Desde que foi confirmado o transplante de rim de Fausto Silva, de 73 anos, realizado na última segunda-feira (26), usuários da internet vêm debatendo sobre o suposto privilégio que o paciente teria tido para conseguir o órgão. O mesmo debate ocorreu em agosto de 2023, quando o apresentador passou por um transplante de coração em tempo recorde. Será, afinal, que Faustão ‘furou a fila’ do SUS?

Sobre as suposições que circularam Na internet, José Eduardo Afonso Junior, coordenador médico do Programa de Transplantes de Órgãos do Hospital Israelita Albert Einstein, onde o apresentador foi operado nas duas vezes, foi taxativo em entrevista à Isto É:

“Não existe ‘furar a fila’. Ela é controlada pela Central de Transplantes, e na mesma fila são pacientes do SUS e de hospitais privados. Existe ser priorizado por algum critério que exija a medida por risco de morte’.

O programa de transplantes é nacional e administrado pelo Sistema Único de Saúde. O SUS determina a escolha de um paciente para transplante e a compatibilidade do órgão disponível, de acordo com o cadastro, e isso determinará que a fila não seja por ordem de espera.

O médico defende que o Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde, que opera todos os procedimentos realizados de doação e recepção de órgãos no país – sejam em hospitais públicos ou privados – “é extremamente sério, justo e auditado não só por instituições públicas relacionadas à saúde mas também por instituições de cunho jurídico”.

“Então falar que alguém furou a fila é tão leviano quanto cruel, porque quem está na fila de espera e não consegue ter clareza das informações que vê em redes sociais, por exemplo, já sofre para caramba porque tem uma doença terminal e acaba sofrendo mais ainda porque se sente desprestigiado por não ter dinheiro ou algo do tipo”, declarou o médico.

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Faustão era o 13º paciente na fila do SUS e esperou 20 dias

A notícia sobre a internação de Faustão às pressas no hospital, inicialmente divulgada como se tivesse ocorrido na segunda e não no domingo – como posteriormente revelou o boletim médico – reforçou a suspeita entre internautas, que acusaram o apresentador de ter “furado a fila” para receber o órgão.

Embora não se soubesse que Faustão estava na fila – o apresentador quis manter segredo sobre a necessidade de um novo transplante -, desde que ele recebeu alta do hospital, em setembro de 2023, a equipe médica já o teria alertado sobre o procedimento.

No entanto, somente no dia 6 de fevereiro, exatamente 20 dias antes do transplante de rim, o paciente entrou na fila do SUS, como confirmou a Central de Transplantes do Estado de São Paulo. Segundo a central, critérios de seleção e prioridade tornaram Faustão o 13º na fila.

“A Central de Transplantes do Estado de São Paulo informa que o paciente F.S. foi inserido na fila para transplante em 6 de fevereiro e, seguindo resoluções estaduais, foi submetido ao transplante de rim na última 2ª feira (26.fev), cumprindo os critérios de priorização. F.S. encontrava-se como 13º na lista para o procedimento”, disse a secretaria de Saúde de São Paulo, em nota.

“De acordo com a Resolução Estadual SS 06 de 2019, são critérios de priorização: a) impossibilidade total de acesso para diálise, b) pós-transplante de outro órgão, c) pós-doação renal. Já os critérios de classificação de receptores potenciais para fins de transplante de rim são: compatibilidade HLA (genética), compatibilidade ABO (sanguínea), priorização e idade do doador.”…

‘Transplante de rim é mais tranquilo’, disse Faustão

Antes mesmo do transplante cardíaco, Faustão fazia hemodiálise por conta de uma doença renal crônica desenvolvida por causa da insuficiência renal, que o levou a precisar do novo coração.

Já em casa, ele manteve o tratamento, com sessões de diálise três vezes por semana – não foi divulgado se o procedimento era feito em casa ou em alguma unidade hospitalar, o que é o mais comum.

O comunicador falou pela primeira vez sobre o seu estado de saúde nesta terça (27). No quarto, contou que está otimista sobre sua cirurgia e espera deixar o hospital em breve.

“Mais uma semana e estou em casa, liberado. Para quem fez um transplante do coração, o de rim é mais tranquilo”, disse Faustão, que já estaria conversando normalmente com familiares.

Como funciona a fila para transplante de rim?

À Istoé, José Eduardo Afonso Junior explicou que, ao contrário das filas para transplante de outros órgãos, a de rim não segue somente a ordem cronológica. Neste caso, o que vale é o “contexto médico”.

“Na fila dos rins, um dos critérios de distribuição é o critério imunológico. Nós temos, geneticamente, um ‘código de barras’ que se chama HLA, e podemos, durante a vida, criar anticorpos contra o HLA de outras pessoas”, disse o médico.

Ele explicou que essa situação é particularmente comum em pessoas que necessitam de um novo rim, já que quem tem insuficiência renal crônica muitas vezes tem anemia e recebe transfusões de sangue.

“Não é incomum ter pacientes chamados de sensibilizados, que têm anticorpos contra o HLA de outras pessoas. No caso dos rins, faz-se também a distribuição de acordo com a compatibilidade imunológica. Quando o potencial doador vira doador, seu sangue é coletado para que seja determinado o HLA e a distribuição dos órgãos é feita, então, para um receptor que seja compatível imunologicamente, não só para quem estava há mais tempo na fila do transplante”, continua o especialista.

Ainda segundo ele, no caso de pacientes com painéis de anticorpos HLA idênticos, a fila cronológica é a que vale. Apesar disso, essa fila é priorizada em situações específicas, como quando um paciente não tem acesso venoso para que seja realizada a hemodiálise ou quando já teve outro órgão transplantado — que é o caso de Faustão. Isso porque, muitas vezes, os medicamentos ingeridos no pós-operatório são tóxicos aos rins.

Transplante de um doador vivo é folclore, diz médico

José Eduardo relata ainda na reportagem que, mesmo quando o paciente já tem um doador compatível na família, ele deve entrar na fila de transplantes. “É preferível para não submeter uma pessoa viva a uma cirurgia para retirada do rim”, explica.

Pode-se receber o rim de um doador vivo desde que ele seja um parente de primeiro grau do paciente e preencha todos os critérios de compatibilidade. “São transplantes com hora marcada, mais preparados, e por isso também costumam ter resultados melhores”, completa.

No caso de doadores que não sejam parentes de primeiro grau, o médico pontua: “Só é permitido que um doador não aparentado doe o rim para outra pessoa se houver uma autorização judicial e uma aprovação do comitê de bioética do hospital que vai realizar o transplante.”

O objetivo dessa medida é evitar que haja conflito de interesse em uma doação, como, por exemplo, o uso de recursos financeiros para adiantar a cirurgia. Segundo José Eduardo, “não existe qualquer chance de alguém vender o rim para uma pessoa. Isso é coisa folclórica.”

Com informações da IstoÉ

 

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