Segundo um estudo do National Institute of Mental Health (NIMH) de 2023, cerca de 18,6% das gestantes são diagnosticadas com depressão durante a gravidez. Além disso, uma análise recente do NIMH, publicada neste ano, revelou que aproximadamente 20% das gestantes sofrem de ansiedade significativa na gestação.

Além de prejudicar a qualidade de vida da mulher, a ansiedade gestacional está associada a riscos como parto prematuro e baixo peso ao nascer. Mais de 30% dos bebês brasileiros apresentam atrasos no desenvolvimento antes de completar um ano, o que pode estar associado à saúde mental materna.

A pesquisa destaca a necessidade de intervenções eficazes, especialmente em regiões com poucos recursos, para reduzir os efeitos negativos da ansiedade na saúde da mãe e no desenvolvimento do feto.

Aí entra a psicologia perinatal, fundamental para prevenir e tratar problemas como ansiedade, depressão e estresse, que muitas mulheres enfrentam durante a gestação e o puerpério – fase que vai dos 45 aos 60 dias após o parto.

Esse tipo de assistência agora é garantido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A nova Lei 14.721, sancionada pelo presidente Lula no início de novembro de 2023 e que entrou em vigor recentemente, garante esse atendimento. A partir de maio, pessoas grávidas e no puerpério (pós-parto) terão garantido o acesso a acompanhamento de saúde mental pelo SUS.

“Ao cuidar da saúde mental das gestantes, também cuidamos da saúde mental do bebê”, afirma a psicóloga Rafaela Schiavo, uma das pioneiras da Psicologia Perinatal e da Parentalidade no Brasil e fundadora do Instituto MaterOnline.

Faltam psicólogos especializados

Apesar de a nova lei garantir o direito ao acompanhamento psicológico pelo SUS, a falta de profissionais na área é um grande obstáculo. Atualmente, o Brasil conta com mais de 519 mil psicólogos, mas apenas uma pequena fração possui especialização em psicologia perinatal.

“Precisamos aumentar urgentemente o número de psicólogos perinatais para atender à demanda das gestantes e puérperas. Menos de 1% dos psicólogos no país atuam nessa área.  Sem psicólogos perinatais suficientes, muitas dessas mulheres não recebem o suporte necessário”, afirma a psicóloga“, alerta.

  1. As sessões podem ser em grupo, comuns no pré-natal psicológico, envolvendo rodas de gestantes e pais. Também podem ser realizadas sessões para casais, famílias ou individuais. A quantidade de consultas depende de vários fatores, incluindo o profissional, o paciente e a situação específica.

5 benefícios da nova lei de amparo psicológico a mães

Katherine Sorroche, psicóloga especialista em saúde mental da mulher e parentalidade, avalia que o direito ao acompanhamento psicológico gratuito chega para facilitar a lida com diversas das dificuldades enfrentadas desde o planejamento da gravidez, até o pós-parto.

“O ciclo gravídico-puerperal, que compreende desde o desejo de ter um filho (ou não), passando pela gestação, parto e puerpério, é um período que desencadeia diversos processos psíquicos na mulher, e na família”, conceitua.

Ela aponta cinco contextos em que a mulher se beneficiará do amparo psicológico.

1-Transformação interna

Ela entende que a sanção da lei facilita a visibilidade e dá espaço para mudanças internas transformadoras. “Gestar traz não somente mudanças físicas, como também mudanças internas profundas, tornando essencial olharmos e cuidarmos dos medos, anseios e angústias”, observa.

2-Sutilezas que afetam mãe e bebê

Katherine ressalta a importância da lei na condução do amparo levando em conta o contexto social, financeiro, conjugal, afetivo e emocional da mulher. ” Desde a concepção, esses fatores interferem diretamente na saúde mental da mãe, no vínculo mãe-bebê e na formação do psiquismo da criança”, amplifica a especialista.

3-Informação como prevenção

Outro ponto que a psicóloga destaca como benefício da lei é o fato de que as mulheres terão mais acesso ao que pode acontecer com a mente delas durante esse período, o que tende a ajudá-las a lidar melhor com essas situações, caso aconteçam de fato.

“Ter assistência psicológica durante a gestação, parto e puerpério é efetivo tanto para o diagnóstico, manejo e tratamento de transtornos perinatais (depressão gestacional, depressão pós-parto e transtorno de ansiedade), como também é um grande aliado na prevenção destes e outros transtornos”, explica a Katherine.

4-Mais segurança e confiança

Katherine pondera, ainda, que mesmo sem transtornos diagnosticados, a característica educativa dessa iniciativa deve suavizar todo o processo de vivência da maternidade, da relação com o bebê e dos cuidados com a criança.

“Receber informação acerca do puerpério fisiológico e emocional, da mudança de vida após a chegada do bebê e a respeito das necessidades fisiológicas, psicológicas e afetivas do bebê certamente contribuem e muito para que essa mulher atravesse o puerpério de forma mais segura e confiante”, avalia.

5-Melhor lida com gravidez de risco
“A assistência psicológica também é um grande aliado quando há gestação de risco, contribuindo para a compreensão maior da dinâmica que se estabelece, bem como para alívio da sobrecarga emocional”, lembra a psicóloga.

O amparo psicológico, segundo Katherine, poderá ocorrer após avaliação e encaminhamento do profissional de saúde no pré-natal e no puerpério, de acordo com o prognóstico.

  1. Quais são os principais desafios enfrentados pelas gestantes?

    O atendimento em Psicologia perinatal pode variar conforme o caso e as necessidades individuais. A especialidade lida com diversas questões que afetam a saúde mental das gestantes e puérperas:

    Gestações não planejadas: mulheres que têm dificuldade para aceitar que vão se tornar mães;

    Luto perinatal: aborto ou morte neonatal;

    Ansiedade durante a gravidez;

    Depressão pós-parto;

    Dificuldade de criar vínculo com o bebê.

  1. 5 dicas para cuidar da saúde mental na gestação

    Para ajudar as gestantes a entenderem e acessarem esse tipo de apoio, a psicóloga Rafaela Schiavo dá as seguintes dicas:

    1. Converse com seu obstetra: peça indicações de psicólogos perinatais ou de onde buscar atendimento gratuito.
    2. Participe de grupos de apoio organizados por instituições de saúde: compartilhar experiências com outras gestantes pode ser muito benéfico
    3. Cuide de si mesma: dedique tempo para atividades que promovam o bem-estar emocional e físico
    4. Informe-se sobre seus direitos: a nova lei garante suporte psicológico gratuito pelo SUS. Procure se informar sobre como acessar esses serviços.
    5. Esteja atenta aos sinais de depressão e ansiedade: se necessário, procure ajuda profissional.

Com Assessorias

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