O AVC (Acidente Vascular Cerebral), popularmente conhecido como derrame, é a segunda causa de morte no mundo, sendo responsável por, em média, seis milhões óbitos a cada ano. A Organização Mundial do AVC (World Stroke Organization) estima que a cada ano 17 milhões de pessoas sofram da doença e a cada seis segundos, uma pessoa morra por conta desse quadro.
Infelizmente, os casos de AVC estão crescendo em todo o mundo, sendo uma das principais causas de mortalidade e incapacidade. No Brasil, os números também são alarmantes. Por aqui, são mais de 100 mil vítimas fatais por ano. São mais de 400 mil novos casos todos os anos e a cada cinco minutos, uma pessoa morre. A doença é a principal causa de incapacidade em adultos e já foi a principal causa de morte no país, passando ser a segunda causa de morte desde 2011.
O AVC atinge mais o sexo masculino e está crescendo entre as mulheres, principalmente no período da menopausa. Levantamento Saúde Brasil 2018, do Ministério da Saúde, divulgado recentemente, a taxa de óbitos pela doença caiu 11% – de 39,5 para 35,2 óbitos por 100 mil habitantes – entre mulheres de 30 a 69 anos, mas ainda tem alta taxa de letalidade.
Ao lado das doenças cardíacas, que, também segundo o estudo, teve queda em seu índice de letalidade, apresentando redução de 55 para 51,6 óbitos por 100 mil, o AVC permanece no topo da lista como as doenças que mais matam a população feminina nesta faixa de idade. Embora a maioria dos casos ocorra nas pessoas com mais de 65 anos (o risco é 30 a 50 por mil nesta faixa etária), hoje existe um aumento abrupto dos casos de AVC entre pessoas na casa dos 35 e 55 anos.
Pensando em alertar a população sobre o impacto da doença, a agenda mundial de saúde reserva o 29 de outubro como o Dia Mundial de Combate ao AVC. “Um em cada quatro de nós terá um AVC ao longo da vida. Não deixe que seja você” é o principal lema da campanha de 2019. A ideia é chamar a população brasileira para contribuir com a própria saúde.
O que fazer para não ser a próxima vítima
Mais de 80% dos casos podem ser evitados pelos cuidados com os aspectos que ameaçam à saúde. Preservar-se do tabagismo e do alcoolismo, controlar a hipertensão arterial, a diabetes, o colesterol alto e a arritmia cardíaca, praticar atividades físicas e manter uma alimentação adequada são as principais atitudes a serem tomadas para não ser a próxima vítima.
“Muitas pessoas tem conhecimento dos métodos de prevenção, mas não praticam. Temos uma população cada vez mais obesa, sedentária, com uma dieta desequilibrada. A situação é muito preocupante”, alerta Sheila Ouriques Martins, membro da Academia Brasileira de Neurologia, presidente da Rede Brasil AVC, vice-presidente da Organização Mundial de AVC e coordenadora no Brasil da campanha mundial 2019.
Ela afirma que certas doenças associadas ao AVC, como a hipertensão arterial, são assintomáticas, o que dificulta a procura por ajuda médica. Para auxiliar na adoção de hábitos saudáveis pela população, a Rede Brasil AVC lançou no País, o aplicativo gratuito “Riscômetro do AVC”, que calcula a possibilidade de o paciente ser acometido pela doença e dá dicas pertinentes às mudanças no estilo de vida. “Vamos unir vozes parar falar sobre a doença e chamar a atenção das pessoas para esses cuidados primários”.
“A prevenção deve ser sempre prioridade. Queremos empoderar as pessoas para que elas reconheçam os fatores de risco e mudem os hábitos de vida. Só assim as chances de desenvolver um AVC diminuirão drasticamente”, afirma Sheila. Em situação de alerta, o ideal é chamar o SAMU 192 ou dirigir-se rapidamente ao hospital mais próximo.
Risco para quem fuma é 50% maior
As doenças cardíacas e o AVC são classificadas como doenças crônicas não-transmissíveis, sendo preveníveis. Especialistas apontam que nove em cada dez casos poderiam ser evitados, já que estão relacionados com fatores de risco que podem ser prevenidos, como hipertensão arterial, colesterol alto, arritmias cardíacas, diabetes, tabagismo, sedentarismo, obesidade, ingestão excessiva de gordura, álcool e drogas e uso de contraceptivos pelas mulheres.
Rubens J Gagliardi, neurologista e presidente da Associação Paulista de Neurologia (Apan), reforça a necessidade dos cuidados com a saúde. “É muito importante falar sobre prevenção e tratamento. O AVC está significativamente relacionado com o estilo de vida. A população precisa ter conhecimento dos fatores de risco, para se cuidar melhor, evitando um evento inesperado”, ressalta Dr. Rubens.
