Você já ouviu falar em aquendação, uma prática usada entre as travestis, cross dressers, drag queens e mulheres trans para esconder o órgão genital, puxando-o para trás, entre as nádegas? Pois este processo, feito de forma rudimentar, com a utilização de colas, fitas adesivas e barbantes, provoca assaduras, bolhas, dores e ferimentos.

Também impossibilita o uso regular do banheiro já que desfazer a aquendação é extremamente dolorido, demorado e trabalhoso. Assim, mulheres trans passam horas sem beber água na tentativa de adiar este momento. A consequência inevitável são os problemas renais, que podem levar a infecções, pedra nos rins, necessidade de hemodiálise e, em casos mais severos, à morte.

Recentemente, o assunto veio à tona com uma campanha da marca Trucss, lingerie para mulheres trans, que lançou em abril uma calcinha que promete ajudar na hora da aquendação, sem prejudicar na hora do xixi. Veiculada na TV Record e repostada nas redes sociais da apresentadora Sabrina Sato, a campanha causou muita controvérsia e falas preconceituosas nas redes sociais.

“Eu me aquendava com fita crepe. Se ficasse qualquer volume, meus colegas falavam alguma coisa. Eu não conseguia ir ao banheiro, evitava ao máximo beber água. Era cansativo, me machucava, chegava a assar, a dar alergia. Mas eu não tinha escolha”, diz Melina Queiroz, de 22 anos, modelo.

Mas o relato poderia ser de várias outras mulheres transexuais que vivem ou viveram situação semelhante. Pessoas que não tiveram escolha. Seja por incômodo, disforia de gênero ou para se proteger da violência no país que mais mata trans do mundo, aquendar é uma prática usada entre pessoas trans que as ajuda a se conectar com seu corpo.

“É um modo de sobrevivência. Ao esconder a protuberância, elas se protegem de olhares discriminatórios e da intolerância”, afirma o médico urologista Marcelo Magalhães, especializado em saúde LGBTQIA+, ao explicar que a principal causa de problemas urinários são os hábitos.

“Beber pouco líquido deliberadamente para não ir tanto ao banheiro e segurar a urina por muito tempo podem levar a infecções urinárias e formação de cálculos urinários. É o que acontece com as pessoas com pênis que escondem o genital e evitam o trabalho de ir ao banheiro, por exemplo”.

Calcinha em forma de funil para mulheres trans e travestis

Ao tomar contato com essa realidade, a técnica em hemoterapia Silvana Bento não se conformou. “Saber que várias mulheres transexuais chegavam ao ponto de ter que fazer hemodiálise ou se submeter a cirurgias por causa disso, mexeu comigo”, conta.

Motivada pela perda de uma amiga nessas condições, Silvana desenhou e patenteou uma calcinha em forma de funil, criada especificamente para esse público. Com um design extremamente confortável, fácil de colocar e tirar, o modelo traz a segurança e o conforto necessários para o dia a dia.

O lançamento da novidade  joga holofote em uma alternativa que reúne estilo, design, saúde, segurança e sofisticação em um produto simples, que pode ajudar a mudar a realidade de uma população invisibilizada.

“Nosso objetivo é conseguir ganhar escala para baratear o produto e possibilitar que o maior número possível de mulheres trans se sinta confortável e possa fazer o básico de qualquer ser humano, que é ir ao banheiro sem dificuldades,” conclui Silvana, mostrando que, agora, as mulheres trans têm escolha.

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