Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgada esta semana apontou que um em cada nove adolescentes brasileiros afirma que usa cigarro eletrônico – popularmente conhecido como ‘vape’. O estudo ouviu cerca de 16 mil pessoas de 14 anos ou mais, de todas as regiões do país. A quantidade de usuários jovens que usam cigarro eletrônico já é cinco vezes o total daqueles que fumam o cigarro tradicional.

A pesquisa utilizou dados de 2022 a 2024 do Terceiro Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad 3). É a primeira vez que cigarros eletrônicos entram no levantamento. Os participantes ouvidos no estudo receberam a opção de serem encaminhados para tratamento no Hospital São Paulo e no Centro de Atenção Integral em Saúde Mental da Unifesp

Os dados sobre o consumo de vapes entre adolescentes brasileiros reforçam o alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS), de que o uso de cigarros eletrônicos é maior entre crianças de 13 a 15 anos do que entre adultos. “Os cigarros eletrônicos são comercializados para pessoas muito jovens para torná-los dependentes da nicotina”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.

Smart pods: jogos, aplicativos e até envio de mensagens por vapes

No Brasil, a fabricação, importação, comércio, transporte e propaganda de cigarros eletrônicos são proibidos desde 2009 por resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Apesar da proibição, o uso desses dispositivos tem ganhado popularidade nos últimos anos, especialmente entre os mais jovens, a partir da variedade de sabores e produtos com visual arrojado.

Recentemente, surgiram no mercado paralelo opções de Smart Pods, cigarros eletrônicos com jogos, aplicativos, e até mesmo as funções de fazer ligações e mandar mensagens. O público-alvo deste tipo de cigarro tende a ser adolescente.

Entre os sabores e cheiros doces e a tecnologia cada vez mais implantada nos dispositivos (existem, até mesmo, versões com bichinhos virtuais que “morrem” caso seu “dono” pare de tragar), os cigarros eletrônicos conquistam seu público-alvo – um em cada 5 adolescentes, só no Brasil, já usou algum vape”.

Não por acaso, o tema do Dia Mundial Sem Tabaco (31 de maio) este ano, conforme proposto pela OMS, foi “Desmascarando a indústria do tabaco: expondo as táticas da indústria para deixar os produtos de tabaco e nicotina mais atrativos.”

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Facilidade de acesso a vapes pela internet

Apesar de o cigarro eletrônico ser proibido no Brasil, a coordenadora da pesquisa e professora de psiquiatria da Unifesp, Clarice Madruga, ressalta que é muito fácil comprar o aparelho pela internet, o que amplia o acesso.

Outro problema, aponta a pesquisadora, é o risco à saúde, já que a inalação de substâncias altamente tóxicas, como a nicotina, é muito maior no cigarro eletrônico, se comparado ao cigarro tradicional. Clarice lamenta o retorno do crescimento do uso de cigarro, após o sucesso de políticas antitabagistas, iniciadas na década de 1990, que tinham freado o consumo.

A gente teve uma história gigantesca de sucesso de políticas que geraram uma queda vertiginosa no tabagismo, mas que um novo desafio quebrou completamente essa trajetória. E a gente hoje tem um índice de consumo, principalmente entre adolescentes, muito superior e que está totalmente invisível”, afirma.

‘Pulmão de pipoca’: os riscos pulmonares do cigarro eletrônico

De acordo com Fernanda Aguiar, coordenadora da Medicina Respiratória do Hospital Mater Dei Salvador, os jovens impactados pelo uso de vapes, como são chamados na linguagem coloquial, vêm sendo diagnosticados com doenças pulmonares graves.

Como a Evali (sigla em inglês para Lesão Pulmonar Associada ao uso de Cigarro Eletrônico), que teve mais de 2.800 ocorrências nos Estados Unidos entre o início de 2019 e fevereiro de 2020 e pode provocar lesões similares às da Covid-19, e, menos frequentemente, a bronquiolite obliterante, também conhecida como “pulmão de pipoca”.

Com informações da Agência Brasil e Assessorias

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