Pesquisa inédita, realizada por especialistas da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), revela que cerca de 25% dos médicos de família não seguem qualquer protocolo em relação ao rastreamento do câncer de mama. Entre ginecologistas e obstetras, aproximadamente 33% consideram o rastreamento entre 50 e 69 anos; 43% veem a necessidade do exame dos 40 aos 75 anos; 24%, no entanto, não seguem qualquer protocolo.
Atualmente, dois protocolos regem o rastreamento mamográfico no País: o do Ministério da Saúde, que preconiza o rastreamento bianual dos 50 aos 69 anos de idade, e o protocolo da Sociedade Brasileira de Mastologia, Federação Brasileira das Associações de Ginecologia Obstetrícia e do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem que recomenda exame anual para mulheres entre 40 e 75 anos.
Para o mastologista Marcelo Antonini, membro da Comissão de Tratamento Sistêmico da SBM Regional São Paulo, embora mostre que aproximadamente 75% dos médicos de família se alinham à recomendação do Ministério da Saúde, a pesquisa evidencia um cenário preocupante. “Equivale a dizer que um quarto dos médicos que estão na linha de frente do rastreamento do câncer de mama no País não sabe a forma correta de fazê-lo”, afirma o coordenador da pesquisa.
O rastreamento mamográfico no Brasil, ressalta Antonini, não é organizado e, sim, oportunístico. “Depende de a paciente procurar um serviço, passar por consulta com médico geral, ginecologista ou médico de família para que a mamografia, principal exame de rastreamento, seja solicitada”, diz.
Outra revelação interessante, segundo o especialista, é o fato de 39% dos ginecologistas e obstetras e 20% dos médicos de família considerarem o ultrassom de mamas como parte do rastreamento. “O ultrassom de mamas, na verdade, é um exame complementar à mamografia.”
Erros em diagnóstico em quase 78% dos médicos de famílias
O estudo destaca uma questão crítica em relação à formação inadequada de ginecologistas, obstetras e médicos de família e medicina preventiva no Brasil. Essa deficiência, constata a pesquisa, leva a interpretações incorretas do BI-RADS – o sistema Breast Imaging Reporting and Data System, um padrão utilizado mundialmente para rastreamento e relatório de câncer de mama.
A falta de adesão às diretrizes do sistema pode resultar em diagnóstico tardio ou manejo inadequado dos casos de câncer de mama. “Surpreendentemente, houve 46,3% de respostas incorretas entre ginecologistas e obstetras e 77,9% entre médicos de família, revelando alta taxa de interpretação incorreta do BI-RADS”, alerta Antonini.
Diante de um achado clínico suspeito de câncer de mama, a pesquisa revela uma conduta não ideal dos médicos. “O correto é solicitar a biópsia e complementar com exames de imagem”, diz o mastologista. “A grande maioria acaba pedindo somente o exame de imagem ou encaminha a paciente a outro especialista. Esta conduta representa um atraso no diagnóstico e, consequentemente, no tratamento.”
Abordar as lacunas de conhecimento e aprimorar as práticas no rastreamento do câncer de mama, com médicos preparados para seguir protocolos padronizados são fundamentais, na visão de Antonini.
Essas medidas representam um aprimoramento na qualidade do atendimento oferecido às mulheres brasileiras e na detecção de uma doença que deve chegar ao fim deste ano com aproximadamente 74 mil novos casos, segundo estimativa do Inca (Instituto Nacional de Câncer)”, conclui o mastologista.
Mais sobre a pesquisa
O estudo avalia o conhecimento de ginecologistas, obstetras e médicos de família sobre o rastreamento mamográfico no Brasil. Com base em respostas de 5.310 ginecologistas e obstetras e 2.700 médicos de família, o trabalho oferece ainda percepções acerca de condutas em casos clinicamente suspeitos de câncer de mama.
De acordo com o mastologista Marcelo Antonini o estudo é fundamental à medida que revela necessidade de educação continuada e treinamento dos médicos que estão à frente do rastreamento da doença. “Isso é essencial para diminuir os impactos sobre a mortalidade por câncer de mama no País”, afirma.
A pesquisa “Knowledge related to breast cancer screening programs by physicians in Brazil”, liderada por Marcelo Antonini, com a participação de Gabriel Duque Pannain, Gabriela Silva Solino de Souza, Odair Ferraro, Andre Mattar, Reginaldo Guedes Coelho Lopes e Juliana Monte Real, foi publicada no periódico científico Einstein, do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein (Hospital Israelita Albert Einstein).
O questionário da pesquisa foi enviado, via e-mail, WhatsApp e SMS a 9 mil ginecologistas e obstetras e a 5.600 médicos de família e medicina preventiva. Do total, 59% dos ginecologistas e obstetras participam da pesquisa. Entre os médicos de família são 48,2% respondentes.
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A Sociedade Brasileira de Mastologia enfatiza que a mamografia, diferentemente das fake news, é cientificamente comprovada como o método mais seguro para a detecção precoce do câncer de mama para a maior faixa da população. A SBM recomenda que mulheres a partir dos 40 anos realizem mamografias anuais, uma medida essencial para garantir a saúde e o bem-estar das brasileiras.
O câncer de mama é uma realidade que afeta milhares de mulheres, e, até 2025, são esperados 74 mil novos casos em brasileiras. Por isso, é fundamental que ações como as do Outubro Rosa continuem ao longo do ano”, afirma Tufi Hassan, mastologista e presidente da SBM. Ele ressalta que o diagnóstico precoce é essencial para aumentar as chances de cura e garantir melhor qualidade de vida para as pacientes.
Neste ano, o combate à desinformação está no centro da campanha Outubro Rosa. “Vivemos em tempos desafiadores no combate à desinformação, especialmente em relação ao câncer de mama. Infelizmente, notícias falsas estão se disseminando rapidamente, como a alegação absurda de que o câncer de mama não existe ou que a mamografia causa câncer — o que é uma mentira perigosa”, adverte o presidente da SBM.
O Outubro Rosa de 2024 consolidou-se como um marco de conscientização sobre o câncer de mama no Brasil, com centenas de iniciativas que envolvem a sociedade e reforçaram a importância da prevenção e do diagnóstico precoce. Neste ano, pela primeira vez, diversas sociedades médicas se uniram em uma campanha ampla, levando a mensagem para públicos ainda maiores.
Um dos destaques deste ano é a parceria com a Mauricio de Sousa Produções, que trouxe a Turma da Mônica para as ações do movimento. Com leveza e empatia, a presença dos personagens tornou o tema acessível para diferentes gerações, ampliando o impacto das mensagens sobre a importância da prevenção e do autocuidado.
O presidente da SBM reforça que as ações de conscientização devem ultrapassar o mês de outubro. “Precisamos manter a conscientização viva durante todo o ano, para que as mulheres possam viver mais e com mais qualidade de vida”, conclui Tufi Hassan.
Com informações da SBM