Casos de sucesso, como a separação de dois gêmeos que nasceram unidos pelo cérebro, por meio de uma série de cirurgias que durou dois anos, e o recente caso do bebê operado ainda dentro da barriga da mãe projetaram o Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer (IEC), sediado no Rio de Janeiro.

Única unidade pública especializada em neurocirurgia do Brasil, o hospital – que  atende exclusivamente a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) – também se destaca por dispor de tecnologias avançadas, como o Gamma Knife, aparelho de radiocirurgia que cura tumores sem a necessidade de cortes.

 Instituto Estadual do Cérebro. Foto Marcelo Regua

Agora, o instituto está realizando pesquisa pioneira que reproduz células vivas de tumor cerebral, em busca de um caminho mais eficaz para o combate ao câncer. O estudo inovador no Brasil é liderado por cientistas do IEC do Rio de Janeiro, em parceria com pesquisadores da Universidade de Paris VI, na França.  

Na pesquisa, é realizada a retirada de uma pequena parte do câncer (glioblastoma), um tipo bastante agressivo e responsável por boa parte das mortes por esse tipo de doença. Um processo de cultura, em estufa sob agitação, leva à clonagem do tumor vivo – exatamente igual ao que estava no paciente. A técnica facilita a análise de cada parte da célula cancerígena, permitindo que se avalie a melhor maneira de combater a doença.

O diretor-científico do IEC e doutor em neurobiologia, Vivaldo Neto, explica que estudar cada célula do tumor maligno – além de o conjunto de células e moléculas que são recrutadas ou liberadas pelas células tumorais – dará agilidade para a cura do câncer. Os testes de reprodução já começaram a ser realizados em cobaias.

Conseguimos separar as células que queremos trabalhar. Tratando a célula de maneira isolada, podemos atacá-la e descobrir qual irá morrer, com o ataque de um vírus ou com o medicamento mais efetivo para combater o tumor”, explicou Neto.

Rio vai receber novo acelerador linear para reforçar a assistência oncológica no SUS

Cinco aceleradores lineares e dois aparelhos de braquiterapia serão distribuídos em sete estados para ampliar o acesso à oncologia nas cinco regiões do país

O estado do Rio de Janeiro será contemplado com um dos cinco aceleradores lineares que o Ministério da Saúde vai instalar em hospitais públicos no Brasil. O equipamento deverá ser destinado ao Instituto Estadual do Cérebro, que vem se destacando em pesquisas para o combate ao câncer. Mais dois aparelhos de braquiterapia foram adquiridos por meio do Plano de Expansão da Radioterapia (PER-SUS), que vão fortalecer a rede pública de saúde e ampliar a oferta de radioterapia em todas as regiões do país.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reforçou o compromisso da pasta com a assistência oncológica ao anunciar a aquisição de novos equipamentos destinados ao tratamento do câncer no Sistema Único de Saúde (SUS). Ao todo, sete estados serão contemplados: Rio de Janeiro, Pernambuco, Mato Grosso, Paraná, São Paulo, Amapá e Bahia. Os equipamentos, que serão armazenados inicialmente em Guarulhos, no galpão da empresa FocusLog, entrarão em funcionamento no segundo semestre de 2025, conforme a conclusão das obras de instalação. Durante o ano de 2025, serão entregues 35 novos aceleradores.

Com a chegada dos novos aceleradores lineares e aparelhos de braquiterapia, nossa expectativa é ampliar a cobertura e reduzir o tempo de espera para o tratamento oncológico no SUS. Isso significa salvar mais vidas. Esses equipamentos modernos vão permitir mais atendimentos, em menos tempo, funcionando inclusive em três turnos em algumas unidades”, disse Padilha, durante agenda em São Paulo, na última sexta-feira (11).

A maior rede pública gratuita de prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer do mundo

Ao comentar as estratégias mais amplas da pasta para fortalecer o cuidado oncológico no país, o ministro ressaltou que o Governo Federal está trabalhando em todas as frentes para consolidar a maior rede pública gratuita de prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer do mundo.  “Isso inclui desde o diagnóstico – com apoio à realização e análise de biópsias, muitas vezes via telemedicina – até o início do tratamento, seja quimioterapia ou radioterapia”, explicou o ministro.

Além disso, Padilha informou que a pasta está investindo na formação de profissionais especializados: médicos, enfermeiros, físico-médicos. “Sem esses profissionais, não conseguimos consolidar a rede de atendimento em cada canto do país. A estrutura é fundamental, mas o cuidado especializado é o que garante um tratamento digno e no tempo certo”, ressaltou o ministro.

O investimento total na ação ultrapassa R$ 90 milhões, somando custos com obras, equipamentos, projetos e fiscalização. Apenas os equipamentos representam R$ 20,8 milhões. A iniciativa faz parte do novo PER-SUS, relançado em 2024 por meio do Novo PAC, com foco na modernização do parque tecnológico e na substituição de 56 aparelhos obsoletos de radioterapia em hospitais de todo o Brasil.

Cirurgia dentro da barriga da mãe

Criado em 2013, o Instituto Estadual do Cérebro é a única unidade do país voltada ao tratamento de doenças neurocirúrgicas, como tumores, doenças vasculares e doença de Parkinson e também referência internacional em neurocirurgia de alta complexidade. Atualmente, o IEC realiza pesquisas em diversas frentes, como a que testa o uso do vírus da Zika no combate a células de tumor. Também está em estudo a constatação da presença de microRNA em pacientes com epilepsia medicamentosa resistente. 