Uma pessoa que fuma tem 50% a mais de chance de ter um AVC, tanto o hemorrágico como o isquêmico. O risco de AVC aumenta por causa do efeito da nicotina, que forma placas nas paredes internas das artérias. Quando alguma placa se rompe pode ocorrer uma ruptura da parede da artéria fazendo um AVC hemorrágico. Mas estas placas podem aumentar tanto de tamanho que pode diminuir o fluxo de sangue em uma região do cérebro, fazendo assim uma isquemia cerebral.
Conscientizar a população sobre a importância da adoção de hábitos saudáveis no dia a dia é apenas o começo da prevenção. É preciso que a sociedade entenda que o tratamento da pressão alta, colesterol e diabetes são essenciais para manter-se sempre longe dos riscos do AVC. Entre os fatores preventivos, o fim do tabagismo e a adoção de uma alimentação saudável, com frutas, legumes, verduras e carnes brancas, somadas a prática de exercícios físicos”, ressalta André Lima, neurologista e diretor da Clinica Neurovida e membro da Academia Brasileira de Neurologia.
Existem ainda fatores que não podem ser controlados, como a idade – a doença acomete os mais idosos – e uma pré-disposição genética, que pode ser analisada pelo histórico familiar. O problema também é mais comum em homens. De qualquer forma, o AVC pode ocorrer em qualquer sexo ou idade. “Conhecer seus próprios fatores de risco e controlá-los, realizar atividades físicas e manter uma dieta saudável rica em frutas, legumes e vegetais pode reduzir os riscos”, aconselha a neurologista Carla Moro, presidente do Conselho Fiscal e Consultivo da Associação Brasil AVC (ABAVC).
Como acontece um AVC?
O AVC é uma alteração do fluxo sanguíneo dentro do cérebro. Quando o fluxo de sangue para uma área do cérebro é interrompido por uma obstrução vascular ocorre o AVC isquêmico: 85% dos casos acontecem quando um vaso sanguíneo no cérebro fica bloqueado devido a um coágulo ou trombo. Já aproximadamente 15% dos casos ocorrem por extravasamento de sangue em alguma região do cérebro, provocando um coágulo, esse é o AVC hemorrágico.
Nosso cérebro é formado por neurônios que sobrevivem por pouquíssimo tempo após a interrupção do fluxo sanguíneo. Uma vez que essas células morrem, o dano cerebral é irreversível e, por isso, surgem as temidas sequelas dos AVCs. Como nosso cérebro é responsável por comandar diferentes funções do corpo, as sequelas vão depender de qual área foi acometida”, explica a cardiologista Renata Castro, especialista em medicina esportiva.
AGENDA POSITIVA
Atividades de conscientização ocorrerão durante todo o mês em várias cidades do Brasil durante a campanha coordenada internacionalmente pela World Stroke Association e no Brasil pela Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares e pela Rede Brasil AVC, com apoio da Apan. A data ajuda a esclarecer a população, cultivar os hábitos diários de prevenção e evitar, por fim, que a doença continue fazendo ainda mais vítimas entre os brasileiros.
Em São Paulo, uma das atuações ocorreu em cinco estações do metrô de São Paulo e no Parque da Água Branca, na Zona Oeste da cidade, no dia 26. O foco era investigar qual é o nível de conhecimento do público sobre a doença, (o que é o AVC, como caracterizar, como prevenir, como tratar e como agir). Simultaneamente, foi realizado um trabalho de orientação sobre os riscos, as precauções necessárias e os tratamentos ligados ao acidente vascular cerebral.
No Brasil, a campanha do AVC ocorre de 26 de outubro a 3 de novembro. Quem quiser participar de alguma forma pode se inscrever pelo e-mail contato@redebrasilavc.org.br.
Exames gratuitos em Duque de Caxias (RJ)
Nesta terça-feira (29 de outubro), entre 14h e 19h, o Hospital de Clínicas Mario Lioni realiza na Praça do Pacificador, em Duque de Caxias (RJ), um evento para celebrar o Dia Mundial de Combate ao AVC. Serão oferecidos, gratuitamente, exames de medição de pressão arterial, de frequência cardíaca e do nível de glicemia. Ao todo, 20 profissionais participarão da ação, entre médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e nutricionistas. Também serão distribuídos folders com informações preventivas. Das 8h às 12h, no auditório do Mário Lioni (Rua Ana Nery, 245, Bairro 25 de Agosto, Duque de Caxias), haverá uma série de palestras sobre o AVC para estudantes e profissionais da área de saúde. As inscrições podem ser feitas pelo e-mail eventos.hcml@gmail.com.
Talk show alerta para riscos em SP
Nesta terça-feira, 29 de outubro, às 15h, o HCor promoverá uma ação em formato de talk show com dicas para diminuir os riscos do AVC. Na ocasião, uma equipe multidisciplinar composta por psiquiatra, cardiologista, nutricionista e fisiologista do esporte irá abordar os diversos aspectos relacionados a prevenção e ao tratamento do AVC. Moderada pelo neurologista do HCor, Dr. Eli Faria Evaristo, o talk show tem como objetivo alertar os riscos, diagnóstico, além de oferecer dicas de como reconhecer o AVC.
Da Redação, com Assessorias