Por que será que muita gente tem dificuldade de dizer não para o outro? Do ponto de vista fisiológico, nos primeiros anos de vida, o ser humano é um dos seres vivos mais desprotegido e desamparado do planeta. Quando nascemos, nosso organismo ainda está em desenvolvimento; não andamos, não falamos, não temos dentes para mastigar, e nossa capacidade de organizar o pensamento vai se formando lentamente ao longo da infância.
Diferente da maioria dos outros seres vivos que já nascem andando e até já caçando, nascemos totalmente dependentes de alguém para nos prover, tanto do ponto de vista orgânico, como emocional. Como seres sociais, precisamos estar em contato com nossos semelhantes e, ainda pequenos, dependemos de alguém nos colocar em contato com outras pessoas. Seja na família, na escola, na comunidade.
Este estado de dependência nos faz precisar e querer ser amados e protegidos e tudo fazemos para manter esses vínculos de cuidados. Nasce daí o desejo de sempre agradar, ser prestativo, e a dificuldade de dizer não, de contrariar pessoas próximas e queridas.
Na medida em que crescemos, vamos construindo nossas personalidades, nossos desejos e sonhos, que nem sempre são os mesmos dos nossos primeiros cuidadores. Dizer não, significa nos afirmar como pessoas independentes, que vão estabelecer novos relacionamentos e construir a própria vida. E nem sempre esse é um processo fácil.
Quanto mais seguramente amados nos sentimos, mais fácil é dizer não e estabelecer os limites entre nós e nossos cuidadores originais. Quanto mais nos sentimos bem quistos, mais fácil é se ariscar por novos caminhos, pois teremos a certeza de poder voltar para um lugar seguro, para pessoas que nos acolherão independente de qualquer situação.
Por outro lado, vínculos de afetividade frágeis, cuidadores inseguros e/ou controladores, criam dificuldades para essa separação inevitável. E dizer não ganha o significado da ingratidão, da falta de afeto, da falta de respeito e, o mais importante, significa a ameaça de rompimento de vínculos, a rejeição total ou parcial. Significa estar sozinho, sem ter para onde voltar, sem ter com quem dividir até mesmo as coisas boas.
Nascer e crescer num contexto de afetividade frágil, nos torna frágeis diante da vida. A dificuldade de dizer não, de colocar limites entre nós e os outros, vai
contaminando todas as áreas de nossa vida: afetiva, profissional, fraterna, social.
Quando a dificuldade de dizer não, for muito grande e você sozinho não está conseguindo resolver, procure ajuda profissional de um psicólogo. Saber dizer não, dar limites para o outro, se posicionar, se colocar, se fazer respeitar, também é uma forma de auto-cuidado. A pessoa que consegue dizer não, sem culpa, se torna um ser mais livre, espontâneo e feliz!
Vamos começar a dizer não para ter mais saúde mental!
