no aconselhamento médico.
  4. Os biomarcadores também auxiliam a descartar as chances de desenvolvimento da préeclâmpsia, evitando internações desnecessárias e garantindo um melhor atendimento até o término da gestação.
  5. “Por ter origem na placenta, que produz proteínas para a regulação da pressão durante a gestação, o parto (e retirada da placenta) é parte fundamental do tratamento. O que determina os resultados é a capacidade de fazer o diagnóstico oportuno e de cuidar da paciente para definir o melhor momento do parto. Lembrando que existem também consequências de médio e longo prazo e que mulheres que tiveram préeclâmpsia devem ser acompanhadas, pelo risco aumentado de complicações cardiovasculares”, finaliza a Dra Maria Laura.

Com Assessorias

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