Você teria coragem de ser operado por um robô?

Mais precisa e menos invasiva, cirurgia robótica possibilita menos dores, traumas ou sangramentos. Procedimento cresceu mais de 500% no país em 5 anos

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Você já se imaginou numa sala de cirurgia sabendo que uma máquina vai te operar? Pois é bom se preparar. O Brasil segue a tendência mundial em que as cirurgias robóticas serão uma opção cada vez mais presente de tratamento. Desde que chegou ao país, há 12 anos, já foram realizadas mais de 30 mil cirurgias. Nos últimos cinco anos, as cirurgias robóticas cresceram cerca de 500% no Brasil, comprovando que o método está mais acessível e cada vez mais procurado.

Somente entre agosto de 2018 e dezembro de 2019, houve um crescimento de mais de 90% no número de equipamentos de robótica cirúrgica instalados no Brasil; um salto de 40 para 76. Dados do Programa de Cirurgia Robótica da maior rede de hospitais privados do país, mostram que o aumento de cirurgias gerais pela técnica é de 11,8%, do início do ano até abril.

Em meio aos desafios para vencer a guerra contra o novo coronavírus que ainda não deu tréguas em muitos cidades, enquanto ainda faltam leitos, equipamentos e insumos básicos para tratar a e a epidemia de Covid-19, o país avança firme no desenvolvimento da cirurgia robótica – infelizmente, uma realidade ainda acessível mais a quem pode pagar um tratamento particular ou um plano de saúde muito caro.

No Dia do Hospital, celebrado desde 1961 no Brasil neste 2 de julho, ViDA & Ação traz uma série de matérias especiais mostrando como esta nova tecnologia, introduzida em 2008 no país, tem avançado em alguns dos mais importantes hospitais brasileiros. Além de homenagear os profissionais que trabalham na área da saúde, incluindo médicos, enfermeiros, radiologistas, fisioterapeutas, psicólogos e outros, além de seus gestores e corpo técnico e administrativo, esta é também uma boa data para nos lembrarmos da importância que essas infraestruturas têm para a sociedade. Confira!

Maioria dos robôs cirúrgicos está na rede privada

A cirurgia robótica é o que há de mais moderno no campo da Medicina. De acordo com os especialistas, por ser menos invasiva, possibilita inúmeras vantagens ao paciente: menos dor, traumas ou complicações, sangramento reduzido, alta precoce e retorno às atividades normais antecipadamente são alguns dos benefícios comparados às cirurgias convencionais.

Os robôs cirúrgicos já chegaram em todas as regiões do país. Mais da metade estão na Região Sudeste (maioria em São Paulo), seguida pelo Centro Oeste, Norte/Nordeste e menos equipamentos na região Sul. A maioria está na rede de saúde privada, mas hospitais públicos do Rio de Janeiro, São Paulo, Belém, Recife e outras capitais já contam com os equipamentos pra atender à população.  No SUS do Rio de Janeiro, a tecnologia está presente no Hospital Marcílio Dias e o Instituto Nacional do Câncer (Inca). 

“A utilização de robôs tem crescido principalmente nas operações do aparelho digestivo (14,5%), antes disso, o número destas cirurgias já havia dobrado de 2017 para 2018 e percebemos isso no dia a dia”, esclarece Ricardo Cotta, cirurgião oncologista do aparelho digestivo, especialista em robótica do Hospital Quinta D’ Or e cirurgião do Hospital Municipal Miguel Couto, no Rio de Janeiro.

As cirurgias urológicas ainda representam cerca de 60% dos procedimentos, mas cresceram menos de 8% no mesmo período. “Além de a imagem ser em 3D, as principais vantagens da cirurgia robótica estão na maior precisão, amplitude e segurança dos movimentos, eliminando qualquer tremor das mãos com maior precisão, delicadeza dos movimentos e alcance a estruturas de difícil acesso”, afirma Ricardo Cotta.

O procedimento é o mais indicado, principalmente para os casos mais delicados, que antes estavam relacionados a cirurgias de altíssima complexidade e maiores riscos aos pacientes. Esta tecnologia permite que a intervenção seja cada vez menos invasiva, otimizando a recuperação do paciente após o procedimento. Entre as especialidades que mais operam com esta tecnologia se destacam a urologia, a ginecologia e a cirurgia bariátrica, mas procedimentos também são feitos em cirurgia hepática, proctologia, tórax, entre outras.

