Ana Karoline Freitas, de 21 anos, foi diagnosticada como autista nível 1 de suporte aos 19. Ela conta que o diagnóstico foi tardio, mas mudou a sua vida completamente. “Eu estava há dois anos em tratamento psiquiátrico e psicológico, sem conseguir nenhuma melhora efetiva porque os médicos tratavam apenas como depressão e ansiedade”, conta.
Apesar do avanço na abordagem terapêutica do seu caso, ela revela que já enfrentou um certo preconceito devido ao grau leve de autismo que apresenta e que a faz, inclusive, usar o cordão de girassol, que serve para identificar pessoas com esta condição.
Já ouvi muitas vezes que não era autista de verdade, que agora todos são nível 1 de suporte e que não mereço direitos por ser um pouquinho mais autista que o resto das pessoas”, disse.
Para ela, a mudança na nomenclatura de Asperger para TEA foi importante para contribuir com o entendimento de que todos necessitam de atenção, independentemente do nível de autismo.
Mostra que nós, autistas, somos diferentes, mas continuamos autistas. A distinção, seja por nome ou por nível de suporte, faz as pessoas acreditarem que exista alguém mais ou menos autista. Muitos invalidam adultos autistas por terem um nível de suporte menor ou por terem sido classificados antes como Asperger”.
Ana também comemora a desvinculação do TEA a uma terminologia problemática, que veio de um médico nazista que acreditava em autistas funcionais, reiterando a ideia de que uma pessoa só é importante se estiver de acordo com padrões impostos de socialização, trabalho e comportamento”.
‘Diagnóstico de autismo raramente vem isolado’, diz estudante de Psicologia
Leonardo Sampaio tem 22 anos e é estudante de psicologia. Há cerca de um ano, foi diagnosticado como autista nível 1 de suporte. Como a identificação foi feita recentemente, ele não chegou a ouvir de especialistas a expressão síndrome de Asperger. A suspeita inicial era de transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), mas, ao longo da investigação, outras características apontaram para o TEA.
O diagnóstico de autismo raramente vem isolado e foi muito importante para entender meus limites e barreiras sociais, além de aprender a lidar melhor com eles”, disse.
Segundo ele, o entendimento de muitas questões que antes não faziam sentido sem o diagnóstico foi fundamental. “Aprender a lidar comigo mesmo e descobrir que posso ser mais funcional dessa forma melhorou muito minha autoestima”, completou.
Para o jovem, a mudança de nomenclaturas era necessária. “Criava uma espécie de hierarquização e diferenciação dentro do diagnóstico, algo que, não à toa, quando analisamos a raiz do nome, descobrimos que o termo síndrome de Asperger foi uma homenagem a um médico que colaborou com o regime nazista e com a ideia de eugenismo, na busca pela raça perfeita”.
Acredito que uma síndrome separada fortalecia a crença popular de que o indivíduo com Asperger tem menos prejuízos do que uma pessoa com autismo. Isso atrapalhava reivindicações por acessibilidade, pesquisa e direitos. Enxergar o autismo como um espectro é importante para enfatizar que, independentemente do grau de suporte da pessoa, ela segue com critérios diagnósticos que devem ser respeitados”, avalia.
Da Agência Brasil, com Redação