Você sabe onde estão sendo armazenados exames, radiografias, cartões de vacinação e outros documentos relevantes para a manutenção da saúde? De fato, essas informações não são de fácil acesso às pessoas. Um dos motivos tem relação com o atual modelo de negócio da saúde ainda muito baseado na doença e não na prevenção.

A médica e empreendedora Renata Aranha mudou sua visão quando passou para o lado do paciente ao sofrer uma eclampsia durante uma gravidez de risco. “Um procedimento tão simples quanto aferir corretamente a pressão arterial poderia ter evitado tudo isso. Minha filha nasceu bem. Mas entendi nesse momento que precisava fazer algo”, ressaltou.

A partir disso, a médica passou a desenvolver soluções tecnológicas que impactam a vida das pessoas para que elas possam ter mais autonomia e ser corresponsáveis pela própria saúde. O primeiro projeto foi um software que avisa aos usuários quando a pressão arterial está alterada.

Também está em fase de testes uma plataforma, baseada em Inteligência Artificial, que apoia os pacientes para pré-diagnosticar doenças e condições. “A tecnologia e a inovação vão mudar o sistema de saúde. Dar a cada cidadão autonomia e empoderamento sobre a sua própria saúde, é o futuro”, destacou.

Ao mesmo tempo em que se constata que a tecnologia que é algo inerente à vida moderna também é o gatilho para doenças diversas, principalmente provocadas por estresse e ansiedade. Médico oncologista do Inca (Instituto Nacional do Câncer) e mestre em gestão de tecnologias em saúde, Carlos José de Andrade  defende que a felicidade é um fator fundamental na manutenção da saúde e na prevenção  de doenças.

A principal missão de vida é ser feliz”, diz ele. Andrade ajudou a implementa ro projeto ‘Plenamente INCA’ que estimula  pacientes de todas as idades, pais, responsáveis e funcionários à práticas meditativas. “Um dia, uma mãe, após meditar por 10 minutos, me disse que foi a primeira vez, em muito tempo, que não pensava em sua filha. Ao se aproximar das pessoas que estão perto da morte a gente precisa afirmar a vida. Trazer a nossa atenção para o presente momento”, destacou. 

Coragem para viver

Lucas Medeiros, PhD em Neurociências, professor da Unirio e membro do American College of lifestyle Medicine, certificado pelo International Board of Lifestyle Medicine, trouxe reflexões sobre como lidar com sentimentos, ansiedade, medos e com os desafios do cotidiano. Sob o tema “Saúde para viver o quê?”, o especialista destacou que cada vez mais a medicina do estilo de vida ganha espaço, uma visão que vai além da medicina tradicional. Ele prega que devemos ter menos medo e mais coragem de enfrentar os desafios da vida e que as pessoas precisam agir para mudar a si e o seu redor.

“Não é mudar pelo medo do colesterol, mas mudar para estar perto de quem importa! Não é  mudar por medo da doença de Alzheimer. É mudar para ter liberdade no futuro! Você quer ter saúde para viver o que na sua vida? Essa é a bússola para a gente mudar transformando medo em amor. Aí chegamos a prescrição da medicina do estilo de vida. As pessoas vão usar o profissional de saúde na dose que fizer bem”, ressaltou.

Dentro dessa proposta, Medeiros sugere quatro “medicamentos” fundamentais para viver melhor. O primeiro é investir numa alimentação simples e saudável, de preferência de origem vegetal e integral. A segunda é se colocar em movimento. A terceira é a conexão com pessoas e com o mundo e, por fim, aprender a lidar melhor com a ansiedade e medos para seguir em frente.

Genética, redes sociais e vida moderna

O psicanalista Marcelo Veras chamou a atenção para a relação das pessoas com as redes sociais. Ele refletiu sobre casos como o da China, onde pessoas estão preferindo não ter relacionamentos afetivos e amorosos fisicamente, mas de forma virtual.  Veras foi categórico ao falar, ainda, sobre a necessidade de urgência em respostas via aplicativos, likes e o que tudo isso está gerando nas pessoas. “Ao mesmo tempo estamos conectados, há uma solidão presente que provoca diversas doenças. É preciso nos conectarmos de verdade com a pessoas”, enfatiza.

A relação da  genética e os medicamentos também foi assunto no evento. Jamile Perini, pesquisadora na área de genética humana,  provocou o público a pensar sobre o porquê alguns medicamentos funcionam em algumas pessoas e em outras não. Tudo isso poderia ser facilitado se as pessoas tivessem mais acesso aos testes genéticos que ainda são muito caros.  “Até hoje o meu grupo de pesquisa continua realizando pesquisas com a varfarina e publicando os resultados em revistas de alto impacto. Minha mãe teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral). Se ela tivesse feito um teste poderia ter evitado fazendo uso do medicamento. A varfarina custa em torno de R$5. Hoje os testes genéticos são mais usados na área de oncologia para tratamento do câncer para determinar o subtipo de tumor e utilizar a medicação que é mais eficaz para aquele indivíduo”, contou emocionada.