Um estudo da Agência de Saúde de Michigan, publicado recentemente, apontou que o uso de robôs cirúrgicos nos Estados Unidos, iniciado no ano 2000, subiu de 1,8% em 2012 para 15,1% em 2018. A pesquisa, feita em 73 hospitais americanos, também mostra que o maior aumento foi para resolver problemas comuns do aparelho digestivo, como a cirurgia de hérnia inguinal (aumento de 0,7% para 28,8%), e para retirada de vesícula e tumores do aparelho digestivo.

Menos dores, traumas e sangramentos

Já é comprovado que a cirurgia robótica traz inúmeros benefícios aos pacientes, dentre os mais relevantes são redução do tempo de hospitalização; recuperação e retorno mais rápido às atividades normais; redução de dor e complicações no período pós-operatório; cortes menores e menor sangramento; menor risco de infecção hospitalar; redução na dose de medicamentos no pós-operatório.

Por ser mais precisa e menos invasiva, a cirurgia robótica possibilita vantagens significantes, que incluem menos dores, traumas ou sangramentos. E, portanto, menos chances de transfusão sanguínea, reduzindo as complicações e o tempo de internação hospitalar. Além de recuperação pós-operatória muito mais rápida, menos uso de analgésicos no pós-operatório, mais rápido retorno às atividades e menos tempo de hospitalização.

Tenho observado que, em nossos casos, o índice de complicações, sangramento intraoperatório e tempo de internação têm sido menores nas pacientes submetidas a cirurgias robóticas. A recuperação pós-operatória também, em nossa casuística até então, tem sido mais rápida, mesmo quando comparamos à laparoscopia convencional”, afirma o ginecologista Gustavo Anderman Silva Barison, do Hospital Santa Catarina.
A especialidade dele é uma das que mais utilizam robôs, ao lado da urologia e das cirurgias do aparelho digestivo. “Na ginecologia benigna, há muito espaço para essa plataforma, como em casos de miomectomia uterina, histerectomia, no tratamento de miomas e endometriose profunda”, destaca o médico, que já realizou mais de 50 operações com o robô Da Vinci Xi, em pouco mais de um ano.

Pacientes comemoram resultados de cirurgias

No interior de São Paulo, três pacientes comemoram os resultados da cirurgia robótica. A empresária Rosiane Lepique dos Santos Rissotto  diz que recuperou sua qualidade de vida depois de sofrer por oito anos com seu intestino funcionando somente à base de laxantes. O comerciante Paulo José Bisco de Alvarenga é só contentamento por manter os dois rins mesmo depois de contrair um câncer no órgão direito. Já a arquiteta Vera Coutinho Manhae festeja a retirada de tumor maligno no endométrio em procedimento sem estresse, sem sangramento e com alta no dia seguinte.

Conhecer essa lista de benefícios fez toda a diferença para Vera. Nos últimos dois anos, a arquiteta passou por duas cirurgias traumatizantes, na cabeça e na mama, o que a deixou tensa e apreensiva. A notícia de que precisava passar por outro procedimento a desgastou ainda mais, por isso recorreu ao robô. “Foi tudo excelente, não tive o menor problema e saí do hospital no dia seguinte. Fiquei muito satisfeita”, conta.

Para Paulo José, o importante era não perder o rim direito. O paciente pensava: ‘vai que um dia ele venha a fazer falta?’. Com a exatidão atingida pelas manobras do robô, foi possível extrair o nódulo e preservar 2/3 do rim, alternativa inexistente numa operação comum, pela qual o órgão é extirpado totalmente. “Praticamente continuo com os dois rins, foi o que o médico me disse”, explicou, todo animado.

A rotina simples de ir ao banheiro todos os dias, algo imperceptível para a maioria das pessoas, é hoje a sensação mais valorosa para Rosiane. A empresária chegava a ficar 15 dias com o intestino preso e mesmo assim, só regulava com purgante. Por quase uma década, ela se consultou com dezenas de especialistas, que se negavam a operá-la pelo alto risco de infecção que o procedimento envolvia. Até que a paciente foi informada sobre a cirurgia robótica, que mudou a sua vida. “É uma bênção! Uma ciência extraordinária, um procedimento futurístico que pode ser feito no presente”, descreve.

