Enquanto o Ministério da Saúde comemora avanços na vacinação de rotina contra o HPV para crianças de 9 a 14 anos, a estratégia de resgate vacinal para adolescentes e jovens de 15 a 19 anos registra um resultado alarmante: apenas 3% do público-alvo compareceu aos postos. Dos quase 6 milhões de brasileiros nessa faixa etária elegível, menos de 200 mil receberam o imunizante.

Em entrevista ao Portal VIDA E AÇÃO, a pediatra Ana Goretti Kalume Maranhão fez um balanço das ações de 2025 e detalhou as estratégias futuras do Ministério da Saúde para superar os desafios e alcançar a meta de vacinação contra o Papilomavírus Humano (HPV), um vírus que pode causar diversos tipos de câncer.

Funcionária de carreira do Ministério da Saúde e uma das principais especialistas em vacinação no Brasil, Ana Goretti representou o Programa Nacional de Imunizações (PNI) no Simpósio Câncer de Colo de Útero: O Brasil pode ficar sem, promovido pelo Instituto Lado a Lado pela Vida no último dia 5 de dezembro no Rio de Janeiro.

A representante do PNI reforçou que a vacina contra o HPV é essencial para prevenir cânceres totalmente evitáveis, como os de colo de útero, reto, orofaringe e anal. Em 2025, o Ministério da Saúde adotou a dose única para a faixa etária de rotina (meninos e meninas de 9 a 14 anos). Essa medida está alinhada com o compromisso de alcançar a meta de 90% dos jovens vacinados contra o HPV até 2030.

Dados de cobertura (2025):

  • Meninas (9 a 14 anos): Cobertura em torno de 83%, mais que o dobro da média mundial. No entanto, o desafio é garantir que a taxa de 90% seja atingida em todos os municípios, já que alguns estados ainda estão abaixo de 50%.

  • Meninos (9 a 14 anos): Cobertura de 71%, que ainda precisa ser muito melhorada.

Além disso, a estratégia de resgate vacinal para adolescentes e jovens de 15 a 19 anos, adotada para dar chance aos que nunca se vacinaram, ainda enfrenta grandes dificuldades. O último levantamento mostrou que, dos quase 6 milhões de adolescentes nessa faixa, menos de 200 mil foram vacinados, o que corresponde a apenas 3% do público-alvo.

Assista à entrevista completa: Ana Goretti, pediatra do Ministério da Saúde, avalia ações de vacinação contra HPV

Estratégias para alavancar a vacinação em 2026

O grande desafio reside em vacinar o adolescente, que muitas vezes “acha que não adoece” e não procura a unidade de saúde. Para 2026, as ações do Ministério da Saúde visam superar essa barreira, trabalhando em conjunto com diversos setores:

  1. Ações extramuros e criatividade: Os estados e municípios estão sendo orientados a fazer ações extramuros, indo aonde o jovem está, como escolas, estádios de futebol, ou mesmo baladas noturnas, para vaciná-los. Os serviços de saúde precisam ter mais tempo e criatividade para atender o público adolescente

  2. Parceria com profissionais de saúde: É fundamental trabalhar com sociedades científicas e equipes de saúde. Segundo Ana Goretti, o médico tem um papel importantíssimo, pois quando ele prescreve ou indica a vacina, as famílias levam seus filhos para vacinar.

  3. Mobilização social: A colaboração com organizações não governamentais (ONGs), como o Instituto Lado a Lado pela Vida, a Fundação Eva e a Fundação do Câncer, é crucial, pois elas têm um grande poder de mobilização da sociedade.

  4. Combate às fake news: A disseminação de informação de qualidade para mostrar a importância e a segurança da vacina é prioritária. O recado é procurar sempre se informar em sites oficiais, como os do Ministério da Saúde, da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e de sociedades médicas, para não escutar fake news.

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Recado para os jovens

Ainda na entrevista ao Vida e Ação, a pediatra finalizou com um apelo direto aos jovens de 15 a 19 anos que ainda não compareceram para o resgate vacinal, lembrando que a vacina é gratuita e garantirá um futuro com mais saúde:

Eu diria: não marquem bobeira. Se vocês querem ter um futuro saudável, um futuro que vocês possam realizar todos os seus sonhos, que vocês não sofram com esse tipo de câncer relacionado ao HPV, a hora de se vacinar é agora. E não é só as meninas: meninos e meninas. Meninos também sofrem as consequências desse câncer: o câncer de pênis, o câncer anal, o câncer de orofaringe.”

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