A voz é a principal ferramenta de comunicação e o instrumento de trabalho para muitos profissionais, como os cantores, locutores, radialistas, feirantes, dubladores e professores. Apesar de exercer um importante papel no dia a dia, nem sempre ela recebe atenção e os cuidados adequados.

Com o intuito de orientar a população sobre o tema, na semana dedicada ao Dia Mundial da Voz (16 de abril), a Academia Brasileira de Laringologia e Voz (ABLV) e a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF) indicam os hábitos que mais causam prejuízos à voz.

Excesso de uso vocal  – Falar por muito tempo, gritar ou cantar por longos períodos sem descanso podem causar fadiga e tensão na voz. Além disso, forçar a fala, na tentativa de compensar os ambientes barulhentos, por exemplo, também prejudica as pregas vocais, provocando o seu inchaço e deixando a voz mais rouca.

“Se a voz está rouca ou cansada, dê a ela uma pausa longa. Forçar a voz quando ela está fadigada pode levar a lesões. Por isso, o recomendado é dar um descanso e permitir que as pregas vocais se recuperem”, explica a presidente da ABLV, Adriana Hachiya.

Falar em tom de voz diferente do seu – Alterar o tom natural da voz ou sussurrar provoca uma tensão desnecessária nas cordas vocais.

Exposição a mudanças bruscas de temperatura – Ambientes com ar seco, ar-condicionado intenso ou alterações extremas de temperatura podem ressecar as mucosas da laringe e levar à rouquidão.

Fumar – Cigarros, charutos e produtos afins são vilões da saúde vocal, pois a fumaça, a nicotina e os outros componentes do cigarros causam ressecamento, inflamação e irritação na parte interna do trato vocal, que corresponde à via que passa pelo nariz, boca e cordas vocais, além do seu potencial cancerígeno.

“Isso gera esforço para conversar e, com o tempo, a rouquidão também aparece. Além disso, fumar pode gerar um inchaço chamado de edema de Reinke, que aumenta o tamanho das cordas vocais. Conforme o grau da extensão desta lesão, pode haver uma resistência da passagem de ar para o pulmão e consequente falta de ar”, explica Hachiya.

O tabaco ainda pode provocar outras alterações, como pólipos, hiperplasias (aumento do tamanho de células) e até câncer nas cordas vocais.

Ingerir álcool – O consumo de álcool causa desidratação, lesões nas pregas vocais, refluxo gastroesofágico, irritando a garganta e as cordas vocais, além de elevar os riscos de desenvolvimento de câncer de esôfago, faringe e laringe. Se em excesso, o álcool também pode afetar a coordenação motora, prejudicando a dicção das palavras e a emissão do som.

Pigarrear e tossir constantemente – Esses atos geram atrito entre as pregas vocais e podem lesioná-las. Com o tempo, nódulos, pólipos ou granuomas podem surgir devido ao mau hábito.

Não se hidratar adequadamente – Beber água é requisito importante para manter as mucosas da faringe e laringe saudáveis, pois ajudam a manter as cordas vocais lubrificadas.

Viver estressado – Os músculos da laringe são sensíveis aos fatores emocionais, entre elas o estresse. O tensionamento da musculatura cervical pode levar ao que a medicina chama de disfonia funcional.

Ignorar sintomas – Cansaço ao falar, rouquidão, mudanças de tom de voz, redução do tempo e de ritmo de fala, perda de potência vocal e variações de intensidade da voz, são sinais de que algo não vai bem.

“É importante que a população tenha consciência que esses comportamentos, que podem parecer num primeiro momento inofensivos, trazem consequências à saúde vocal. Diante dos sintomas, é essencial que se busque um otorrinolaringologista para investigar o problema, pois ele é o profissional habilitado para o correto diagnóstico e para definição do melhor tratamento a ser seguido, seja ele expectante, medicamentoso, fonoterapia ou cirurgia”, explica a médica.

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Inteligência artificial a serviço da saúde vocal

De adesivo que permite falar sem as pregas vocais aos desafios sobre a voz gerada por IA, o Dia Mundial da Voz celebra a ciência e educa para a saúde vocal. A ciência busca continuamente o desenvolvimento de soluções que possam manter ou devolver a comunicação pela fala, tal como o exemplo recente de um dispositivo criado na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), nos Estados Unidos, por uma equipe de bioengenheiros.

Descrito em um estudo publicado na Nature Communications em março, é um dispositivo adesivo bem pequeno fixado externamente à garganta, que detecta os movimentos dos músculos do pescoço e consegue, por meio de inteligência artificial, gerar voz.

“Este dispositivo detecta os movimentos e os traduz em sinais audíveis por meio de um algoritmo de aprendizado de máquina, oferecendo uma solução inovadora para pessoas que enfrentam desafios na fala após cirurgias de câncer de laringe ou outras condições médicas, apesar de ainda estar em fase inicial nas pesquisas, é algo bastante promissor”, explica Ana Carolina Constantini, coordenadora do Departamento de Voz da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa).

Para além das questões da saúde, o contexto da voz também abrange o uso profissional da voz e a necessidade de proteção dos direitos autorais, especialmente no mundo da música, cinema e teledramaturgia, invadido pela indústria de produção por Inteligência Artificial.

Recentemente, três das maiores gravadoras do mundo – Universal Music Group, Concord Music Group e ABKCO Music – entraram com ação contra a Anthropic, empresa que desenvolve modelos de inteligência artificial, alegando violações de direitos autorais de letras de músicas.

Esses e outros movimentos estão no radar, estudo e debate constante do Departamento de Voz da SBFa para assegurar a informação, prevenção e cuidados necessários para todos possam utilizar a voz em sua plenitude.

Priscila Oliveira, vice-coordenadora do Departamento de Voz, explica que os fonoaudiólogos precisam se manter atualizados para trazer aos pacientes um tratamento fonoaudiológico baseado em evidências científicas.

“Esses profissionais atuam desde o tratamento e reabilitação, como em casos de câncer de cabeça e pescoço, entre outros, passando pelo cuidado e aprimoramento do profissional da voz, como cantores, apresentadores, jornalistas, até o desenvolvimento de novas tecnologias que possibilitem melhor rastreio de disfonias, por exemplo”, exemplifica.

Campanha Nacional da Voz

Para alertar a população sobre a importância e os cuidados necessários com o aparelho fonatório, a ABLV e a ABORL-CCF promovem de 13 a 19 de abril, a 26ª Campanha Nacional da Voz, que esse ano tem como mote “Nós cuidamos da sua voz para o mundo todo ouvir”. A ação surgiu da iniciativa da Academia Brasileira de Laringologia e Voz em 1999 e tomou proporções internacionais.

A campanha reúne médicos instruindo profissionais de saúde e a população sobre os sinais e sintomas, o diagnóstico e tratamentos de problemas que afetam a voz, bem como, respondendo às dúvidas em bate-papos ao vivo pelo Instagram @otorrinoevoce, canal idealizado pela ABORL-CCF para a promoção da educação em saúde, e @cuidedasuavoz, página da Campanha Nacional da Voz mantida pela ABLV.

A ação ainda conta com a participação de personalidades, entre eles o ator Miguel Falabella, e os cantores Xande de Pilares e Adriana Calcanhoto, propagando informações sobre a prevenção e o cuidado com a voz.

Serviço
Campanha da Voz 2024
Data: de 13 a 19 de abril
Informaçõeswww.ablv.com.br
Acompanhe: Instagram @otorrinoevoce e @cuidedasuavoz

Com Assessorias

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