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Para quem, como eu, já fumou, não é difícil associar o vício do cigarro a outros hábitos, como beber um cafezinho ou um chope. Na tentativa de aliviar o estresse, muita gente apela para um chopinho no fim do dia e, quando se é fumante, a vontade vem na hora. Tenho amigos, inclusive, que só fumam quando bebem. Eu quando fumava era uma das poucas que não ligava para o café, mas chegava a devorar dois maços de cigarro – o dobro do meu consumo diário – numa inocente noite de celebração em torno de uma mesa de bar ou numa festa de amigos.

Mas o conselho dos especialistas é claro: estes gatilhos devem ser evitados e o ponto de partida para esta mudança é o desejo do fumante em abandonar o vício. Não há nada mais fundamental na vida de quem deseja parar de fumar do que o esforço e a vontade própria de deixar esse hábito. E quem disse que é fácil ou basta querer está enganado. É preciso uma série de ações de apoio e um ambiente favorável para se abandonar o vício.

“Estratégias motivacionais, conduzidas por especialistas e apoiadas por familiares e amigos, são essenciais para fortalecer o desejo do fumante em abandonar o vício. Uma alternativa que tem sido aplicada no consultório é a exposição dos benefícios obtidos ao deixar o fumo, além das doenças que podem ser evitadas. Há casos em que é preciso associar o tratamento medicamentoso, para retirar gradualmente a nicotina do corpo, para que o ex-fumante não tenha abstinência”, explica Renato Azambuja, pneumologista do Hospital Barra D’Or.

A prática de atividades físicas também é uma forte aliada no combate ao fumo, pois gera a sensação de bem-estar e prazer similares com as que a nicotina desperta no cérebro. Também o acompanhamento nutricional é indicado, para que a compulsão por alimentos não ocorra para compensar a ansiedade. Estas medidas contribuem para evitar o aumento do peso, que acontece em alguns casos.

É preciso, muitas vezes, acompanhamento profissional das fases do processo de cessação do tabagismo, que podem ser muito estressantes, mesmo para aquele paciente que está decidido a parar de fumar. “O acompanhamento de psicólogo e nutricionista tem o objetivo de dar suporte a essas pessoas em todo o ciclo que envolve essa escolha, prevenindo a troca do vício por uma compulsão alimentar, por exemplo”, destaca Igor Bastos Polonio, coordenador do Centro de Atenção ao Tabagismo do Hospital Samaritano Higienópolis (SP).

Segundo ele, não há quantidade segura de nicotina que uma pessoa possa consumir por dia. “A partir de um cigarro, a incidência de infarto, por exemplo, aumenta. Já os benefícios da cessação do tabagismo ocorrem em qualquer idade e sempre há redução de risco das doenças relacionadas ao tabaco, que são mais de 60, como alguns tipos de  câncer e enfisema pulmonar”, explica Polônio, que é doutor em Pneumologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e professor da Faculdade da Santa Casa de São Paulo.

O mais importante, portanto, é a prevenção. “A melhor forma de prevenção é não fumar. Caso esse hábito já exista, abandoná-lo o quanto antes é o primeiro passo para evitar não apenas este tumor, como também os localizados na cavidade oral, na laringe, no esôfago, na bexiga, no pâncreas e no estômago”, destaca a oncologista clínica do Grupo Oncologia D’Or, Tatiane Montella.

Câncer de pulmão tem relação direta com o cigarro

Especialistas asseguram que grande parte da população tem ciência de que o fumo é o grande inimigo da saúde do pulmão. No entanto, muitos permanecem reféns desse hábito por diversos motivos. O câncer de pulmão tem relação direta com o consumo de derivados de tabaco em 90% dos diagnósticos da doença. Entre os 10% restantes, um terço é dos chamados fumantes passivos – no mundo, sendo responsável por ampliar em cerca de 20 vezes o risco de surgimento da doença. Os dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) alertam para aos riscos do hábito de fumar e reforçam a importância do Dia Nacional de Combate ao Fumo, lembrado em 29 de agosto.

Números do Inca revelam ainda que o câncer de pulmão é o mais comum de todos os tumores malignos, com estimativa de 28.220 novos casos em 2016, além de apresentar aumento de 2% por ano na sua incidência mundial. O tabaco pode aumentar em cerca de 30 a 40 vezes o risco de desenvolver o câncer de pulmão ao longo da vida, inclusive fumantes passivos que têm cerca de duas a três vezes mais chances de ter esse tipo de neoplasia.

Além disso, o mau hábito aumenta as chances de desenvolver ao menos outros 13 tipos de câncer: de boca, laringe, faringe, esôfago, estômago, pâncreas, fígado, intestino, rim, bexiga, colo de útero, ovário e alguns tipos de leucemia. Apesar destes dados não serem novidade, o país ainda registra um elevado número de casos de neoplasias malignas entre a população fumante.

“Por isso, eliminar esse hábito ajudará a mudar e salvar vidas, principalmente ao conscientizar as pessoas em relação aos benefícios imediatos e em longo prazo do abandono do cigarro. Poucos têm conhecimento, por exemplo, de que pressão arterial, frequência do pulso e temperatura de mãos e pés ficam normalizadas em apenas 20 minutos depois de parar de fumar“, adverte o oncologista e diretor da Oncoclínica RJ, Carlos Augusto Vasconcelos de Andrade.

Para o médico, é imprescindível que o fumante esteja ciente de que o tabagismo, além da redução do orçamento, está associado a outras doenças silenciosas e incuráveis: “Além de prejudicar o bolso, o hábito de fumar afeta o bom funcionamento de todo o organismo, uma vez que está relacionado a doenças crônicas não transmissíveis, como enfisema pulmonar, sendo, ainda, uma importante condição de risco para o desenvolvimento de outras enfermidades, tais como – infecções respiratórias, impotência sexual, infertilidade em mulheres e homens, infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral”, orienta o diretor da Oncoclínica.

Fonte: Oncologia D´Or, Oncoclínica RJ e Hospital Samaritano (SP)

 

 

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