cigarro

Que o cigarro é extremamente prejudicial à saúde todo mundo já sabe. Mas o que muita gente desconhece é que os seus danos causam impacto não só aos pulmões, mas também a todo o corpo, inclusive à saúde bucal e aos olhos. Por conta do fumo, por exemplo, pacientes com inflamações das gengivas (gengivites) têm até quatro vezes mais chances de evoluírem para a perda de osso ao redor dos dentes (periodontites).  Os fumantes também apresentam duas vezes mais riscos de desenvolver catarata e duas a três vezes mais chances de sofrer com degeneração macular relacionada à idade.

A cirurgiã-dentista Katyuscia Lurentt explica que o fumo é um depressor da resposta de defesa do organismo. Isso abre portas para que infecções da boca tenham repercussões piores que as imaginadas. Além disso, o tabaco causa pigmentações dentárias e halitose, além de ser a substância mais relacionada ao desenvolvido do câncer de boca. Como exemplo, em sua fumaça já foram detectadas mais de 60 substâncias carcinogênicas.

De acordo com a especialista, quadros de infecção, queimaduras da mucosa, halitose, erosão dentária e até câncer fazem parte da extensa lista de problemas legados à cavidade bucal pelo consumo excessivo de álcool, tabaco e drogas alucinógenas. “No Brasil, são registrados 10 mil novos casos de câncer de boca por ano, levando ao óbito cerca de 3.500 pessoas. É uma incidência bastante alta”, afirma a especialista, destacando que o uso e determinadas substâncias pode, ainda, interferir diretamente em tratamentos clínicos, prejudicando, assim, os resultados esperados.

Para os fumantes diabéticos, a atenção com a saúde ocular também precisa ser redobrada. A oftalmologista Kátia Mello, diretora do Centro da Saúde Ocular Kátia Mello, em Duque de Caxias (RJ), explica que uma das áreas mais atingidas pelo tabagismo é a retina, já que é uma região muito vascularizada. “O diabético que fuma eleva a incidência de neovascularizações e edema macular, aumentando o risco de doenças vasculares associadas à retinopatia diabética como a trombose venosa, oclusão arterial e o glaucoma neovascular”, esclarece a médica.

Cigarro também pode provocar catarata e até cegueira

A catarata — opacidade da lente natural do olho — é uma doença que se não for tratada pode levar à perda da visão. Entre os sintomas estão sensação de visão embaçada ou com névoa, sensibilidade à luz e alteração da visão de cores. Com a progressão da doença, as pessoas poderão enxergar apenas vultos. Já a degeneração macular relacionada à idade, embora atinja mais os idosos, assim como a catarata, pode surgir precocemente em pessoas que possuem hábitos nocivos à saúde, como o de fumar, por exemplo. Essa doença afeta a área central da retina (mácula), provocando baixa visão central, dificultando principalmente a leitura. A detecção precoce e os cuidados médicos podem auxiliar no controle do problema.

O tabagismo também pode potencializar ou agravar o glaucoma — lesão do nervo óptico relacionada à pressão ocular alta —, já que, segundo estudos, a pressão interna do olho é reduzida quando a pessoa deixa de fumar.  Existem ainda indicativos de que o cigarro pode agravar a oftalmopatia de Graves, doença relacionada ao hipertireoidismo, na qual um ou os dois olhos se projetam anteriormente nas órbitas, deixando-os com a aparência de “saltados”. Outro inconveniente para os olhos de fumantes, e não fumantes, é a irritação provocada pela fumaça do cigarro, que piora os sintomas de quem sofre com olho seco. Lacrimejamento excessivo, queimação e prurido são algumas das manifestações oculares de quem apresenta essa síndrome.

A fumaça do cigarro também pode ser um irritante para pessoas que possuem conjuntivite alérgica, muito comum em crianças e adolescentes. “Por todos os malefícios à saúde, o ideal é a conscientização do paciente de que o melhor é parar de fumar. Porém, diante de dificuldades para largar o hábito, é importante que ele se oriente sobre as possibilidades de controle e cessação do tabagismo e procure atendimento médico com equipe especializada”, orienta a oftalmologista Kátia Mello.

Efeitos de outras drogas na saúde bucal

A cirurgiã-dentista Katyuscia Lurent lembra que o Brasil é uma das nações que mais consomem cocaína e derivados no mundo. Embora os efeitos do uso continuado dessas substâncias – e de outras, como anabolizantes e maconha, e, até esmo, drogas lícitas, como o tabaco e o álcool – sejam bastante conhecidos, as ocorrências assustam, e não é de hoje que o país vive uma batalha intensa no combate às drogas. De problemas físicos e psicológicos à dificuldade de autocontrole e ausência de motivação, o abuso dessas substâncias pode, ainda, causar, prejuízos graves à saúde bucal.

