Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas no mundo, totalizando 9,3% da população. De acordo com a Associação Internacional de Gerenciamento de Estresse Brasil (Isma-BR), cerca de 70% da população ativa do país já experimentaram ou apresentam sintomas de estresse. Estudo da International Stress Management (ISMA) considerou a força de trabalho brasileira como a segunda mais estressada do mundo. De acordo com a pesquisa, 72% dos trabalhadores brasileiros sofrem de estresse e 32%, de síndrome de burnout.
O estresse, quando sentido de forma recorrente, pode gerar problemas para a nossa saúde. Por ser tão importante, tem até uma data para chamar de sua: em 23 de setembro é o Dia Mundial de Combate ao Estresse. A data representa a luta contra esse mal em crescente predominância na sociedade e nos faz lembrar da necessidade de cuidar da nossa saúde mental e promover a atenção às alternativas para driblar essa condição.
É importante chamar atenção para os danos que este pode causar para a saúde. O estresse pode ser causado por uma variedade de situações: seja de natureza física (extremos de temperatura), conhecido como estresse térmico, química (uso de substâncias psicoativas), psicológica ou social, como a perda de algum ente querido, e a vida cotidiana, seja no trabalho ou em ambiente pessoal.
É importante compreender que não é possível erradicar o estresse, por isso a importância da atenção para os sinais que o corpo registra. O estresse exacerbado pode desencadear doenças cardiovasculares, entre diferentes manifestações (sensações e distúrbios físicos com forte carga emocional e afetiva), fadiga (desgaste da energia física ou mental) e psíquicas (depressão, síndrome do pânico, síndrome de Burnout).
Como desligar o botão ‘on’ e desacelerar
O estresse é um mecanismo fisiológico adaptativo do corpo, e é necessário para a vida, possibilitando as tomadas de atitude de maneira mais ágil. Sem ele, os seres humanos se tornam lentos, procrastinadores, pouco ativos e não sobrevivem em ambientes com mais hostilidade e dificuldades.
A grande questão é quando a ativação desse estresse é repetitiva, contínua e sem interrupção, gerando problemas de saúde. Fazendo uma analogia, é como se ligássemos um interruptor no modo “ON” em relação ao estresse e, a partir daí, ele estivesse continuamente ativado, sem desligar.
A médica intensivista e paliativista, Carol Sarmento, explica que, por ser um mecanismo fisiológico, é impossível viver sem estresse, zerá-lo na vida, acabar com ele. “Quando entendemos essa vida moderna sob constante pressão, tal qual uma panela de pressão, urge a necessidade de descomprimir. Se não diminuir a tensão interna, a gente explode, quebra, deixa de funcionar adequadamente”, explica Carol.
Tantas informações no dia a dia, fatores estressores, falta de capacidade de relaxar, sono de qualidade ruim, maus hábitos e ansiedade recorrente são exemplos de atitudes que colocam a mente em um sistema estressor. A metáfora da panela de pressão reside no fato de entender que, já que o sistema precisa descomprimir, que tal escolher a maneira de diminuir a pressão?
“Se eu não agir, ela vai despressurizar de alguma maneira, e pode ser que isso impacte diretamente a saúde mental, te levando na rota da depressão, ansiedade, burnout, insônia, risco de doença cardiovascular, comportamentos compulsivos e/ou abusivos, e por aí vai”, explica a médica responsável pelo Projeto Cuida.
Descomprimindo a panela de pressão: nossa mente
Entendendo que o estresse mexe com o físico, com o comportamento, o psicológico e o mental, é simplório achar que ele influencia somente em um aspecto.
“O estresse mexe em tudo, e nos sentimos afetados de maneira completa e ampla. Isso leva à alteração de comportamento e atitudes não desejáveis em ambientes de convivência coletiva. Seja onde moramos, no trânsito, no trabalho, nas nossas famílias e dentro da nossa casa. Certamente, influencia muito quem está perto, na convivência cotidiana e na nossa rede de apoio diária”, explica a médica hematologista especialista em abordagem integrativa, Regina Chamon, que também integra o Projeto Cuida.
O desgaste decorrente pelo “modo estresse ativado” tem influência direta no corpo. Os sintomas físicos podem ser: dor no corpo, fadiga, cansaço, indisposição, perda de ânimo e queda da libido, tensão muscular no pescoço e nas costas, alteração no sono, bruxismo, queda de cabelo, formigamento nas mãos; e sintomas comportamentais.
Entre eles estão compulsão alimentar, aumento do consumo de nicotina, irritabilidade, comportamento explosivo e agressivo, ansiedade, choro fácil, depressão, sensação de solidão, assim como a perda da capacidade de concentração, queda na produtividade, alteração na memória, dificuldade em executar hobbies e atividades que antes eram executadas com facilidade e dificuldade de aprendizado.
Conheça os males que o estresse causa ao seu organismo
Especialista cita as principais questões provocadas por esse sentimento, bem como maneiras de prevenção
Segundo o Ministério da Saúde, o estresse é uma reação natural do organismo que ocorre quando vivenciamos situações de perigo ou ameaça. Esse mecanismo nos coloca em estado de alerta ou alarme, provocando alterações físicas e emocionais.
“Na prática estamos em contato direto e contínuo com situações corriqueiras que podem ser interpretadas pelo nosso cérebro como estressantes: trânsito, trabalho, filas, relacionamentos”, afirma o neurologista Iron Dangoni Filho.
O estresse causa consequências negativas no cérebro das pessoas. O especialista cita algumas a seguir:
- Aumenta as alterações psiquiátricas, com destaque para a ansiedade. “Tanto é, que a maioria das pessoas se consideram ansiosas atualmente”, alerta;
- Piora o sono, causando principalmente insônia, devido ao estado de hiperalerta, em que o cérebro “não para”;
- O estresse também é o responsável pela principal causa de dor de cabeça – a cefaleia tensionai;
- De forma indireta o estresse aumenta o risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC) – também conhecido como derrame, uma vez que aumenta o risco de fatores cardiovasculares: pressão alta, diabetes, colesterol elevado, entre outros;
- Leva a mudanças no comportamento, como piora do temperamento explosivo;
- Causa problemas de memória devido a piora da concentração e da atenção.
O médico explica que quando há prejuízo da qualidade de vida a pessoa deve consultar com um especialista. “Ele vai direcionar o tratamento medicamentoso para alguma patologia específica, destacando-se o transtorno de ansiedade, síndrome do pânico, transtorno depressivo, cefaleia tensional, insônia e fibromialgia”, exemplifica o neurologista, que atende em Goiânia.
Formas para prevenir o estresse
Para evitar situações estressantes, é recomendável realizar atividades de autocuidado como respiração profunda e automassagem; evitar o uso de celulares antes de dormir; alimentar-se corretamente; e praticar atividades físicas. Manter contato com amigos e família e administrar o tempo, intercalando as atividades laborais e de lazer, também é essencial para uma rotina menos estressante.
Para Regina, é possível escolher, todo dia, a melhor maneira de descomprimir e tomar parte ativa na prática do que ajudará a diminuir a pressão do sistema.
“A dica é praticar atividade física, melhorar a qualidade da alimentação, praticar relaxamento, exercitar a criatividade, ter contato com a natureza, liberar o lado lúdico, investir em práticas mente-corpo como yoga e respiração, buscar assistência psicológica profissional, fazer terapia, apostar na qualidade das relações, incrementar medidas de higiene do sono, tudo o que faça a gente viver melhor e diminuir a pressão interna da nossa mente”, completa.
O neurologista Iron Dangoni Filho ressalta que para o estresse a busca por alternativas naturais e saudáveis uma prioridade para muitos é preciso se basear principalmente em medidas de prevenção.
“Atividades físicas regulares e atividades relaxantes como yoga e meditação. Leitura, tanto como relaxamento quanto como estímulo cognitivo. Ter hobbies, com atividades prazerosas e momentos de descontração. Além de terapia, que vale para todos, uma vez que cada um tem conflitos internos e externos únicos”, salienta o especialista.
“Quando estou muito atarefada no trabalho, não penso duas vezes: corro pra ficar com os gatinhos do projeto. É a minha válvula de escape, onde esqueço dos problemas por uns minutos, para voltar ao batente revigorada. Como adoro animais, estar com eles é a minha “terapia” favorita”, conta Ana Paula, que, inclusive, já adotou um gato.