Em 13 anos de Novembro Azul, a campanha ganhou algumas referências marcantes, como o bigode no laço azul, e a prevenção do câncer de próstata tornando esta doença o principal foco da saúde do homem cisgênero, não contemplando um importante público: a comunidade LGBTQIA+ no Brasil.
Embora não haja dados sobre a população trans brasileira, estima-se que a prevalência mundial de pessoas trans seja 4,6 em cada 100 mil pessoas, sendo maior entre as mulheres trans (6,8 por 100 mil) do que entre os homens trans (2,6 por 100 mil), conforme posicionamento conjunto da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem e Sociedade Brasileira de Patologia Clínica.
Para a endocrinologista Elaine Costa, coordenadora do Programa de Atendimento e Capacitação de Profissionais para o manejo de pessoas transgênero da Divisão de Endocrinologia do Hospital das Clínicas, a campanha ainda precisa avançar e incluir os homens transgênero, já que esse grupo exige acompanhamento e cuidados específicos e nem sempre tem acesso aos serviços de saúde.
Tanto em seu consultório quanto nos centros de referências para o atendimento de pessoas que buscam os procedimentos necessários para o processo de adequação ao gênero, a especialista recebe indivíduos procurando atendimento e orientação para obter um acompanhamento multidisciplinar especializado em saúde integral de pessoas transgênero.
“Uma das etapas do processo de adequação ao gênero é a hormonioterapia. Os homens trans por exemplo, devem fazer acompanhamento laboratorial por meio de exames de sangue, densitometria óssea e monitoramento de doenças metabólicas, hematológicas e cardiovasculares que podem estar associadas ao uso do hormônio masculino. Para aqueles que ainda não realizaram histerectomia (retirada do útero), ooforectomia (retirada dos ovários) e mastectomia (retirada das mamas), exames como US pélvico ou transvaginal, mamografia e colpocitologia oncótica são fundamentais na prevenção de cânceres ginecológicos”, reforça a especialista, que é credenciada da Care Plus..
A campanha é uma ferramenta importante na conscientização sobre prevenção de doenças que mais impactam a população, mas deve ser mais inclusiva e abrangente – ainda há muito a ser feito. Apenas em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) desconsiderou a transexualidade como uma doença mental e, no CID 11, foi denominada como incongruência de gênero e considerada uma condição associada a saúde sexual – que foi uma grande conquista. Já em alguns países da Europa e no Estados Unidos, a saúde das pessoas trans recebe maior atenção, mas ainda há a necessidade de melhorias.
No Brasil, os serviços ainda estão sendo estruturados na rede particular e ainda dependem muito da aprovação das empresas contratantes para a liberação de serviços extra rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), estruturação esta necessária e urgente, uma vez que há poucos Centros de Referência que oferecem atendimento integral gratuito para pessoas trans. Costa salienta ainda que o primeiro passo é a oferta de atendimento multidisciplinar de profissionais de saúde qualificados e, no caso da rede particular, os planos oferecerem cobertura a todos os procedimentos clínicos e cirúrgicos necessários.
Para o CEO da Care Plus, Luiz Camargo, os planos de saúde precisam estar atentos e acompanhar a realidade dos beneficiários, adequando os serviços a suas necessidades de acordo com o rol aprovado pela ANS, a fim de oferecer atendimento adequado para aqueles que buscam ser reconhecidos pela sua identidade de gênero. “Assim, podemos ajudar as pessoas a terem vidas mais longas, saudáveis e felizes”, pontua.
Segundo ele, acompanhando a necessidade e interesse de clientes e beneficiários, a Care Plus tem trabalhado para atender a suas demandas, como a oferta de equipes multidisciplinares para o acompanhamento psicológico e médico das pessoas trans, e ainda estuda ampliar a oferta de serviços mais complexos que envolvem cirurgias de adequação genital e harmonização facial, por exemplo.s