Nathan, filho da operadora de caixa Tainá de Andrade, foi diagnosticado ainda na barriga com a síndrome de Chiari tipo 2, quando parte do cerebelo desce pelo canal vertebral do feto. Isso é o efeito de outra malformação: a mielomeningocele, que acontece nas primeiras semanas de gestação, quando o tubo que forma a medula não se fecha adequadamente e produz uma bolsa geralmente no fim das costas.

O bebê foi operado ainda dentro da barriga da mãe. Para isso, os médicos precisaram retirar o útero para fora do corpo da gestante, corrigir a medula do feto e recolocar tudo no lugar. A cirurgia de Nathan foi realizada por uma equipe da Maternidade Escola da UFRJ, em parceria com o Instituto do Cérebro.

Os obstetras abriram o abdômen da mãe, expuseram o útero e criaram um corte de 3,5 cm para que os neurocirurgiões pudessem acessar o bebê. A equipe do instituto, então, reconstruiu as camadas de membrana, músculo e pele do feto para cobrir a medula. Ao fechar a medula do feto, o líquido do canal vertebral fica contido e empurra, naturalmente, o cerebelo de volta à sua posição.

Você melhora a parte cognitiva. Melhorando a função motora, você melhora também a autoestima da criança. Quer dizer, você pode tirar ela de uma cadeira de rodas para uma criança que fique em pé”, explica a neurocirurgiã pediátrica Maria Anna Brandão.

IEC atendeu 10 mil pacientes nos primeiros meses do ano

O número de consultas ambulatoriais no Instituto Estadual do Cérebro, localizado no Centro do Rio, bateu recorde nos primeiros cinco meses de 2024, com mais de 10 mil pacientes atendidos. O número é cerca de 80% maior em relação ao mesmo período de 2023, quando foram realizadas 5.532 consultas. O Governo do Estado informou que investiu cerca de R$ 20 milhões na ampliação da unidade, com a construção das enfermarias no prédio anexo, que aumentou a quantidade de pacientes atendidos.

A expectativa é que consigamos realizar 240 por mês, o que daria mais de 2 mil cirurgias anuais. São cirurgias eletivas, programadas, de casos complexos. Com esse aumento, vamos também ampliar os diagnósticos. Vamos aumentar o escopo do instituto, mas sempre nos voltando para doenças mais complexas, que são mais difíceis de serem referenciadas”, afirma o diretor da unidade, Paulo Niemeyer.

A unidade conta com quatro salas de centro cirúrgico e mais de 800 profissionais, sendo mais de 170 médicos. A direção do IEC explica que o aumento no número de atendimento ocorreu após a ampliação. A unidade ganhou nova UTI pediátrica, enfermarias, ginásio de reabilitação com uma casa funcional, brinquedoteca, além de equipamentos de ponta. O encaminhamento para a unidade é feito por meio da Central Estadual de Regulação (CER).

 Depois da obra, criamos novos setores, como especialmente dedicado à oncologia, que é muito importante para a unidade. Os pacientes de oncologia vão passar pela quimioterapia e radioterapia dentro do próprio hospital, acelerando o tratamento”, disse o diretor-geral do IEC, André Pinto Gil.

Equipamentos de ponta

Os equipamentos médicos do IECPN são de última geração. O Gamma Knife, aparelho que realiza radiocirurgias no cérebro com extrema precisão e sem necessidade de incisões, recebeu uma atualização de ponta.

Com o upgrade, o equipamento, que realiza em média 22 cirurgias por mês, passou a fazer o tratamento de várias doenças até então não atendidas. No Brasil, existem quatro equipamentos Gamma Knife, e o IECPN é o único hospital público do país a possuir um. Além disso, é o hospital que faz o maior número de procedimentos com o aparelho.

Desde abril de 2022, o instituto conta com um eletroencefalógrafo 24 horas para mapeamento cerebral de pacientes com diagnóstico de epilepsia. O aparelho, que filma em HD, é o modelo mais atualizado do mercado. A unidade também ganhou im acelerador linear, aparelho utilizado no serviço de radioterapia, utilizado em diversos tratamentos.

Reconhecimento internacional

Instituto Estadual do Cérebro conquistou, em 2017, a Certificação Internacional da World Federation of Neurosurgical Societies (Federação Mundial de Sociedades de Neurocirurgia), que reconhece a unidade como centro de referência internacional para pós-graduação em neurocirurgia.

Nossa unidade atua também como importante instituição de ensino e pesquisa, com mais de 200 artigos publicados, inclusive com parcerias internacionais com países como Portugal, França e Reino Unido”, destaca o diretor Paulo Niemeyer. 

A visita de uma delegação do ministério da Saúde da Itália ao Instituto Estadual do Cérebro (IEC) pode ser o primeiro passo para um programa de cooperação Brasil-Itália no estudo das mais complexas doenças neurológicas. O ministro da Saúde italiano, Orazio Schillaci, se disse impressionado e manifestou interesse em atividades de trocas de experiências com centros de excelência italianos,

Sei que o Brasil tem hospitais de excelência, mas fiquei muito impressionado com o que vi aqui. É realmente um instituto com tecnologia de ponta. Acredito que podemos colaborar com os muitos centros de excelência que temos na Itália para desenvolver protocolos de cuidado compartilhados e melhorar a assistência aos pacientes”, declarou Schillaci

A comitiva contou também com o embaixador da Itália no Brasil, Alessandro Cortese, e o cônsul-geral da Itália no Rio de Janeiro, Massimiliano Iacchini,  “É uma visita muito importante para o instituto. Quando recebemos delegações estrangeiras, elas ficam encantadas ao ver toda essa tecnologia, toda a dedicação e os resultados que atingimos. E o que temos aqui, mostramos com muito orgulho. É um hospital exclusivamente para o SUS, um exemplo de qualidade”, avaliou o neurocirurgião Paulo Niemeyer. 

Com informações da SES-RJ e G1

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