Hospitais usam Da Vinci, robô importado dos EUA

Rosiane, Paulo e Vera estão entre os mais de 250 pacientes já passaram pela cirurgia robótica em um ano no Hospital Vera Cruz, em Campinas (SP). O equipamento possibilita o acesso da população de Campinas e região ao o que há de mais moderno no campo da Medicina.  Primeira instituição privada fora das grandes capitais a realizar o procedimento, o Hospital Vera Cruz utiliza o robô Da Vinci, importado dos Estados Unidos, para procedimentos nas especialidades de urologia, ginecologia, coloproctologia, gastroenterologia, cirurgia geral e cirurgia torácica.

O primeiro procedimento com uso do robô foi uma prostatectomia (retirada da próstata) realizada em um paciente de 57 anos em dezembro de 2018. A cirurgia foi considerada um sucesso pela equipe do programa de cirurgia robótica do hospital. O procedimento durou cerca de três horas. A direção do Vera Cruz estimava realizar 180 cirurgias no primeiro ano de utilização do equipamento, média mensal de 15 cirurgias mensais, mas o número foi superado. O processo de habilitação e especialização em cirurgias robóticas é feito com treinamento in loco no robô e finaliza com a certificação em curso específico do fabricante, em Bogotá, na Colômbia.

A cirurgia bariátrica no Vera Cruz tem atraído pacientes não só de Campinas e região, mas também de outras partes do país, como Bahia, Amazonas e Goiás. A maior demanda foi registrada na Urologia: 64% destinado às técnicas para extração de câncer de próstata, de câncer de rim, entre outros tipos. A cirurgia pancreática, a de câncer colo retal, correção de hérnia, do refluxo gastroesofágico, dominadas pelo cirurgião geral, também ocorreram em grande número, totalizando 30,8% do total para a especialidade. O restante, 5,2%, foram de cirurgias ginecológicas, como histerectomia, endometriose e retirada de tumor.

‘Sensação de que estamos com os olhos dentro da barriga do paciente’

Robô da Vinci – equipamento hi tech controlado por um cirurgião a partir de um console – é  usado em cirurgias urológicas, ginecológicas, bariátricas, entre outras. O equipamento possui visualização 3D  que permite a visualização mais precisa, possibilitando a localização de tumores dentro de órgãos sólidos, assim como a identificação de áreas mais vascularizadas.

O braço do robô é o responsável por manipular as pinças articuladas, introduzidas no paciente para a cirurgia,  simulando um punho humano, mas com liberdade de manuseio muito maior do que qualquer instrumento comum, que contribui na precisão da dissecção da cirurgia. O robô traduz imediatamente os movimentos das mãos, pulsos e dedos do cirurgião, em movimentos precisos e em tempo real para as pinças cirúrgicas, além de filtrar qualquer tremor que o profissional venha a ter.

O gastroenterologista Fernando Bray Beraldo, do Hospital Santa Catarina, destaca que o robô tem como dispositivo de segurança um filtro de tremor, que impede movimentos bruscos, durante a operação. “Proporciona refinamento e delicadeza para operar. As pinças são precisas e o paciente tem menos estresse cirúrgico. Com os braços robóticos, conseguimos chegar em espaços que seriam difíceis com a mão”.

O equipamento amplia a imagem do campo cirúrgico em visão tridimensional, e proporciona movimentos articulados, em 360 graus, com precisão de movimentos. A visualização, com a imagem em 3D, dá a sensação de que estamos com os olhos dentro da barriga do paciente”, explica.

Quem imagina que o robô tem alguma autonomia, está enganado. O uso do equipamento não dispensa a presença da equipe médica na cirurgia. Afinal, todos os comandos são definidos e controlados em tempo real por médicos altamente treinados para a realização da cirurgia robótica.  “Ele (robô) é um divisor de águas. Porém, a responsabilidade da operação é inteira do cirurgião”, ressalta o ginecologista Gustavo Barison, do Hospital Santa Catarina.

Na prática, é um cirurgião comanda o equipamento, por meio de um joystick, tendo acesso a uma visão mais abrangente do que nas cirurgias convencionais. É este médico quem executa os movimentos no equipamento, que são replicados pelo robô, dento do paciente, durante a cirurgia. Um cirurgião assistente fica próximo à mesa cirúrgica, com outros especialistas, para dar o suporte necessário ao procedimento.

A cirurgia robótica também proporciona melhor ergonomia para o médico, que movimenta os braços mecânicos e as pinças do equipamento remotamente. Temos mais conforto e concentração, especialmente em procedimentos mais complexos e demorados”, completa o Dr Fernando.

Da Vinci Xi

Nova versão dá mais mobilidade e melhor definição de imagens

O Da Vinci  Xi é considerado o equipamento mais moderno em cirurgia robótica na atualidade. A nova versão do robô proporciona maior mobilidade e melhor definição de imagens para os médicos durante os procedimentos cirúrgicos.

Além de possibilitar que o médico realize as cirurgias com mais precisão – mesmo em áreas muito próximas, graças à rotação em 360 graus de garras mecânicas e câmera HD –, os principais diferenciais são um grampeador cirúrgico, utilizado nos procedimentos bariátricos, e a movimentação do robô em diferentes ângulos, sem necessidade de mudar o paciente de posição nas cirurgias de tórax ou da região colorretal.

No Hospital Santa Catarina, o Vinci Xi, da fabricante Strattner, auxilia a equipe médica em procedimentos nas áreas ginecológicas, urológicas, oncológicas e gastroenterológicas. O aparelho possibilita aos cirurgiões acessar locais considerados difíceis em cirurgias complexas, realizar incisões mais precisas e contar com visão 3D ampliada, o que permite aos especialistas terem melhor percepção de profundidade e imagem cristalina.

Em maio de 2018, o equipamento chegou ao Rio de Janeiro, no Samaritano Botafogo, que foi também o primeiro hospital privado na cidade a adotar essa tecnologia em 2012, tendo realizado em seis anos 757 cirurgias robóticas. O novo equipamento passou a ser utilizado em procedimentos cardiológicos, urológicos, endocrinológicos, digestivos, ginecológicos, torácicos e de cabeça e pescoço.

A cirurgia robótica vem sendo reconhecida como um dos mais importantes avanços da medicina nas últimas décadas. “O uso do robô permite cirurgias menos invasivas e mais assertivas e, no pós-operatório, uma recuperação mais rápida para os pacientes”, afirma Ricardo Periard, diretor do Hospital Samaritano Botafogo.

Novo equipamento custou R$ 15 milhões e faz 20 cirurgias por mês

O primeiro hospital da América Latina a adquirir o Da Vinci Xi foi o Hospital Moriah, localizado em Moema (SP), em maio de 2017. Com tecnologia avançada, a nova versão do robô é operada por médicos treinados em instituições americanas e europeias, nas áreas de Cardiologia, Urologia, Aparelho digestivo e Ginecologia. A expectativa inicial era realizar cerca de 20 cirurgias/mês com a nova versão do robô, comprada por R$ 15 milhões.

Além da versão mais moderna do robô, foram feitos investimentos em acessórios (grampeadores, seladores de vasos e fluorescência). “Adquirimos também o Ultrassom 3D com Probe para cirurgia robótica, que permite a visualização intra-operatória e maior precisão na remoção de lesões, preservando maior área de tecido saudável”,  disse o o CEO Alexandre Teruya. Ainda segundo ele, os médicos que atuam no hospital já estavam capacitados para operar o robô, porém, num modelo mais antigo.

Com o robô o hospital opta pelo gerenciamento em cadeia, englobando todos os participantes em prol do bem-estar do paciente, desde enfermeiros, médicos, fonte-pagadora e tecnologia. Para os profissionais e processos, o paciente é o centro da atenção. Os indicadores e as metas têm o objetivo de oferecer a sua melhor experiência e a diminuição de complicações e tempo de internação hospitalar”, comentou.

Tecnologia presente em hospitais públicos e privados

Os hospitais da Rede D’Or São Luiz estão credenciados para operacionalizar a plataforma Da Vinci Surgery, com seis robôs instalados em São Paulo, no Hospital São Luiz – Unidade Itaim, Hospital São Luiz – Unidade Morumbi, e Hospital e Maternidade Brasil; em Pernambuco, no Hospital Esperança Recife; e no Rio de Janeiro, no Hospital Quinta D’Or e no Hospital CopaStar.
urologista Mauricio Rubinstein, professor doutor em Medicina pela Uerj e precursor da técnica no Rio, foi um dos primeiros profissionais qualificados a trabalhar com cirurgia robótica no país.

Em um futuro próximo, novas tecnologias estarão sendo incorporadas (realidade virtual, feedback háptico), facilitando e aperfeiçoando o trabalho da equipe cirúrgica e os resultados finais para os pacientes. Haverá a possibilidade técnica de uma cirurgia ser realizada à distância e até entre países diferentes”, explica.

Com Assessorias
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