A cidade do Rio de Janeiro planeja um novo programa de combate à obesidade que vai oferecer medicamentos como a semaglutida e a liraglutida, inicialmente indicados para o controle da diabetes, mas que se popularizaram por causa do efeito da perda de peso. Os medicamentos – mais conhecidos pelos seus nomes comerciais, como Ozempic e Saxenda – são tratamentos caros, que chegam a custar mais de 1 mil reais por mês.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde,  a oferta dessas medicações na rede pública deve começar a ser feita a partir de 2026, mas um grupo de trabalho já foi criado para planejar a melhor estratégia de uso do medicamento. A expectativa do município é acabar representando uma economia para os cofres públicos.

Hoje o Rio de Janeiro gasta mais ou menos R$ 130 milhões por ano com internações provenientes de problemas com diabetes e obesidade. A expectativa é de que, com a semaglutida e um programa mais amplo de combate à obesidade, a gente consiga reduzir essas internações e possa de fato avançar cada vez mais na melhoria da qualidade de vida“, diz o secretário municipal de saúde Daniel Soranz.

De acordo com o secretário, a Prefeitura já está em contato com quatro laboratórios: a Novo Nordisk – que produz os três medicamentos à base de semaglutida (Ozempic, Rybelsus e Wegowy) e outros três que devem começam a fabricar o medicamento a partir da quebra da patente. Soranz garante que a medicação será oferecida dentro de um tratamento integrado.

O desenho clínico de acompanhamento do paciente vai ser a partir das Clínicas da Família. O médico da família vai definir qual o protocolo terapêutico. Se vai precisar tomar medicação, fazer dieta, exercício, se precisa de cirurgia bariátrica”. diz o secretário.

Liraglutida é utilizada no SUS em Goiás, DF e Espírito Santo

Apesar de ter causado algum alvoroço, a iniciativa carioca não é nova. A liraglutida já é utilizada em cidades de Goiás, Distrito Federal e Espírito Santo, e também faz parte de protocolos de tratamento do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia do Estado do Rio de Janeiro (Iede), do Hospital das Clínicas e do Instituto da Criança da Universidade de São Paulo (USP).

Ainda não há indicativo de incorporação dessas substâncias no Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2023, a fabricante Novo Nordisk pediu que a Comissão de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec), avaliasse a inclusão, mas o parecer foi negativo. Apesar dos estudos que mostram a eficiência do medicamento, a estimativa de impacto orçamentário foi considerada elevada: R$ 12,6 bilhões em 5 anos.

Mas esse cenário pode mudar num futuro próximo. Depois da queda da patente, outros laboratórios passaram a produzir medicamentos à base de liraglutida, e, em dezembro de 2024, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o uso no Brasil dos dois primeiros deles, produzidos pela EMS. Com mais concorrência, a tendência é de que o preço do medicamento diminua.

Já a semaglutida permanece como patente exclusiva da Novo Nordisk até março de 2026 e, por enquanto, não é usada por nenhum serviço público. Nas farmácias, o preço das ampolas de Ozempic para um mês de tratamento varia de R$ 800 a R$ 2 mil, dependendo da dosagem injetável.

A liraglutida é um pouco mais barata e pode ser comprada por cerca de R$ 700, mas exige aplicação diária, enquanto a semaglutida deve ser injetada uma vez por semana. O Rybelsus, em forma de comprimidos, custa mais barato, podendo custar a partir de R$ 500 a dose inicial de 3 miligramas e pouco mais de R$ 700 para doses superiores (de 7 e 14 miligramas). Cada caixa tem 30 comprimidos e o uso é de um por dia.

Molécula ajuda pacientes obesos no controle da saciedade

Karen de Marca, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), se diz otimista com a adoção dos medicamentos na rede pública do Rio e com a possibilidade de que isso inspire outros entes públicos na mesma direção.  Ela também é diretora técnica-assistencial do Iede, uma das unidades públicas do Brasil que já utilizam a liraglutida em alguns pacientes.

A endocrinologista considera que a adoção desses medicamentos no serviço público de saúde é uma estratégia interessante também pelos estudos que demonstram diminuição da mortalidade por doença cardiovascular, e das ocorrências de doenças crônicas como hipertensão arterial.

Quando a gente pensa em introduzir uma medicação no SUS, você tem que pensar no real benefício, para quem ela serve, quanto ela custa e o que ela vai economizar. Então se a gente pensar que é uma molécula bastante complexa, que consegue melhorar o controle glicêmico, controlar o peso e fazer uma perda de peso que pode chegar a até 25%, ainda por cima com benefícios cardiovasculares, que é a principal causa de morte dos pacientes diabéticos com obesidade, é muito interessante. E você diminui custos por internação cardiovascular, por complicações da diabetes, por amputação, com remédios para hipertensão, doença renal e outros.”

Karem explicou que essas medicações são da classe dos agonistas do GLP-1. Nos estudos se percebeu que ela conseguiu um bom controle glicêmico e também ajudou na manutenção dos níveis de insulina.

É uma molécula bem completa, nós temos receptores para essa molécula em diversos órgãos do corpo, desde o sistema nervoso central, onde ela ajuda às vezes no componente de saciedade. Por isso que a gente começou a perceber que além de controle do diabetes, ela também pudesse ser útil ao paciente com obesidade“, explica.

Da Agência Brasil, com Redação

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