Há quase três anos, Sulamita Ferreira e Lucas de Farias tiveram suas vidas transformadas a partir do nascimento do pequeno Jonatas, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. No entanto, a pouca interação do menino com outras crianças e o atraso na fala, fizeram os responsáveis buscarem ajuda para entender o comportamento do filho.

Após procurarem uma unidade municipal de saúde, os pais conseguiram atendimento gratuito para Jonatas no Centro Estadual de Diagnóstico para o Transtorno do Espectro Autista (CedTEA), que funciona no  bairro da Gávea, zona sul do Rio de Janeiro.

No início a gente não queria muito aceitar a condição dele. Mas com o tempo, entendemos melhor que apenas por meio do diagnóstico vamos garantir que ele tenha o tratamento adequado e acesso aos seus direitos, como a identificação de pessoa com autismo”, contou Sulamita, mãe de Jonatas.

Assim como os pais do Jonatas, outras famílias fluminenses podem contar com o suporte oferecido pelo CedTEA, inaugurado em abril deste ano. O atendimento inicialmente é feito de forma escalonada, por idades, e os pacientes são acolhidos por uma equipe multidisciplinar composta por neurologista, fonoaudiólogo, psicólogo, nutricionista, assistente social, fisioterapeuta e terapeuta ocupacional.

De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES),  o CedTEA tem capacidade para 100 novos pacientes a cada mês. Atualmente, 137 crianças estão sendo atendidas no espaço para investigação do diagnóstico de transtorno do espectro autista. Os atendimentos são destinados a crianças de 18 meses a adolescentes até 17 anos.

Diagnóstico leva até cinco meses

O tempo para o diagnóstico é estimado pelos profissionais em aproximadamente cinco semanas após a regulação do paciente pelo Sistema Estadual de Regulação (SER). Após esse período, o paciente é liberado com as informações referentes aos níveis de autismo e a indicação do acompanhamento necessário

Além da entrega do laudo pela direção médica da unidade, que explica à família a condição da criança, são passadas pela equipe multidisciplinar, orientações sobre o manejo diário da criança de modo a já apoiá-los na evolução satisfatória para a continuidade do tratamento”, ressaltou Michelle Gitahy, superintendente de TEA da SES-RJ

Para ser atendido no espaço, o usuário precisa ser inserido no Sistema Estadual de Regulação (SER) por uma unidade municipal. O CedTEA espaço atende todos os 92 municípios do estado. Questionada, a Secretaria não informou se o estado oferece transporte gratuito para quem mora em outras partes do estado.

‘Casa de verdade’ para estimular autonomia de autistas adultos

Com quarto, sala e cozinha, o espaço oferece condições para a realização de atividades cotidianas

Quando chegou ao Centro de Atenção ao Transtorno do Espectro Autista (Catea), localizado na Gamboa, Centro do Rio de Janeiro, João Pedro Marinhode 20 anos, convivia com o desafio diário de se alimentar sozinho. Meses depois, a mãe Juciara Melo, comemora a evolução do rapaz, que começou a vencer diversas limitações com a rotina de acompanhamento semanal numa ‘casa de verdade’, onde ele pode treinar atividades cotidianas.

Antes do João vir para o Catea, ele não se alimentava e nem ia ao banheiro sozinho. A brincadeira no balanço da praça era difícil porque ele não conseguia se equilibrar. A autonomia dele melhorou muito depois que ele passou a ser atendido aqui, foi um divisor de águas pra ele e pra nossa família”, contou orgulhosa.

Em um espaço que simula uma casa, o Catea dispõe de móveis e eletrodomésticos como cadeiras, microondas, armários, além de utensílios, como talheres adaptados. Uma equipe multidisciplinar, formada por fisioterapeuta, psicólogo e terapeuta ocupacional, estimula pessoas com TEA a desenvolver sua autonomia para tarefas do dia a dia.

Eles recebem instruções de como manusear garfos, colheres e pratos, além de como se equilibrar para realizar as refeições. Iniciativa do Centro Psiquiátrico do Rio de Janeiro (CPRJ) em funcionamento desde o ano passado, o Catea é referência no atendimento a adultos com autismo.

A unidade atende atualmente 25 pacientes por semana, todos individualmente, que chegam ao projeto por meio da Central Estadual de Regulação (CER). Além do suporte aos adultos com autismo, pais e responsáveis recebem acompanhamento psicológico como suporte.