Um exemplo desse quadro é a anestesia local utilizada em alguns procedimentos. Associada ao uso de cocaína, ela aumenta consideravelmente os riscos de complicações cardiovasculares em pacientes dependentes, como explica o cirurgião bucomaxilofacial Augusto Pary. “A cocaína é um agente simpatomimético, que estimula a liberação do neurotransmissor noradrenalina e inibe sua recapturação nas terminações nervosas. Em doses suficientes, a substância induz hipertensão arterial, taquicardia, isquemia, arritmia ventricular e até o infarto do miocárdio”, alerta.

Segundo ela, alguns sinais permitem ao cirurgião-dentista constatar o uso de drogas pelo paciente. Por isso, é de suma importância que o cirurgião-dentista seja informado sobre qualquer tipo de droga consumida, independente da dosagem. Caso o especialista suspeite da veracidade das informações, alguns sinais físicos característicos podem ser observados nesse grupo de pacientes: euforia, agitação, tremores, dilatação das pupilas, alteração no ritmo cardíaco e lesões de pele na região ventral do antebraço ou na mucosa nasal.

Katiyuscia listou ainda os danos causados por outras drogas, além do tabaco. Confira:

– Anabolizantes: os anabolizantes são drogas sintéticas hormonais, que imitam os efeitos do hormônio masculino testosterona ou do hormônio de crescimento GH, produzidos naturalmente pelo organismo. São geralmente usados em academias, com  a finalidade de aumentar a massa muscular e reduzir o percentual de gordura do corpo.

Os anabolizantes com efeitos semelhantes à testosterona podem causar sérios problemas faciais aos usuários, especialmente às mulheres. Ao reduzirem a quantidade de gordura nos tecidos, essas substâncias provocam um aplainamento das maçãs do rosto e aumentam o volume de alguns músculos, como, por exemplo, em torno dos lábios e dos ângulos mandibulares. Consequentemente, resultam em uma aparência masculinizada. Alterações nas cordas vocais também são bem comuns, assim como o crescimento excessivo de pelos pelo corpo.

Já as substâncias com efeitos similares ao GH causam ainda mais problemas esqueléticos. Usadas em excesso, podem levar a acromegalia, síndrome caracterizada pelo claro alongamento do queixo e da mandíbula. As cartilagens sofrem alterações, resultando no aumento do nariz e das orelhas. A arcada dentária inferior também pode se projetar a frente da arcada superior, causando um sério problema de mordida, chamado prognatismo mandibular. No entanto, os dentes continuam do mesmo tamanho, o que resulta em diversos espaçamentos. Além dos problemas faciais, o uso contínuo de anabolizantes pode levar à dormência nas extremidades, sonolência, cefaleia, sudorese excessiva e hipertensão.

– Cocaína: O uso inalatório da cocaína é o mais comum. Em casos mais graves, pode ocorrer a perfuração do septo nasal, assim como a destruição do palato (céu da boa), resultando em uma comunicação entre nariz e boca, que provoca a regurgitação da comida. O nariz também pode sofrer uma grande deformação externa. Outras complicações comuns incluem rinite crônica, sinusite, sangramento nasal e ossificação.

– Maconha: os usuários da maconha sofrem com maior risco de patologias, como as cáries e as doenças periodontais. Alguns estudos recentes relacionam o uso da droga ao aumento das chances de desenvolvimento do câncer de boca. O atendimento odontológico a esses pacientes não deve ser realizado durante o efeito da droga, pois o uso de epinefrina no anestésico pode potencializar a taquicardia.

– Álcool: por ser uma substância que desidrata, pode provocar irritação na mucosa bucal e despertar a sensação de ardência e secura da boca. Além disso, favorece o mau hálito, tanto pelos efeitos bucais gerados, como pela agressão ao aparelho digestivo e ao fígado. O uso crônico pode resultar em problemas hepáticos graves, que dificultam a metabolização de diversas medicações.

– Ecstasy: esses pacientes têm maior tendência ao bruxismo e, como consequência, sofrem com o desgaste do esmalte dentário, com retrações gengivais e boca seca. Antes de receberem anestesia local, os usuários devem informar ao dentista o uso recente da substância, pois sua pressão pode estar bastante alterada.

Fonte: cirurgiã-dentista Katyuscia Lurentt e Centro Katia Mello

 

 

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