Apenas sete dias após ser declarado como um paciente à espera de um transplante de coração, o apresentador Fausto Silva, de 73 anos, recebeu um órgão neste domingo (27/8). O procedimento, que durou duas horas e meia, ocorreu no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, onde Faustão deu entrada em 5 de agosto, com quadro grave de insuficiência cardíaca. Ele deverá permanecer internado por pelo menos mais três ou quatro semanas para monitorar o risco de infecção ou de rejeição do coração transplantado.

Mas, afinal, por que o apresentador conseguiu ser transplantado em tão pouco tempo, se a média normal no país para se conseguir um procedimentos do tipo chega a três meses? Faustão teria furado a fila do Sistema Único de Saúde (SUS), que regula todos os transplantes de órgãos realizados no Brasil, tanto nas redes pública e privado quanto pelos planos de saúde? Além do próprio hospital, as respostas vieram do Ministério da Saúde e da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo, por meio da Central de Transpante do estado.

A explicação para a rapidez com que Faustão foi transplantado está na gravidade do caso, um dos principais critérios para prioridade na fila – o apresentador reunia as condições que representavam um risco de morte. Internado sob cuidados intensivos, ele recebia medicações para promover o bombeamento do sangue para o coração e vinha sendo submetido a hemodiálise para manter o funcionamento dos rins, o que, junto com o coração, é considerado essencial para a sobrevivência de um paciente.

Em nota divulgada à noite, o Ministério da Saúde explicou que Faustão “também foi priorizado na fila de espera em razão de seu estado muito grave de saúde”, conforme ocorrera com outros sete pacientes do Estado de São Paulo que receberam transplantes de coração na última semana.

“Neste domingo (27), mais um paciente na capital paulista foi contemplado com um transplante cardíaco, neste caso, também priorizado na fila de espera em razão de seu estado muito grave de saúde – o apresentador Fausto Silva. Ele recebeu um coração após constatada a compatibilidade necessária para o procedimento, assim como os outros sete transplantados no estado de São Paulo”, informou a nota do MS.

Segundo a pasta, na semana passada, entre 19 e 26 de agosto, 13 pacientes receberam transplantes de coração no Brasil, sete somente em São Paulo, estado com o maior volume de transplantes. Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, representante do MS disse que a fila de transplante é totalmente informatizada, sem qualquer risco de ingerência de alguma pessoa, e também facilmente auditável – caso alguém tente burlar o sistema, seria facilmente identificado.

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Faustão era o segundo na fila de prioridade

Embora estivesse há apenas uma semana na fila, a Central de Transplantes do Estado de São Paulo – que é controlada pela Secretaria de Estado de Saúde – informou que Faustão ocupava o  segundo lugar. O apresentador tem o tipo sanguíneo B, segundo a Central, o tempo de espera por um transplante de coração, para potenciais receptores desse grupo sanguíneo, é de um a três meses.

“A seleção gerada para a oferta do coração deste receptor, através do sistema informatizado de gerenciamento do sistema estadual de transplantes, trouxe 12 pacientes que atendiam aos requisitos. Destes, quatro estavam priorizados, sendo que o paciente ocupava a segunda posição nesta seleção”, afirmou a Central.

Segundo a Central, “quando os critérios técnicos são semelhantes, a ordem cronológica de cadastro, ou seja, a ordem de chegada, funciona como critério de desempate. Pacientes em estado crítico são atendidos com prioridade, em razão de sua condição clínica”.

De acordo com as informações fornecidas pela Central, a equipe médica do paciente que ocupava a primeira posição – não foi informado o perfil nem em qual unidade hospitalar ele estaria – decidiu pela recusa do órgão e, desta forma, a oferta seguiu para o segundo paciente da fila de espera, que era o apresentador.

Notícia sobre coração compatível veio na madrugada

Em boletim médico, o Einstein informou que foi acionado pela Central de Transplantes do Estado de São Paulo na madrugada deste domingo, “quando foi iniciada a avaliação sobre a compatibilidade do órgão, levando em consideração o tipo sanguíneo B”. A cirurgia foi realizada com sucesso e Faustão permanecerá na UTI, pois “as próximas horas são importantes para acompanhamento da adaptação do órgão e controle de rejeição”.

De acordo com o hospital, a cirurgia aconteceu no início da tarde e durou cerca de 2h30. “O procedimento foi realizado com sucesso e Fausto Silva permanece na UTI, pois as próximas horas são importantes para acompanhamento da adaptação do órgão e controle de rejeição”, diz o boletim.

O doador é um homem de 35 anos – não foi revelado de onde veio o órgão, nem em que condições o paciente teve morte cerebral declarada para que seu órgão fosse captado para o transplante – o que só pode ocorrer no Brasil com autorização expressa da família do morto. Mas entre os critérios de compatibilidade, além da gravidade do caso e do tipo sanguíneo, são avaliados fatores como peso e altura do doador e receptor.

Espera por coração chega a ser de 3,6 meses no Estado do Rio

Enquanto Faustão teve sorte, outros brasileiros esperam por um coração novo para sobreviver – delas, 67 são crianças e adolescentes com até 17 anos de idade, o que representa 17% do total existente até o dia 16 de agosto no Sistema Nacional de Transplantes. As informações foram passadas pelo Hospital Pequeno Príncipe, de São Paulo, que tem hoje cinco crianças listadas na fila do transplante cardíaco e outras duas estão sendo avaliadas para entrar na lista.

Especializado em transplantes cardíacos, o Hospital do Coração (Hcor), em São Paulo, esclareceu na última semana que “em casos menos graves, a espera por um transplante cardíaco pode ser de 12 a 18 meses, em média. Em casos mais graves, esse período pode ser reduzido para dois a três meses”. “Em casos menos graves, a espera por um transplante cardíaco pode ser de 12 a 18 meses, em média. Em casos mais graves, esse período pode ser reduzido para de dois a três meses”.

O tempo de espera pode variar de estado para estado. No Rio de Janeiro, por exemplo, tem uma espera média por um coração de 3,6 meses, segundo dados de 2022 divulgados pela Secretaria de Estado de Saúde. Até o dia 16 de agosto deste ano, foram realizados no estado 19 transplantes de coração e 19 pacientes aguardam a sua vez de receber um órgão doado.

Fila única válida para redes pública e privada

O Ministério também reafirmou que “o Brasil tem o maior sistema público de transplantes de órgãos no mundo” e que no primeiro semestre de 2023, foram realizados 206 transplantes de coração no Brasil, o que representa aumento de 16% em relação ao mesmo período do ano passado. E voltou a enfatizar os critérios para priorização dos pacientes.

“A lista para transplantes é única e vale tanto para os pacientes do SUS quanto para os da rede privada. A lista de espera por um órgão funciona baseada em critérios técnicos, em que tipagem sanguínea, compatibilidade de peso e altura, compatibilidade genética e critérios de gravidade distintos para cada órgão determinam a ordem de pacientes a serem transplantados.

A pasta assegura ainda que “cirurgias de alta complexidade sejam realizadas para pacientes da rede pública e privada, em situação de igualdade”. Todo o processo envolve várias etapas e não ocorre somente na hora da cirurgia. “Os pacientes, por meio do SUS, recebem assistência integral, equânime, universal e gratuita, incluindo exames preparatórios, cirurgia, acompanhamento e medicamentos pós-transplante”, informa o MS.

Mais de 65 mil brasileiros estão à espera por um transplante no país atualmente, segundo o Ministério da Saúde. Cerca de 380 pacientes aguardam por um coração na fila.  Em 2022, foram quase 26 mil cirurgias de transplante no Brasil, entre os quais 359 de coração. O país tem ainda mais de 600 hospitais autorizados a fazer transplantes.

Fontes: Ministério da Saúde, G1 e CNN

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