O Catea surgiu a partir da necessidade de um atendimento mais individualizado aos pacientes com TEA, que antes chegavam ao CPRJ e tinham muita dificuldade de se adaptar por conta das alterações sensoriais, que potencializam o barulho, por exemplo, e causavam desconforto. Com um espaço apropriado para eles se sentirem acolhidos, conseguimos estimular a independência funcional desses pacientes para que eles possam ter mais independência no seu dia a dia”, explica a coordenadora do Catea, Eni da Silva. 

Espaço reservado aos autistas no Detran-RJ

Outra novidade foi a inauguração, neste Dia do Orgulho Autista (18 de junho), da Sala de Acomodação do Detran.RJ, que funciona em um espaço cedido para a Fundação Leão XIII e oferece um ambiente para acomodar as necessidades sensoriais das pessoas com TEA, sejam crianças ou adultos.

A iniciativa busca dar mais conforto aos autistas que aguardam a emissão de documentos e também diminuir a ansiedade enquanto esperam atendimento. No novo espaço, os usuários terão à disposição fones protetores de ruído individuais, climatização da sala e iluminação controlada. A expectativa é expandir a iniciativa para outros municípios fluminenses.

Para familiares de crianças e adultos autistas que buscam espaços mais inclusivos, a iniciativa sinaliza uma importante etapa de acolhimento. Bruno França de Assumpção, de 14 anos, foi a primeira pessoa com autismo a fazer a carteira de identidade especial na nova sala de acomodação.

O menino gostou tanto do espaço que não queria mais ir embora. Ficou brincando com os bonecos, os carrinhos e os brinquedos interativos enquanto se acalmava para cada etapa do processo de identificação.

Hoje, nosso primogênito tirou sua primeira identidade. Estamos felizes e impressionados com a sala inclusiva”, comemorou Jefferson Tavares de Assumpção, pai de Bruno, ao lado da esposa, Raffaela França de Assumpção, que disse que fará um espaço parecido em casa.

Thaisa Guedes de Lima, mãe da pequena Maria Elisa Guedes, de 6 anos, comentou: “Agora vamos poder levar nossos filhos sem passar por constrangimento. Aos pais de autistas, eu recomendo que eles venham ver de perto a sala”.

Thaisa saiu do posto com o Cartão da Pessoa com Deficiência para a filha. Este documento especial é emitido pelo Detran.RJ para as pessoas com TEA e outras deficiências e contém a classificação da TEA, os remédios de uso contínuo e os contatos para casos de emergência.

Estado cria a ‘Superintendência do TEA’

Com o objetivo de aprimorar o cuidado com as pessoas com transtorno do espectro autista no estado do Rio de Janeiro, a SES-RJ criou no ano passado a Superintendência de Transtorno do Espectro Autista.

Por meio da iniciativa, mais de dois mil profissionais já participaram de inúmeros cursos voltados ao tema, especialmente para a aplicação da escala Modified Checklist for Autism inToddlers (M-CHAT);

O instrumento de rastreamento precoce é capaz de diagnosticar o autismo em pacientes TEA até os 30 meses (2,5 anos de idade). Além disso, a partir da criação da superintendência, há o mapeamento de toda a linha de cuidado presente nos 92 municípios do estado.

Pacto Estadual pela Inclusão de Pessoas com Deficiência

Neste Dia Mundial do Orgulho Autista (18/06), o Rio de Janeiro ganhou o Pacto Estadual pela Inclusão das Pessoas com Deficiência. O documento, assinado em cerimônia no posto acessível do Detran.RJ, em São Cristóvão, tem como objetivo fomentar políticas públicas que promovam a inclusão e a garantia da igualdade de direitos.

Queremos garantir a igualdade e os direitos das pessoas com deficiência.  Vamos continuar trabalhando para que essa causa saia da invisibilidade. Essa luta é de toda a sociedade. Ainda há muito a se fazer”, ressaltou o governador Cláudio Castro.

O pacto conta com a participação de diferentes secretarias e órgãos e vai desenvolver ações como a capacitação de servidores do Estado, o enfrentamento da violência contra mulheres com deficiência, a acessibilidade do aplicativo 190RJ para pessoas com deficiência visual, roteiro estadual do turismo acessível, entre outras iniciativas.

Com informações da SES-RJ

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