Aos 65 anos de idade e 40 de uma carreira marcada por inovação e reinvenção, Madonna fará de seu megashow no Rio de Janeiro neste sábado (4) uma celebração não apenas de sua música e legado artístico, mas também de sua capacidade de desafiar as normas sociais e inspirar gerações.
Mais do que isso, o espetáculo também traz ensinamentos sobre etarismo, o velho e arcaico preconceito contra pessoas por sua idade. Madonna sabe bem o que é isso. Ao longo de sua carreira, ela é um exemplo de alguém que se mantém em ótima forma física e, mesmo assim, sofre constantes críticas relacionadas a sua idade.
No Grammy Awards 2023, a cantora causou estranhamento no público após aparecer com o rosto supostamente inchado. Alguns creditaram a diferença a um possível excesso de intervenções estéticas. Na ocasião, a rainha do pop mostrou perplexidade por ter sido reduzida apenas à sua aparência, e desabafou nas redes sociais:
“Mais uma vez, sou pega no brilho do preconceito de idade e da misoginia que permeia a sociedade em que vivemos. Um mundo que se recusa a celebrar a mulher que passa dos 45 anos e sente a necessidade de puni-la se ela continuar obstinada, trabalhadora e aventureira”.

Mulher Abacaxi se inspira em Madonna na transição e assume idade

“Madonna vive a vida sem se importar com a opinião dos outros”, diz mulher trans de 50 anos

Sem dúvida, Madonna é ícone mundial e referência de comportamento para centenas de milhares de fãs, principalmente mulheres acima dos 50 anos, mas para o público LGBTQIAPN+ ela é mais que especial. Muitos, inclusive, a chamam de ‘mãe’. 

Marcela Porto, conhecida como Mulher Abacaxi, sempre foi fã da rainha do pop e conta que se inspirou nela em sua transição de gênero. Também foi por influência que se rendeu aos procedimentos cirúrgicos e até mudou a cor do cabelo.

“Fiquei loira por causa da Madonna e minha primeira prótese, quis no estilo da dela, em formato de gota”, revela a caminhoneira e influenciadora de 50 anos. Ela diz que mentia sobre a data de nascimento, mas ter um ídolo como Madonna a fez refletir.

Madonna tá linda aos 65 anos. Podia estar aposentada, mas está lá, esbanjando beleza. Me inspirei nela e em outras famosas para revelar minha verdadeira idade. A pessoa pode pegar matérias minhas antigas, eu nunca saía dos 33. Hoje sei que idade é apenas um número” (risos), afirma a nova musa da Tradição, escola de samba do Rio que vai desfilar na Série Ouro em 2025.

Para a Mulher Abacaxi, Madonna reforça a representatividade para a comunidade LGBTQIAPN+.

“Não é à toa que Madonna é esse ícone para nossa comunidade, porque ela é sinônimo de aceitação, de liberdade, de ser quem é. Era muito difícil se aceitar e ser aceito nesta sociedade tão preconceituosa. E ela vive a vida sem se importar com a opinião dos outros. Gostamos, muito mais que a música dela, do que ela representa”, comenta.

A moradora de Maricá está empolgada para o show de Madonna no Rio. “Vou ficar na casa da minha irmã em Copacabana e chegar cedinho. Estou muito ansiosa. ‘um grande momento para nós fãs e para o estado do Rio’, finaliza.

Lição contra o preconceito à idade nas empresas

Se a única certeza da vida é envelhecer ou morrer, o passar dos anos não deveria ser tão complicado. Mas é. Muita gente sofre preconceito principalmente no mercado de trabalho depois de cruzar a barreira dos 50 anos – muitas vezes até bem antes disso. Geralmente após os 40 as oportunidades vão se tornando mais restritas, a despeito da experiência e dos conhecimentos acumulados ao longo da vida. 
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o número de pessoas com idade superior a 60 anos chegará a 2 bilhões até 2050. Por isso, é fundamental tratar sobre o tema de etarismo, não apenas no âmbito pessoal, mas também das organizações. Para especialistas no mundo corporativo, o etarismo é um tema relevante e atual, que deve estar na pauta sobretudo das empresas.
Débora Paiva, professora do curso de Diversidade, Equidade e Inclusão em Organizações da Trevisan Escola de Negócios, diz que assistir Madonna no palco tem um significado muito maior para a “geração prateada” que acompanha sua carreira e deve servir de inspiração também para as empresas.

