7 a cada 10 casos de câncer de mama dispensariam quimioterapia

Estudo apresentado na Asco, nos Estados Unidos, mostra que mulheres precisariam passar por teste genético, que ainda é caro e inacessível no Brasil

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Estudo apresentado na reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco), maior evento médico e científico sobre câncer no mundo, mostrou que sete em cada 10 mulheres com o tipo mais comum de câncer de mama poderiam ser poupadas da quimioterapia após a cirurgia.  A indicação dos médicos é que mulheres, a partir de um exame genético, poderão ser tratadas com terapia hormonal, mais amena e com menos efeitos colaterais.

Os autores do estudo recomendam que qualquer mulher com câncer de mama inicial com até 75 anos deve fazer o teste genético para avaliar seu risco de recidiva e receber o tratamento mais adequado após a cirurgia.  O teste, no entanto, não está disponível no Brasil, nem pelo SUS, nem pelos planos de saúde. Nos Estados Unidos, o teste custaria em torno de 13.500 reais.

Gilberto Amorim, da clínica Oncologia D’Or, afirma que o Tailor X é daqueles estudos que mudam a prática imediatamente notadamente nos EUA, Europa e outros países desenvolvidos. “A informação científica é robusta e definitiva, o teste genômico se junta ao MAMMAPRINT na consistência dos dados para avaliar se há maior ou menor risco de recorrência”, comenta o oncologista clínico. “Pena que para a nossa realidade é um exame de exceção em função do custo. Infelizmente é uma exame para a classe alta”, acrescentou.

“Mas há tratativas e iniciativas preliminares de operadoras brasileiras em bancar o custo do exame, pois pode ser custo efetivo na nossa realidade. Numa conta simples: se de cada 10 pacientes que estão hoje fazendo quimio, sete não precisam, poderiam ser apenas três. Se somarmos o custo de três quimios mais 10 testes, pode ser menor do que o de sete quimios em 10 sem o teste. Portanto conseguiríamos poupar 7/10 das pacientes do impacto físico, psicológico e social da quimioterapia com potencial redução de custos.”

Daniel Gimenes, oncologista do Grupo Oncoclínicas em São Paulo, diz que a indicação da quimioterapia para o câncer de mama sempre ocorreu por falta de outros recursos, mas esse cenário, agora, mudou. “As descobertas terão um impacto imediato na prática clínica, poupando milhares de mulheres dos efeitos colaterais da quimioterapia. O suporte do teste genético, que analisa 21 genes do tumor, fornece uma informação mais precisa a respeito da real necessidade do tratamento pós operatório. Hoje, mais do que nunca, a medicina de precisão é uma grande aliada das pessoas em tratamento”, diz. “O anúncio do TAILORx traz muitos subsídios para os oncologistas e aumenta o poder de decisão do médico para indicar o melhor tratamento para cada tipo individualizado de paciente”.

Até a divulgação desses dados, o tratamento padrão era a quimioterapia associada com a hormonioterapia após a cirurgia. A quimioterapia, no entanto, além de não ter efeito para todas as pacientes, gera muitos efeitos colaterais que diminuem a qualidade de vida das mulheres. Entre os mais comuns estão a náusea, vômitos, fadiga, perda de cabelo, infecções, infertilidade e neuropatia.

Para Mario Alberto Costa, do Grupo Oncoclínicas no Rio de Janeiro, esse resultado foi um dos mais importantes para o segmento de câncer de mama, tipo mais comum entre as mulheres no mundo e no Brasil, depois do de pele não melanoma, respondendo por cerca de 28% dos novos casos registrados no país a cada ano.

Na análise geral, ficou evidente que algumas mulheres podem abrir mão da quimioterapia, que, como se sabe, é um tratamento mais agressivo. Acredito que essa é uma notícia muito boa para a maioria das pacientes. Com mais segurança e informação é possível oferecer um tratamento mais específico para cada pessoa”, comenta.

Mais sobre a pesquisa

OTailorX analisou mais de 10 mil mulheres com câncer de mama receptor hormonal positivo em estágio inicial e sem infiltração no linfonodo da axila. As pacientes foram submetias ao teste genético Oncotype DX® Breast Recurrence Score, que testa a expressão de 21 genes relacionados ao tumor de mama e prediz o risco de recidiva da doença. Cerca de 6.700 mostraram um risco baixo, com um score no teste de 11 a 25.

O estudo também mostrou que o grupo de mulheres que pode se beneficiar da quimioterapia é composto majoritariamente por pacientes de 50 anos ou menos com um score de 16-25 no teste genético. Além disso, o ensaio indicou que as mulheres com score de 26 ou mais tiveram uma taxa de recidiva de 13%, indicando que são necessárias novas terapias para esse grupo.

Essas mulheres de baixo risco foram randomicamente separadas em dois grupos, um que recebeu a hormonioterapia isolada e outro tratado com a hormonioterapia e a quimioterapia padrão. Os pesquisadores queriam investigar qual seria o melhor tratamento para cada faixa de risco apontada pelo teste.

Depois de acompanharem essas pacientes por 7,5 anos, os pesquisadores observaram que as mulheres sem a quimioterapia não tiveram um resultado pior que as demais. A recidiva nos dois grupos foi muito semelhante (94,5% vs. 95%), bem como a sobrevida global (93.9% vs. 93.8%) e a sobrevida livre de progressão (83.3% vs. 84.3%).

“Metade de todos os cânceres de mama são desse tipo, hormônio positivos e HER2 e linfonodo axilal negativo. Nosso estudo mostra que 70% dessas mulheres podem evitar a quimioterapia quando usamos o teste genético, limitando o tratamento mais agressivo para apenas 30% que realmente se beneficiam desse esquema”, comentou em coletiva de imprensa ao líder do estudo, Joseph Sparano do Albert Einstein Cancer Center (EUA).

Durante cinco dias, o Encontro Anual da Asco reuniu em Chicago, nos Estados Unidos, os principais nomes da oncologia no mundo. Ao todo, o evento, considerado o maior e mais importante do calendário especializado, atraiu cerca de 40 mil pessoas que acompanharam uma série de apresentações, pesquisas inéditas e debates sobre as formas como especialistas de diferentes países podem transformar os principais avanços científicos e tecnológicos recentes em realidade para o tratamento do câncer.

Da Redação, com Assessorias

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