Jamile acrescenta que no exterior o custo de um teste genético é mais baixo que no Brasil, e que por lá, qualquer pessoa pode realizar. “Imaginem o leigo sozinho em casa se deparando com um resultado de um teste que tem 90% de chance de desenvolver câncer? São informações extremamente complexas e que precisam da orientação de profissionais capacitados para que possam orientar esse indivíduo”, alertou. Por outro lado, a pesquisadora destacou que a facilidade de realização de testes genéticos lá fora não significa que toda a população deva fazer, mas ele é muito importante para saber como as pessoas metabolizam o álcool, a nicotina, o café. Isso pode explicar, por exemplo, porque tanta gente toma café e não sofre com o efeitos da cafeína.

A sociedade paradoxal e a comida do futuro

Gustavo Guadagnini, Managing Director da organização The Good Food Institute no Brasil, contou como mudou o estilo de vida, eliminando 55kg após se tornar vegano, deixando o público surpreso ao dizer: sim, mantenham seus hábitos alimentares, comam carne!”. E é claro que essa afirmação está atrelada ao que chamam de alimentação do futuro, mas que já é realidade nos dias de hoje. “O hambúrguer tecnológico, por exemplo, que usa ingredientes vegetais e que não perde em nada em textura e sabor para um hambúrguer de carne tradicional”, destacou.

Pensar em como a sociedade evolui e as consequências disso em nossa saúde foi o questionamento que Márcia Holanda, médica em CTI pediátrico e em clínicas de alergia e imunologia, trouxe para a oitava edição do TEDxRio. Ela instigou o público a pensar como o estilo de vida moderna  contribui com a evolução das alergias. “A gente olhando o desenvolvimento das cidades, mesmo aqueles lugares planejados, ainda são blocos de concreto com poucas áreas verdes. As crianças de hoje em dia não brincam mais com a terra, não plantam árvores, não pisam na grama, não brincam com animais”, ponderou.

Com todo esse acesso ao saneamento básico, a água potável e a redução da quantidade de filhos das famílias de hoje em dia, segundo ela, está nos levando a um outro efeito que é a hiper higienização. “Sim, o excesso de higiene pode fazer mal à saúde. Queremos fazer o genocídio das bactérias nas crianças. A higiene não pode ser tão exagerada, assim como o conforto”, brincou. Holanda afirmou, ainda, que vivemos numa sociedade paradoxal. “Comemos comida industrializada e tomamos probióticos. Inventamos controle remoto até para abrir cortinas e depois vamos para a academia. Qual será a solução? O que estamos dispostos a fazer para melhorar essa situação?”, questionou.

Superando a dependência química

O baixista e vocalista Rodrigo Santos do Barão Vermelho emocionou a platéia com sua história de superação para vencer a dependência química. Livre dos vícios desde 2005, ele contou que percorre o Brasil dando palestras em escolas, faculdades, entidades públicas e privadas sobre o assunto.  “Comecei a usar drogas ainda dentro de casa, por influência da família”, disse. Seus relatos seguem pelo país afora com o objetivo de apoiar pessoas que passam por uma situação similar. Ao final do evento, Rodigo Santos tocou solo músicas do Barão Vermelho, Cazuza e Frejat, levando o público a cantar e dançar.

Sobre o evento

Tendências, inovações e caminhos que inspiram a agir e gerar mudanças na saúde e no estilo de vida foi o debate que o TEDxRio – Vida em Foco, Futuro da Saúde trouxe para a oitava edição sediada no teatro Oi Casa Grande, zona sul do Rio de Janeiro, nesta quarta-feira (3). Com mais de 900 pessoas presentes, oito speakers convidados trouxeram questionamentos e dilemas da vida moderna, convocando o público a refletir e agir com olhos no futuro, mas sem deixar de  observar o passado.

A jornalista Ana Paula Araújo abriu o evento destacando o aumento da expectativa de vida e os desafios com a saúde e bem-estar a partir disso.  Esse dado, inclusive, foi uma das grandes motivações para a temática desta edição, com o objetivo de questionar de onde viemos, para onde estamos indo e como chegaremos. Alessandra Teixeira, Danielle Fazzi e Marco Brandão, organizadores do TEDxRio, agradeceram a presença de todos e anunciaram uma próxima edição breve.

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