A voz do empoderamento feminino

Madonna sempre usou sua voz e a influência de sua música para levar uma mensagem de empoderamento feminino desde os anos 80, quando nem se usava esta expressão. Ao longo de sua carreira, desafiou normas de gênero e quebrou barreiras culturais. Sua performance no Rio de Janeiro reforça a importância de celebrar a independência e a autenticidade de todas as mulheres, inclusive as trans.
Para Débora Paiva, em um país que exclui economicamente pessoas em virtude de preconceito e estereótipos negativos relacionados à idade (etarismo), ter uma mulher de 65 anos em um palco é uma excelente oportunidade de reflexão sobre como os processos de atração e contratação precisam ser mais inclusivos.
“O aumento da longevidade é uma grande conquista coletiva da humanidade e Madonna no palco nos lembra que precisamos celebrar isso. Empresas podem aprender a importância de promover uma cultura onde as mulheres sintam-se capacitadas a ocupar espaços de liderança, expressar suas opiniões e serem valorizadas por suas contribuições, sem medo de julgamentos ou discriminação de gênero”, afirma a especialista.

Palavra de Especialista

O que podemos aprender com Madonna?

Por David Braga*

 

Usualmente, somos ágeis em criticar e definir o que é certo ou errado, bom ou mau, de acordo com as nossas crenças, educação e cultura. Como uma artista controversa e inovadora, Madonna tem sido alvo de críticas desde o início de sua carreira. Ao mesmo tempo, ela também é amplamente reconhecida e admirada como uma das maiores estrelas pop de todos os tempos.

Assim é a nossa vida. Sempre haverá aquele que está pronto a criticar e lançar opiniões que diz muito mais sobre quem critica, do que quem é criticado. É importante lembrar que as pessoas que criticam muito frequentemente têm tendência a encontrar falhas e pontos negativos em tudo, sobretudo nas outras pessoas.

Se você está lidando com alguém assim, é importante lembrar que as críticas frequentes são geralmente uma expressão de insegurança ou insatisfação pessoal, e não têm nada a ver com você. Proteja-se emocionalmente e não deixe que as críticas afetem sua autoestima ou sua visão de si mesmo. Ao fazer isso, você pode proteger sua saúde emocional e manter relacionamentos positivos e saudáveis.

Então, o que podemos aprender com Madonna?

Em primeiro lugar é preciso promover o autoconhecimento, pois quando você se conhece, entendendo suas qualidades e pontos a melhorar, não fica refém das opiniões alheias, pois você sabe exatamente quem é e não se afetará com as críticas. 

Da mesma forma, é preciso saber que toda ação tem uma reação, logo entender quais os impactos de suas ações e decisões é muito importante, pois assim você conseguirá prever o que vem por aí. 

É também preciso promover o autocuidado neste mundo onde as críticas têm sido acentuadas. Sua saúde e bem-estar têm bastante importância, mas muitos acabam se esquecendo disso. É preciso resistência para aguentar a rotina de trabalho, cheia de estresse físico e mental. 

Pensar de maneira diferente, questionando sempre o status quo é também fundamental, e isso sabemos que a artista fez, lançando tendências, quebrando paradigmas e se diferenciando dos demais artistas.

É certo que você encontrará pessoas pessimistas em sua jornada para o sucesso, mas você não deve desistir. Neste caso é importante pontuar sobre etarismo, presente em todas as esferas e ambientes, até mesmo em nossos lares.

Tal qual aos demais preconceitos existentes (racismo, homofobia, machismo, sexismo, capacitismo, transfobia etc), é preciso discutir, trazendo clareza e expurgar este tipo de comportamento, algumas vezes velado, outras de forma escancarada. 

Em um mundo em que a diversidade tem sido amplamente aplicada, é contraditório querer ditar regras, por exemplo, de que as mulheres mais velhas precisam se comportar de acordo com a sua faixa etária.  E o que seria viver de acordo com a sua idade? Cada qual precisa viver de forma leve, equilibrada e como quer e não para agradar ao outro.  

Que possamos praticar mais a empatia e reduzir nossas críticas, até porque que jogue a primeira pedra quem seja perfeito. Busque a melhoria contínua, seja melhor hoje do que foi ontem. A vida está cada vez mais curta. Então, viva a sua vida ao invés de viver a vida alheia.

No mais, o show deve continuar – e esta é uma das principais lições que podemos aprender com Madonna. Quando ela cai durante uma apresentação, ela levanta e continua sem perder o seu ritmo. Então, se você cair, criticando ou sendo criticado, levante-se e prossiga, sempre buscando ser alguém melhor.

*David Braga é CEO, board advisor e headhunter da Prime Talent, empresa de busca e seleção de executivos, presente em 30 países pela Agilium Group. É conselheiro de Administração e professor convidado pela Fundação Dom Cabral; além de conselheiro da ABRH MG, ACMinas e ChildFund Brasil. Instagrams: @davidbraga | @prime.talent

Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!
Shares:

Related Posts

2 Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *